sexta-feira, 18 de abril de 2014

Repúdio à ingerência palaciana

Apesar de a presidente da República ter sido colocada no olho do furacão que varreu os lucros da Petrobras para o espaço, sendo considerada o pivô da malfada compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, por atuar como presidente do Conselho de Administração da empresa e autorizar a sua aquisição, ela sai de cenário depois de dar poucas declarações sobre a grave crise envolvendo a estatal. A partir de agora, a mandatária do país vai se distanciar o quanto mais possível dos fatos relacionados com o episódio do aludido negócio, passando a incumbência à própria empresa para assumir integralmente a dianteira da crise, inclusive ficando com a responsabilidade de defender o negócio, sob a justificativa palaciana de que cabe agora à Petrobras defender a gestão dos seus negócios, por inteiro, tendo em vista que a estatal tem sua presidente, com competência institucional de agir em defesa da empresa, não sendo crível que a presidente da República fique se imiscuindo onde não tem competência. Segundo fonte palaciana, caberia à presidente do país explicar os fatos pertinentes à sua atuação como ex-integrante do Conselho de Administração da estatal, não devendo dizer mais nada. Certamente que ela nem deveria ter tentado falar nada quanto à calamitosa aquisição da refinaria de Pasadena, porquanto seus esclarecimentos complicaram ainda mais a atuação dela nessa negociação, por ter ficado claro que ela autorizou, juntamente com seus pares, a questionada compra sem sequer tomar conhecimento completo da essencialidade da documentação pertinente. Não adiante agora querer tentar encobrir o sol com a peneira, porque se trata de maneira menos competente para fugir da responsabilidade pelos fatos já efetivados de forma escabrosa e prejudicial ao interesse da estatal. À toda evidência, não é justo nem correto que se faça a blindagem de quem tem a responsabilidade primacial de esclarecer os fatos denunciados, por constituir crime pela falta de transparência e de sonegação da verdade, falhas estas que contrariam os princípios da legalidade e da probidade administrativa. Causa enorme estranheza o fato de que, quando a Petrobras estava na onda da crista, rendendo os melhores dividendos políticos, em especial para os petistas, os governistas faziam questão de manchas as mãos de petróleo e pousar para a mídia, cheios de orgulho e de vaidade com o progresso da principal empresa nacional, mas depois do revés, quando o barco naufragou de vez, justamente sob o comando, a ingerência e a incompetência do próprio governo, que, de forma deliberada e significativa, contribuiu para a bancarrota da estatal, cuja capital, na sua quase metade, foi jogado pelo ralo com a ajuda da má gestão, do compadrio e da ingerência palaciana, agora joga o abacaxi para a própria Petrobras descascar e explicar, quando, na verdade, a lastimável situação da empresa é fruto da indevida ingerência do escalão superior da República, sob o comando petista, que foge da responsabilidade exatamente no momento crucial da estatal, assoberbada com o monte de explicações e de medidas pertinentes aos malfeitos que resultaram na pior crise da empresa. Se afastar o quanto antes do olha da crise que afeta a gestão da Petrobras nada mais é do que medida estratégica, para depois, passado o redemoinho dos escândalos das denúncias de má gestão, o governo voltar à frente da empresa, como se nada tivesse acontecido de grave. Aliás, essa forma de maquiagem administrativa sempre foi a política preferida do governo, que, por pura conveniência, não enxerga motivação plausível para esclarecer os fatos causadores de desgastes políticos para o partido e para o próprio governo, mas tem enorme sabedoria de ser o primeiro a aparecer para colher os louros quando as vitórias e os sucessos voltarem à tona. A maior gravidade que existe nessa forma promíscua de governo decorre justamente porque a sociedade a apoia, lamentavelmente, com o seu voto, permitindo que o país seja administrado por governantes cujo projeto político é senão permanecer no poder, custe o que custar, não importando sequer que haja a dilapidação do patrimônio da empresa que já foi uma das maiores petrolíferas do mundo e tratada como orgulho do povo brasileiro, por suas destacadas eficiência e competência no seu ramo de atuação. O povo brasileiro tem o dever cívico de defender os interesses da Petrobras, como verdadeiro patrimônio nacional e não de um partido que usurpou do direito de manipulá-la em seu proveito político, até o momento do pior desempenho da história da estatal. Compete aos órgãos de fiscalização e controle, nas esferas das suas competências constitucional e legal, a intensificação de ações capazes de apurar os fatos perniciosos e irregulares cometidos contra o patrimônio da estatal e apontar os culpados pelos danos causados aos seus cofres, como forma de possibilitar a sua responsabilização e a reparação dos prejuízos levantados, bem assim da indispensável precaução quanto à reincidência de casos semelhantes futuros. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de abril de 2014

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