quinta-feira, 17 de abril de 2014

Urgente intolerância com a corrupção

Embora encalacrado com as denúncias que o envolvem com graves atos de corrupção, o deputado petista decidiu, após já ter anunciado, não mais renunciar ao mandato eletivo, sob a alegação da necessidade de “reestudar” os próximos passos estratégicos a serem adotados em defesa de seu mandato, tendo em conta que a renúncia ao cargo não impediria a continuidade do processo disciplinar, já instalado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. É engraçado que as denúncias de corrupção, validadas pelo próprio candidato, não conseguiram sensibilizar o partido do deputado indigno sobre a imperiosa necessidade de pôr termo ao desgaste com a permanência nele nas suas fileiras, que pode inclusive contribuir negativamente para que o caso degradante reflita na campanha à reeleição da presidente da República. Não deixa de causar espanto o fato de o petista, mesmo ter reconhecido seu envolvimento com o doleiro que se encontra preso pela operação Lava-Jato, da Polícia Federal, sob a acusação de liderar esquema de lavagem de dinheiro na cifra avaliada em aproximadamente R$ 10 bilhões, ter o disparate de se considerar vítima de massacre mediático, como se a mídia estivesse forjando algum fato para incriminá-lo, quando ele próprio assumiu o crime de ter usado avião particular em interesse pessoal. Na realidade, os fatos se repetem sempre com a mesma desfaçatez de se atribuir a culpa a outrem, em contraposição aos princípios da honestidade. Nos países desenvolvidos político e democraticamente, onde também há corrupção com recursos públicos, embora em escala não tão alarmante como no país tupiniquim, os protagonistas não se surpreendem com as duras penalidades próprias das nações que já alcançaram nível de civilidade capaz de entender e demonstrar que a corrupção não condiz com os princípios democráticos da honradez e da dignidade, que devem imperar nas atividades políticas e não podem se confundir com promiscuidade e leviandade do desvio dos preceitos éticos, morais e legais. A ideia de continuidade no cargo macula também a dignidade do povo brasileiro, por ser conivente com o crime de corrupção e não se mobilizar para condenar com veemência tantos escândalos, que já se banalizaram no tempo, em detrimento aos princípios do decoro, da dignidade e da probidade administrativa. Não deixa de ser curioso que o maior partido brasileiro sinta-se confortavelmente com a presença nas suas fileiras de corrupto convicto, segundo confessado por ele no plenário da Câmara dos Deputados, a demonstrar como se nada tivesse acontecido de grave, indigno e degradante; como se o parlamentar não fosse obrigado a observar os princípios da honorabilidade e do decoro no exercício de cargo público eletivo; e como se o povo não merecesse consideração e respeito por ser o responsável pela eleição dos parlamentares e pela manutenção do onerosíssimo Parlamento, que pouco produz em benefício da sociedade. Não há dúvida de que esse cidadão, no exercício do importante cargo de deputado, deveria ter evitado a prática de ato abjeto que teve o condão de macular a dignidade e a honradez, princípios que sempre devem ser observados pelos homens públicos. Além do partido a que pertence o deputado corrupto, à Câmara dos Deputados também comete o grave crime de leniência com os atos desonestos perpetrados pelo parlamentar, por permitir que esse cidadão continue frequentando suas dependências, fazendo indevido e ilegal usufruto dos direitos inerentes aos deputados possuidores de dignidade, lisura e honestidade. Quem comete atos de corrupção, principalmente no caso do petista, que já confessou o horroroso e indigno crime, deve ser imediatamente afastado do seu cargo, como forma de assepsia ética e moral e ainda como mecanismo pedagógico exemplar aos seus pares e medida cautelatória para se evitar casos de abusos semelhantes. Causa enorme estranheza a forma leviana como o deputado corrupto tripudia não somente da sociedade, mas também da incompetência do próprio partido, que cada vez mais perde credibilidade por manter nos seus quadros cidadão que confessou, no plenário da Câmara - que deveria ser respeitado e honrado - haver se envolvido em ato de corrupção. Um partido, com o mínimo de seriedade e de respeito aos princípios éticos, morais e legais, já o teria desligado do seu quadro, como forma de valorização da dignidade das atividades político-partidárias, que não combinam com atos despudorados e agressivos aos preceitos democráticos e constitucionais do decoro e da moralidade. A sociedade precisa se conscientizar sobre a necessidade de urgente reformulação dos partidos políticos, obrigando-os a serem intolerantes com seus filiados que cometem atos irregulares contra a administração pública, jamais permitindo que a indigna corrupção seja motivo de acolhida e de apoio, a exemplo desse vergonhoso escândalo envolvendo de forma negativa a dignidade do Parlamento, do povo brasileiro e da nação. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de abril de 2014

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