sexta-feira, 25 de abril de 2014

Aviltante assistência à saúde

Devido à falta de ambulância, para remoção de urgência, um paciente faleceu ao ser transferido na caçamba de veículo pick-up, arranjado às pressas, apesar de não oferecer, obviamente, as imprescindíveis condições ambulatoriais e ainda com a exposição dele ao sol. Esse infortúnio aconteceu no interior do Estado do Ceará, onde, na capital, o governador, invariavelmente, esbanja riqueza e opulência, ao contratar, conforme denúncia veiculada pela mídia, buffer da sofisticada cozinha internacional, para abastecer nababescamente seu palácio residencial, em total desprezo às carências básicas da população do interior. Diante da gravidade do estado de saúde do paciente, ele teve que ser transportado por veículo particular emprestado, conduzido com o acompanhamento de duas enfermeiras, que monitoravam balão de oxigênio e aparelho de soro, mas, diante das péssimas condições que foi submetido, ele sucumbiu aos maus tratos e chegou sem vida ao hospital onde poderia ter melhores cuidados médicos. O secretário da Saúde da cidade cearense esclareceu que o município conta com três ambulâncias, mas, na ocasião da transferência do paciente, que exigia urgência, um veículo se encontrava no conserto e outros dois estavam em serviços de emergência. Ele ressaltou ainda que “... este foi um caso excepcional onde os fatos estão sendo apurados pela administração e providências estão sendo tomadas para que não volte a ocorrer”. O secretário também justificou a ausência de médico no hospital, afirmando que ele teria se ausentado para acompanhar paciente em estado gravíssimo. À toda evidência, não pode haver situação mais terrível e desesperadora do que a pessoa morrer à míngua, em pleno século XXI, por falta de adequada assistência médica. É bem provável que nem nas republiquetas possam acontecer episódios tão lamentáveis como esse, em que se constata a morte de cidadão em decorrência da falta de atendimento médico suficiente e de, pelo menos, da mínima qualidade. A sociedade tem a obrigação humanitária de se indignar e de repudiar por ter ainda que conviver com fatos deprimentes como esse, cuja cena é bastante constrangedora, por ainda acontecer com banalidade no país tupiniquim, que não se confrange diante desse lamentável fato, mas, ao contrário, orgulha-se de promover a “Copa das Copas”, a custo elevadíssimo, enquanto seus filhos morrem à míngua, por precariedade do aparelhamento da assistência médica, por faltarem-lhes as condições humanas para o transporte de pacientes em estado grave para o hospital. A insatisfação da sociedade bem que poderia ser potencializada e com o máximo vigor, no momento crucial da eleição, quando deveriam ser lembradas as precariedades da administração pública do país, não somente quanto à prestação de assistência médica, mas com relação aos demais serviços de incumbência do Estado, e exigir o compromisso pelo saneamento das mazelas que infernizam a vida da população, principalmente das pessoas do interior do país, que são obrigadas a passar por situação lastimável como essa em referência. O mais grave de tudo isso é que ninguém é responsabilizado pelo desastroso fim acontecido com esse cidadão, ou seja, a vida continua normalmente, sem qualquer abalo, para as autoridades que deveriam se dignar, por força da sua competência institucional, a propiciar assistência satisfatória à população, como, ao menos, a disponibilização de ambulância para atendimento dos casos mais graves e de emergência, não permitindo que a irresponsabilidade administrativa seja culpada por mais uma triste situação que, humana e materialmente, poderia ter sido evitada, caso houvesse interesse e vontade políticas para tanto. É lamentável que seja preciso acontecer caso como esse para que a população se desperte quanto à real necessidade de se exigir o fiel cumprimento da responsabilidade atribuída aos homens públicos, que a assumem quando das suas investiduras nos cargos públicos eletivos. A sociedade tem a obrigação cívica de responsabilizar, inclusive de eliminá-los da vida pública, aqueles que têm a obrigação constitucional e legal de cuidar e zelar pela saúde, educação, segurança pública e demais serviços e atividades de incumbência do Estado, como forma de dignificar as condições de vida da população, que vem sendo sacrificada diante da negligência das autoridades públicas, apesar dos abusivos tributos cobrados além da capacidade contributiva das pessoas. A sociedade não pode continuar compactuando com os desmandos e os desgovernos dos políticos incompetentes que não têm consciência nem sensibilidade para perceberem que a vida humana é o bem tão precioso que jamais poderia perecer por irresponsabilidade gerencial da administração pública. Acorda, Brasil!
 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de abril de 2014

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