sexta-feira, 18 de abril de 2014

Via-Crúcis do autor independente

Com a proximidade da Semana Santa, parece muito apropriado se incursionar na difícil e dolorosa seara que o autor independente é obrigado atravessar ou pretender passar pela experiência das mais desagradáveis, em verdadeira Via-Crúcis, para tentar vender ou divulgar seu trabalho literário. Como se não bastassem os esforços para a elaboração das obras literárias, que exige dedicação e redobrados empenhos, inclusive o desembolso da sua publicação, o autor independente não encontra o mínimo de apoio no momento de pôr sua obra à venda. De início, imagina-se que a participação da distribuidora de livros tem expressiva contribuição na facilidade para a colocação das obras no mercado livreiro, como maneira natural do retorno dos investimentos. No meu caso, pensei, no início, que haveria enorme interesse das distribuidoras em levar meus livros para as livrarias, ante seus permanentes contatos com elas, como forma de facilitar a dinâmica do processo de colocação do livro à venda, na expectativa de que existiriam interesses múltiplos no negócio, em que todos poderiam lucrar com o meu trabalho literário. Ledo engano, porque me esforcei o máximo para contatar com as principais distribuidoras de Brasília e até de Belo Horizonte, sempre na esperança de encontrar alguma empresa que demonstrasse interesse na distribuição dos meus livros, mas os retornos foram sempre desanimadores e infrutíferos, ou seja, nenhuma empresa demonstrou interesse, nem mesmo como experiência, até mesmo para se tentar possível sucesso para o negócio. Numa visita a importante distribuidora de Brasília, tive excelente acolhida da sua direção, que se expressou de maneira cordial, atenciosa e amistosa. Na ocasião, me foi informado que não poderia distribuir meus livros porque a sua capacidade empresarial já se encontrava no limite, principalmente pela quantidade de editoras, que já ultrapassava de quarenta, não suportando novos encargos. Não obstante, para a minha surpresa, a direção da distribuidora sugeriu que eu criasse a minha própria empresa para distribuir meus livros, fato que implicaria a assunção da responsabilidade pela montagem de estrutura consistente com o aluguel de lojas para escritório e depósito, a contratação de pelo menos uma secretária, a aquisição de veículo, móveis e equipamentos de escritório, como computador e periféricos de informática e demais elementos suficientes para manter a distribuidora para meus livros, certamente com custo absolutamente incompatível com o retorno da sua vendagem, que jamais haveria lucro com o negócio. A referida visita teve significativa lição para que eu caísse na real e enxergasse que não adiantaria prosseguir na busca da tão sonhada distribuidora para meus livros, porque o escritor independente é inexplicavelmente discriminado por natureza e visto não como verdadeiro autor, mas sim como aventureiro, que depende de encontrar boa vontade e interesse de alguém para abraçar a sua causa literário. No meu caso, não consegui encontrar nenhuma empresa interessada na distribuição dos meus livros, apesar da peregrinação em busca desse objetivo. No que se refere às livrarias, o caminho também é bastante espinhoso para o autor independente, que se depara com a crucial barreira existente na dificuldade da aceitação somente dos livros provenientes das editoras, em decorrência de compromisso assumido por força de convenção celebrada entre elas, quanto ao recebimento dos livros publicados por estas, não importando, no caso, se o autor é célebre ou não. As livrarias procuradas por mim, para a venda de meus livros, sempre deram, com raras exceções, quase a mesma justificativa ou, se preferir, desculpa de que, no momento, não estavam trabalhando com autores independentes, mas faziam questão de adiantar, de maneira gentil e cordial, que, tão logo surja oportunidade, entrariam em contato comigo. Infelizmente, até o momento, não tive o retorna de nenhuma livraria interessada na venda dos meus livros. No que se refere ao espaço propiciado pela mídia, também há evidência de quase total desinteresse no trabalho do autor independente, a exemplo de contatos que fiz junto a alguns jornais da cidade, que, procurados para a apresentação de meus livros, tive a garantia de seus representantes que eu seria procurado depois da análise dos livros deixados com as pessoas contatadas. No entanto, nunca recebi resposta de ninguém, o que demonstra a falta de interesse e de apoio ao meu trabalho literário. Não obstante, apesar da situação se mostrar nada auspiciosa, quanto ao apoio à comercialização de meus livros, resolvi, de forma racional e por economia, apenas diminuir a quantidade da impressão quase pela metade, na mínima possível de publicação da obra, como forma de poder dar continuidade ao sublime prazer que tenho de escrever e também de satisfazer algo que jamais pensei que seria possível na minha vida, como sequer escrever um único livro, quanto mais nove e ainda estando a caminho do décimo livro, que será concluído até o meado do ano, haja ou não vendagem para eles, porque nada se compara à minha incontida satisfação de escrever, que o faço com muita dedicação e alegria depois da minha aposentadoria, a partir de abril de 2011. É evidente que não se trata de se defender a crucificação de ninguém pela situação nua e crua da falta de apoio e de valorização ao mercado do livro do autor independente, mas os fatos são cristalinos e ajudam a realçar a realidade nada promissora desse importante segmento de escritor que contribui de forma expressiva para o engrandecimento da cultura do país.
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES            
 
Brasília, em 17 de abril de 2014

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