sexta-feira, 4 de abril de 2014

Explícita desmoralização do Parlamento

O jornal "Folha de S.Paulo" publicou reportagem informando que o vice-presidente da Câmara dos Deputados, do PT do Paraná, fez uso, no início deste ano, para viajar a João Pessoa/PB, de avião emprestado por um amigo doleiro, que se encontra preso na Polícia Federal, por integrar os membros alvo da operação Lava Jato, sob suspeita da movimentação de cerca de R$ 10 bilhões em lavagem de dinheiro. A assessoria do parlamentar confirmou a aludida viagem. O petista, considerando normal seu censurável procedimento, disse que tem relação de amizade com o doleiro há 20 anos, quando os dois se conheceram de Londrina, no Paraná. Ele disse estranhar “o vazamento seletivo de mensagens pessoais. Onde se tenta confundir com alguma ilegalidade, uma relação de 20 anos, de moradores de uma mesma cidade" e considerou que as relações com o doleiro se deram "dentro da legalidade". E disse ainda que "Conhecer alguém há 20 anos não é crime. Alberto Youssef é empresário de minha cidade. Dono do maior hotel da cidade. E os encontros, contatos e a relação se deram dentro da legalidade. Qualquer homem público poderia passar por isso.". O deputado afirmou à "Folha" que pediu o avião emprestado porque as passagens comerciais estavam caras e que ele pagou pelo combustível. A "Folha de S.Paulo" revelou que o parlamentar teria tratado de assunto de interesse do doleiro no Ministério da Saúde, à vista de ter flagrado conversa do petista com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, envolvendo a empresa Labogen, investigada na operação Lava Jato. Segundo relatório da Polícia Federal, o deputado havia informado ao doleiro que “a reunião com Gadelha foi boa demais" e que "Gadha garantiu que vai nos ajudar". Dias depois, o petista deixou "Claro que, com relação ao avião, eu reconheço, fui imprudente. Foi um equívoco. Deveria ter evitado. Peço desculpas aqui e à minha família". Quanto à sua participação nas negociatas no Ministério da Saúde, o petista disse que foi procurado por um empresário que desejava providenciar parceria entre o laboratório e aquele órgão, tendo apenas "o orientado na forma da lei". Em conclusão, o parlamentar afirmou que "Nunca estive com Gadelha ou com qualquer outro funcionário para tratar desse projeto. No vazamento eu digo que a reunião com Gadelha foi boa, porque me encontrei com um representante oficial da empresa no aeroporto e ele disse que a reunião com Gadelha foi boa". Diante do clamoroso escândalo protagonizado pelo deputado petista, o PSDB e o DEM já anunciaram a pretensão de entrar com representação no Conselho de Ética da Câmara, solicitando investigação sobre o uso do jatinho em apreço, sob a alegação da quebra do decoro parlamentar. Com certeza, o petista voador não será punido com qualquer pena, em virtude de a sua atitude indecorosa ter sido bastante relevante, por ter por base a sua boa amizade de mais de vinte anos com um doleiro preso, em função da confiança existente entre amigos de longa data, em demonstração de completa desmoralização do Parlamento. Infelizmente, grande parte dos parlamentares considera normal que seus pares possam deixar de observar os saudáveis princípios da ética, da moralidade e do decoro que se exigem dos homens públicos que têm compromisso com a dignidade e a decência no cumprimento do nobilitante exercício de cargos públicos eletivos. Veja-se que o partido a que o deputado é filiado simplesmente se calou sobre o fato espúrio e antiético, o que significa sua leniência com a grave irregularidade e o seu consentimento com atos ilícitos e recrimináveis, ante a promiscuidade cristalina e patenteada na amizade de pessoa pública com criminoso, que se encontra preso por suspeita de delinquência e de enriquecimento ilícito. Num país sério, o desvio de conduta, no caso em comento, implica, no mínimo, a perda do cargo, pelo desprezo aos princípios da ética, da moralidade e do decoro. Na tentativa de se justificar pela ilegalidade praticada, o parlamentar somente conseguiu piorar ainda mais o que já estava péssimo, quando a sua enorme desfaçatez não convenceu nem mesmo a ele, por ter percebido que a sua mentira só aumentava de tamanho, por falta de argumento plausível, apenas baseado no respeito à amizade com um criminoso e ainda por deixar claro que a tentativa de se justificar não tem uma vírgula que seja verossímil à realidade do justificável. A situação do petista se torna bem grave diante do fato de ter, há poucos dias, se comportado de forma deselegante e extrapolado a boa compostura parlamentar, ao ser deselegante e debochado na mesa do Senado Federal com o presidente do Supremo Tribunal Federal, como se o parlamentar fosse exemplo de correção e de decoro. Compete à sociedade recriminar a atitude indecorosa do parlamentar petista, por ter usado avião particular em atendimento de interesse pessoal, em contrariedade aos princípios éticos, morais e legais, exigir que a Câmara dos Deputados promova a devida penalidade ao deputado, por quebra do decoro parlamentar, como medida pedagógica e exemplar, e eliminar da vida pública os homens públicos que desprezam os preceitos da dignidade e da honorabilidade no exercício de cargos públicos eletivos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de abril de 2014

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