Segundo um repórter da revista Época, as investigações levadas a efeito na Operação Lava-Jato da
Polícia Federal revelaram importantes descobertas sobre os relacionamentos
entre o doleiro que já se encontra preso, por seu envolvimento no esquema fraudulento
com recursos públicos, e, em especial, o mundo político tupiniquim, a exemplo
da afetuosa troca de mensagens eletrônicas entre ele e um deputado do SSD-BA. O
repórter qualificou de muito romântico o texto das mensagens transcritas,
literalmente, na conversação interceptada pela Política Federal, na qual um diz
para o outro que “Você sabe que tenho um
carinho por vc e é muito especial. Te
amo.” e outro diz “Eu amo você
também. Muitoooooooooo.” e o papo continua nesse embalo carregado de muito
amor, mas deixa transparecer que, por trás desse affaire, também haveria negócios entre eles, tanto que a Polícia
Federal fez registro no seu relatório das mensagens trocadas entre ambos, destacando
esse colóquio de singular intimidade. Não
há dúvida de que as mensagens são bastante comprometedoras dos princípios do
decoro e da moralidade, por serem totalmente incompatíveis com as atividades
públicas. É evidente que a vida privada dos homens públicos não compete à
sociedade se imiscuir nela e muito menos censurá-las, sob qualquer pretexto,
mas são inadmissíveis as declarações amorosas, sem meios termos, no contexto em
que o doleiro se encontrava em plena campanha de cooptação de políticos para
traficarem influência junto aos ministérios e às empresas estatais, para a
facilitação do encaminhamento dos projetos do seu interesse. A exemplo do que
já ocorreu, de forma vergonhosa, com o envolvimento de um deputado do PT, em
que este partido nada fez contra o parlamentar, em termos de punição, apesar de
ele ter assumido, entre outras irregularidades, que realmente teria feito uso
de avião alugado, em cortesia, pelo doleiro para que o parlamentar pudesse passear
em férias com a sua família, salvo pressão para que ele renunciasse ao cargo, é
bem muito provável que o partido a que o deputado gentil e amoroso é filiado
também não tenha a menor vontade nem interesse em puni-lo, devendo ficar
evidenciado mais um indecoroso caso de tolerância com a impunidade e com a
desmoralização dos princípios do decoro e da moralidade, que os homens públicos
têm a obrigação constitucional de observar, inclusive sob pena de responder por
seus atos afrontosos e indignos. É de causar tremenda indignação se verificar
que o parlamentar, sem o menor escrúpulo, se entrega completamente aos braços
do doleiro, sabidamente em operação extremamente suspeita, sob os rigores que o
homem público tem o dever de observar, quanto aos princípios da administração
pública, em especial o da moralidade, como forma de dignificar o relevante
cargo de parlamentar, tão desacreditado nos últimos tempos, justamente em
virtude da conduta desrespeitosa de um deputado que se comporta em flagrante
afronta ao princípio do decoro que o parlamentar tem a obrigação de observar,
incondicionalmente. Urge que haja reformulação dos sistemas
político-administrativos, como mecanismo capaz de possibilitar a purificação das
atividades políticas e permitir que os maus representantes do povo sejam
imediatamente extirpados das funções públicas eletivas, que não merecem tamanha
indignidade como essa e outras que estão surgindo com frequência nos últimos
tempos, possivelmente diante da evidente complacência predominante no
escrachado e condenável corporativismo, que existe em potencial para apequenar as
atividades políticas, em total prejuízo dos interesses públicos, as quais
deveriam existir tão somente para o fortalecimento dos princípios democráticos.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de abril de 2014
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