Com a proximidade da Copa do Mundo no Brasil, o
jornal espanhol ‘Sport’ publicou reportagem fazendo severas críticas ao
andamento das obras e ao estado de pobreza por que passa significativa parcela
da população que mora nas vizinhanças dos estádios, a exemplo do estádio
Beira-Rio, do Internacional, no Rio Grande do Sul, que, no dizer do jornal, “é cercado pela pobreza“, que ainda
enfatizou a insegurança e a carência com que vivem muitos dos brasileiros. A
reportagem aponta, em destaque que a “Insegurança,
roubo e violência aumentam a um ritmo semelhante com a inflação e a crescente
impotência dos mais necessitados que sobrevivem isentos de infraestrutura, com
a alma afogada por essas novas construções aonde vão se apresentar os mais
poderosos e milionários jogadores do planeta”. O ‘Sport’ apontou a
desigualdade social, mostrando que prédios de luxo e favelas estão lado a lado,
dizendo que “Hoje o Brasil mostra seu
rosto desenhado em uma rua escura, maltratada, rodeado por uma combinação de
prédios de luxo e cheio ‘vilas’ de favelas”. O periódico frisou as
manifestações da população contra a realização do torneio mundial no Brasil,
afirmando que a multidão tenta externar a raiva pela “falta de recursos e a má qualidade de vida dos habitantes do País. O país inteiro tem aumentado em um protesto
unânime, jogando sua raiva contra um governo que está gastando milhões de reais
na preparação do evento, já que o país é equilibrado entre a fome, a
insegurança e a precariedade estrutural e dos hospitais”. Somente os homens públicos sem o menor
compromisso com a responsabilidade social do país poderiam ter a
"engenhosa" iniciativa de realizar, no Brasil, evento da magnitude da
Copa do Mundo de Futebol, sem que tivesse a dignidade de antes atender as obras
e os serviços públicos de boa qualidade, em consonância com as prioridades
consistentes nas graves questões existentes na nação continente. O que o jornal
espanhol critica é a pura verdade que as autoridades brasileiras, de forma
irresponsável, fazem de incompreendidos e de insensíveis ao caos de notório
vislumbre para quem, como autoridade cônscia dos seus deveres públicos, deveria
perceber que não se pode investir em obras supérfluas quando existe um mar de
problemas preferenciais para serem solucionados, com prioridade. Não deixa de
ser alarmante o despreparo dos administradores do país, por comprometer
recursos públicos, em suntuosa quantidade, em obras faraônicas, que não terão
nenhuma serventia para a sociedade carente, enquanto as obras realmente
imprescindíveis à população jamais serão realizadas. A reportagem do jornal
espanhol tem suma importância para mostrar ao insensível povo brasileiro, que
se tornou míope e ignorante por força dos programas assistencialistas
estratégica e maquiavelicamente implantados pelo governo, que as precariedades
administrativas do país são uma realidade bastante visível, inclusive para o
mundo além-fronteiras e que os governantes não têm interesse em desempenhar com
competência e eficiência a aplicação dos recursos públicos em empreendimentos
prioritários, preferindo, ao contrário, mostrar tão somente que tem capacidade
para realizar a "Copa das Copas", como se isso fosse atributo de
alguma coisa senão de incompetência gerencial, por resultar em absolutamente
nada, em termos de satisfação do interesse público, que é, em suma, a
finalidade primacial da arrecadação dos escorchantes tributos e da sua
consequente aplicação. É bastante louvável o registro do fato vergonhoso e
deprimente pelo jornal espanhol, que o fez certamente por não depender de
contrato publicitário com o governo brasileiro, com a certeza de que não seria
castigado caso se tratasse de veículo da imprensa mediática tupiniquim, que
dificilmente teria coragem de apontar as verdadeiras mazelas com tanta incisão e
transparência como foi feita na reportagem em apreço. O jornal deixou de revelar
o fato de que, nem mesmo gastando suntuosas verbas públicas, apenas para
mostrar ao mundo a possível capacidade empreendedora do Brasil, o resultado se
mostra desanimador pelos desastrosos atrasos das principais obras, que são os
estádios, além daquelas consideradas mais importantes para o evento, que seriam
as obras de mobilidade urbana, por terem ficado ao largo, posto que, muitas
delas, sequer foram iniciadas, apesar de constarem das tabelas de compromissos
assumidos com a todo-poderosa Fifa, que vem insistentemente reclamando das
autoridades brasileiras sobre o intempestivo cumprimento dos compromissos
firmados por ocasião da aceitação de realizar a copa no país. O certo é que,
além de decepcionar a organização mundial do futebol, por não ter conseguido
atender, com precisão, as obrigações assumidas, em conformidade com os
cronogramas físicos das obras, quando muitas jamais foram iniciadas, o governo
brasileiro também compromete ainda mais a implementação de obras necessárias à
satisfação do interesse público, a exemplo da notória precariedade, entre
outras, da segurança pública, cujos mecanismos de proteção poderão claudicar em
pleno evento, por falta de preparo e de condições para a cobertura, com a
devida garantia e eficiência, da segurança dos turistas e torcedores, uma vez
que nem mesmo a população vem tendo a indispensável proteção que a Constituição
Federal assegura para os brasileiros, em qualquer tempo, não somente por
ocasião de eventos especiais. É lamentável que as autoridades públicas
brasileiras sejam insensíveis às gravidades das questões não somente apontadas
pelo jornal espanhol, mas sobretudo por especialistas brasileiros, que mostram a
urgência do seu saneamento com prioridade bastante distante de qualquer
pensamento sobre a realização da Copa do Mundo, por não ser meta de nenhum
governo que tenha compromisso com o bem-estar do seu povo, em termos de
consecução do desenvolvimento socioeconômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de abril de 2014
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