Com a proximidade da Semana Santa,
parece muito apropriado se incursionar na difícil e dolorosa seara que o autor
independente é obrigado atravessar ou pretender passar pela experiência das
mais desagradáveis, em verdadeira Via-Crúcis, para tentar vender ou divulgar
seu trabalho literário. Como se não bastassem os esforços para a elaboração das
obras literárias, que exige dedicação e redobrados empenhos, inclusive o
desembolso da sua publicação, o autor independente não encontra o mínimo de
apoio no momento de pôr sua obra à venda. De início, imagina-se que a
participação da distribuidora de livros tem expressiva contribuição na
facilidade para a colocação das obras no mercado livreiro, como maneira natural
do retorno dos investimentos. No meu caso, pensei, no início, que haveria
enorme interesse das distribuidoras em levar meus livros para as livrarias,
ante seus permanentes contatos com elas, como forma de facilitar a dinâmica do
processo de colocação do livro à venda, na expectativa de que existiriam
interesses múltiplos no negócio, em que todos poderiam lucrar com o meu
trabalho literário. Ledo engano, porque me esforcei o máximo para contatar com
as principais distribuidoras de Brasília e até de Belo Horizonte, sempre na
esperança de encontrar alguma empresa que demonstrasse interesse na
distribuição dos meus livros, mas os retornos foram sempre desanimadores e
infrutíferos, ou seja, nenhuma empresa demonstrou interesse, nem mesmo como
experiência, até mesmo para se tentar possível sucesso para o negócio. Numa
visita a importante distribuidora de Brasília, tive excelente acolhida da sua direção,
que se expressou de maneira cordial, atenciosa e amistosa. Na ocasião, me foi
informado que não poderia distribuir meus livros porque a sua capacidade
empresarial já se encontrava no limite, principalmente pela quantidade de
editoras, que já ultrapassava de quarenta, não suportando novos encargos. Não
obstante, para a minha surpresa, a direção da distribuidora sugeriu que eu
criasse a minha própria empresa para distribuir meus livros, fato que
implicaria a assunção da responsabilidade pela montagem de estrutura
consistente com o aluguel de lojas para escritório e depósito, a contratação de
pelo menos uma secretária, a aquisição de veículo, móveis e equipamentos de
escritório, como computador e periféricos de informática e demais elementos
suficientes para manter a distribuidora para meus livros, certamente com custo
absolutamente incompatível com o retorno da sua vendagem, que jamais haveria
lucro com o negócio. A referida visita teve significativa lição para que eu
caísse na real e enxergasse que não adiantaria prosseguir na busca da tão
sonhada distribuidora para meus livros, porque o escritor independente é inexplicavelmente
discriminado por natureza e visto não como verdadeiro autor, mas sim como
aventureiro, que depende de encontrar boa vontade e interesse de alguém para
abraçar a sua causa literário. No meu caso, não consegui encontrar nenhuma
empresa interessada na distribuição dos meus livros, apesar da peregrinação em
busca desse objetivo. No que se refere às livrarias, o caminho também é
bastante espinhoso para o autor independente, que se depara com a crucial
barreira existente na dificuldade da aceitação somente dos livros provenientes
das editoras, em decorrência de compromisso assumido por força de convenção celebrada
entre elas, quanto ao recebimento dos livros publicados por estas, não
importando, no caso, se o autor é célebre ou não. As livrarias procuradas por
mim, para a venda de meus livros, sempre deram, com raras exceções, quase a
mesma justificativa ou, se preferir, desculpa de que, no momento, não estavam
trabalhando com autores independentes, mas faziam questão de adiantar, de
maneira gentil e cordial, que, tão logo surja oportunidade, entrariam em
contato comigo. Infelizmente, até o momento, não tive o retorna de nenhuma
livraria interessada na venda dos meus livros. No que se refere ao espaço propiciado
pela mídia, também há evidência de quase total desinteresse no trabalho do
autor independente, a exemplo de contatos que fiz junto a alguns jornais da
cidade, que, procurados para a apresentação de meus livros, tive a garantia de seus
representantes que eu seria procurado depois da análise dos livros deixados com
as pessoas contatadas. No entanto, nunca recebi resposta de ninguém, o que
demonstra a falta de interesse e de apoio ao meu trabalho literário. Não
obstante, apesar da situação se mostrar nada auspiciosa, quanto ao apoio à
comercialização de meus livros, resolvi, de forma racional e por economia, apenas
diminuir a quantidade da impressão quase pela metade, na mínima possível de publicação
da obra, como forma de poder dar continuidade ao sublime prazer que tenho de
escrever e também de satisfazer algo que jamais pensei que seria possível na minha
vida, como sequer escrever um único livro, quanto mais nove e ainda estando a
caminho do décimo livro, que será concluído até o meado do ano, haja ou não
vendagem para eles, porque nada se compara à minha incontida satisfação de
escrever, que o faço com muita dedicação e alegria depois da minha
aposentadoria, a partir de abril de 2011. É evidente que não se trata de
se defender a crucificação de ninguém pela situação nua e crua da falta de apoio e de
valorização ao mercado do livro do autor independente, mas os
fatos são cristalinos e ajudam a realçar a realidade nada promissora desse importante segmento de
escritor que contribui de forma expressiva para o engrandecimento da cultura do
país.
ANTONIO ADALMIR
FERNANDES
Brasília, em 17 de
abril de 2014
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