sábado, 12 de abril de 2014

Indigna quebra do decoro

Não deixa de ser risível a notícia segundo a qual o PT, envolvido no torvelinho formado pelas denúncias de irregularidades protagonizadas por importante filiado, pretende ouvir a versão do pivô do imbróglio, tendo a sua Executiva Nacional designado três integrantes do partido para cumprir a espinhosa missão de saber melhor sobre os fatos nebulosos vindos à lume, em especial acerca do envolvimento dele com seu amigo doleiro, que se encontra preso, por participar de esquema fraudulento de mais de dez bilhões de reais. Segundo reportagem da revista "Veja", apoiada em relatório da Polícia Federal, o deputado petista, além de ter usado avião fretado pelo doleiro, em janeiro último, para viajar de férias com a família, se associou ao doleiro para a captação de recursos em projeto do Ministério da Saúde, tendo utilizada a sua influência para traficar em órgão público, na tentativa de facilitar a tramitação de projeto de interesse do doleiro e, por extensão, dele também, ante o entendimento de enriquecimento para ambos. Enquanto o PT nada faz para punir seu filiado influente, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu processo disciplinar para apurar a conduta do ex-vice-presidente da Casa. Além do mais, em que pesem as evidências reveladas pela Polícia Federal de graves irregularidades cometidas pelo petista, o presidente do Partido dos Trabalhadores disse que a agremiação não pode tomar qualquer medida contra o paranaense baseada apenas em reportagens jornalísticas: "Esses são os fatos noticiados que, por si só, não incriminam ninguém". A executiva petista também aprovou medida com a finalidade de assumir a defesa incondicional da Petrobras, com o propósito de contrapor a denominada "ofensiva da oposição", que tem, segundo os governistas, o objetivo de "fazer prevalecer interesses privados numa empresa que é, acima de tudo, patrimônio do povo brasileiro". Enquanto os fatos nebulosos são sucedidos cada um mais cabeludo, o deputado disse que “Estou certo de que não cometi ato ilícito e vou provar isso, de cabeça erguida. Não traí a confiança que sempre mereci do povo do Paraná. (...) A imprensa está devassando minha vida, e vendo que não tenho nada a esconder. Meu patrimônio condiz com o salário de deputado.”. As tentativas dos três dirigentes designados para ouvir o deputado envolvido com o doleiro se tornaram infrutíferas, por não o terem localizado, uma vez que ele vem se despistando de tudo e de todos, objetivando ganhar tempo e arrefecer o noticiário sobre seu affaire. O "ilustre" petista não despista somente os colegas de partido, mas o seu eleitorado, que tinha certeza de que ele não seria capaz de se corromper, em troca de favores para o dileto amigo, a quem não pôde negar o favor da intervenção junto ao Ministério da Saúde, que teria certamente contado com a sua influência de vice-presidente da Câmara dos Deputados e de grande líder do partido que comanda o país de gente boba e incapaz de perceber que as desacreditadas atividades políticas vêm servindo, nos últimos tempos, como instrumentos importantes para satisfação de interesses particulares e partidários, em completo detrimento das funções primordiais e institucionais das atividades politicas, que são o atendimento do bem comum da sociedade. Urge a realização de reformas profundas nos sistemas político-partidários, com vistas a permitir, sobretudo, a dificuldade do ingresso dos maus cidadãos à vida pública e o estímulo das pessoas honestas e probas ao exercício de atividades públicas, como reafirmação da boa e saudável prática política, que, com absoluta certeza, deve ter sido institucionalizada somente com a finalidade de contribuir para beneficiar a humanidade. O povo tem o dever cívico de repudiar os atos indignos dos homens públicos que desprezam a confiança que lhes foi atribuída para a prática somente do bem e do desenvolvimento da sociedade. Para os homens honestos, que acreditam na existência dos princípios da moralidade, honorabilidade, probidade, ética etc., os fatos vindos à lume já dizem tudo de forma muito clara, não precisando que seja dito mais nada sobre o caso, sob pena de o acusado passar a ser vítima e o povo precisar pedir perdão a ele, por ter sido tão insensível à sua necessidade de satisfação de lazer, fazendo uso de aviãozinho particular, que ninguém é de ferro para tanto comparecer de terça a quinta-feira ao Congresso Nacional. O povo não pode ser leniente com atos antiéticos e espúrios dos homens públicos, a ponto de permitir que o PT somente assuma e acredite nos erros de seus filiados quando o estrago for causado por um tiro de canhão. Caso contrário, a simples quebra de decoro, como fazer uso de avião particular, traficar influência, combinar facilitação no serviço e público e outras indignidades não são capazes de macular coisa nenhuma. Com certeza, essa não é a ética que o povo brasileiro espera dos seus representantes, porque isso apequena em muito os princípios político e democrático, além de contribuir para desacreditar ainda mais o desempenho das atividades públicas, que não deveriam passar impunimente por situações deprimentes e indignas, como essa de notória quebra do decoro parlamentar, que poderá até haver punição se o vergonhoso corporativismo não se envolver no caso. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de abril de 2014

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