Não deixa de ser
risível a notícia segundo a qual o PT, envolvido no torvelinho formado pelas
denúncias de irregularidades protagonizadas por importante filiado, pretende
ouvir a versão do pivô do imbróglio, tendo a sua Executiva Nacional designado três
integrantes do partido para cumprir a espinhosa missão de saber melhor sobre os
fatos nebulosos vindos à lume, em especial acerca do envolvimento dele com seu
amigo doleiro, que se encontra preso, por participar de esquema fraudulento de
mais de dez bilhões de reais. Segundo reportagem da revista "Veja",
apoiada em relatório da Polícia Federal, o deputado petista, além de ter usado
avião fretado pelo doleiro, em janeiro último, para viajar de férias com a
família, se associou ao doleiro para a captação de recursos em projeto do
Ministério da Saúde, tendo utilizada a sua influência para traficar em órgão
público, na tentativa de facilitar a tramitação de projeto de interesse do
doleiro e, por extensão, dele também, ante o entendimento de enriquecimento
para ambos. Enquanto o PT nada faz para punir seu filiado influente, o Conselho
de Ética da Câmara dos Deputados abriu processo disciplinar para apurar a
conduta do ex-vice-presidente da Casa. Além do mais, em que pesem as evidências
reveladas pela Polícia Federal de graves irregularidades cometidas pelo
petista, o presidente do Partido dos Trabalhadores disse que a agremiação não
pode tomar qualquer medida contra o paranaense baseada apenas em reportagens
jornalísticas: "Esses são os fatos
noticiados que, por si só, não incriminam ninguém". A executiva
petista também aprovou medida com a finalidade de assumir a defesa
incondicional da Petrobras, com o propósito de contrapor a denominada "ofensiva da oposição", que tem,
segundo os governistas, o objetivo de "fazer
prevalecer interesses privados numa empresa que é, acima de tudo, patrimônio do
povo brasileiro". Enquanto os fatos nebulosos são sucedidos cada um
mais cabeludo, o deputado disse que “Estou
certo de que não cometi ato ilícito e vou provar isso, de cabeça erguida. Não
traí a confiança que sempre mereci do povo do Paraná. (...) A imprensa está
devassando minha vida, e vendo que não tenho nada a esconder. Meu patrimônio
condiz com o salário de deputado.”. As tentativas dos três dirigentes
designados para ouvir o deputado envolvido com o doleiro se tornaram
infrutíferas, por não o terem localizado, uma vez que ele vem se despistando de
tudo e de todos, objetivando ganhar tempo e arrefecer o noticiário sobre seu affaire. O "ilustre" petista
não despista somente os colegas de partido, mas o seu eleitorado, que tinha
certeza de que ele não seria capaz de se corromper, em troca de favores para o dileto
amigo, a quem não pôde negar o favor da intervenção junto ao Ministério da
Saúde, que teria certamente contado com a sua influência de vice-presidente da
Câmara dos Deputados e de grande líder do partido que comanda o país de gente
boba e incapaz de perceber que as desacreditadas atividades políticas vêm
servindo, nos últimos tempos, como instrumentos importantes para satisfação de
interesses particulares e partidários, em completo detrimento das funções
primordiais e institucionais das atividades politicas, que são o atendimento do
bem comum da sociedade. Urge a realização de reformas profundas nos sistemas
político-partidários, com vistas a permitir, sobretudo, a dificuldade do
ingresso dos maus cidadãos à vida pública e o estímulo das pessoas honestas e
probas ao exercício de atividades públicas, como reafirmação da boa e saudável
prática política, que, com absoluta certeza, deve ter sido institucionalizada
somente com a finalidade de contribuir para beneficiar a humanidade. O povo tem
o dever cívico de repudiar os atos indignos dos homens públicos que desprezam a
confiança que lhes foi atribuída para a prática somente do bem e do
desenvolvimento da sociedade. Para os homens honestos, que acreditam na
existência dos princípios da moralidade, honorabilidade, probidade, ética etc.,
os fatos vindos à lume já dizem tudo de forma muito clara, não precisando que
seja dito mais nada sobre o caso, sob pena de o acusado passar a ser vítima e o
povo precisar pedir perdão a ele, por ter sido tão insensível à sua necessidade
de satisfação de lazer, fazendo uso de aviãozinho particular, que ninguém é de
ferro para tanto comparecer de terça a quinta-feira ao Congresso Nacional. O
povo não pode ser leniente com atos antiéticos e espúrios dos homens públicos,
a ponto de permitir que o PT somente assuma e acredite nos erros de seus
filiados quando o estrago for causado por um tiro de canhão. Caso contrário, a
simples quebra de decoro, como fazer uso de avião particular, traficar
influência, combinar facilitação no serviço e público e outras indignidades não
são capazes de macular coisa nenhuma. Com certeza, essa não é a ética que o
povo brasileiro espera dos seus representantes, porque isso apequena em muito
os princípios político e democrático, além de contribuir para desacreditar ainda
mais o desempenho das atividades públicas, que não deveriam passar impunimente por
situações deprimentes e indignas, como essa de notória quebra do decoro
parlamentar, que poderá até haver punição se o vergonhoso corporativismo não se
envolver no caso. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de abril de 2014
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