quarta-feira, 2 de abril de 2014

A mediocridade gerencial tupiniquim

Com a proximidade da Copa do Mundo no Brasil, o jornal espanhol ‘Sport’ publicou reportagem fazendo severas críticas ao andamento das obras e ao estado de pobreza por que passa significativa parcela da população que mora nas vizinhanças dos estádios, a exemplo do estádio Beira-Rio, do Internacional, no Rio Grande do Sul, que, no dizer do jornal, “é cercado pela pobreza“, que ainda enfatizou a insegurança e a carência com que vivem muitos dos brasileiros. A reportagem aponta, em destaque que a “Insegurança, roubo e violência aumentam a um ritmo semelhante com a inflação e a crescente impotência dos mais necessitados que sobrevivem isentos de infraestrutura, com a alma afogada por essas novas construções aonde vão se apresentar os mais poderosos e milionários jogadores do planeta”. O ‘Sport’ apontou a desigualdade social, mostrando que prédios de luxo e favelas estão lado a lado, dizendo que “Hoje o Brasil mostra seu rosto desenhado em uma rua escura, maltratada, rodeado por uma combinação de prédios de luxo e cheio ‘vilas’ de favelas”. O periódico frisou as manifestações da população contra a realização do torneio mundial no Brasil, afirmando que a multidão tenta externar a raiva pela “falta de recursos e a má qualidade de vida dos habitantes do País. O país inteiro tem aumentado em um protesto unânime, jogando sua raiva contra um governo que está gastando milhões de reais na preparação do evento, já que o país é equilibrado entre a fome, a insegurança e a precariedade estrutural e dos hospitais”. Somente os homens públicos sem o menor compromisso com a responsabilidade social do país poderiam ter a "engenhosa" iniciativa de realizar, no Brasil, evento da magnitude da Copa do Mundo de Futebol, sem que tivesse a dignidade de antes atender as obras e os serviços públicos de boa qualidade, em consonância com as prioridades consistentes nas graves questões existentes na nação continente. O que o jornal espanhol critica é a pura verdade que as autoridades brasileiras, de forma irresponsável, fazem de incompreendidos e de insensíveis ao caos de notório vislumbre para quem, como autoridade cônscia dos seus deveres públicos, deveria perceber que não se pode investir em obras supérfluas quando existe um mar de problemas preferenciais para serem solucionados, com prioridade. Não deixa de ser alarmante o despreparo dos administradores do país, por comprometer recursos públicos, em suntuosa quantidade, em obras faraônicas, que não terão nenhuma serventia para a sociedade carente, enquanto as obras realmente imprescindíveis à população jamais serão realizadas. A reportagem do jornal espanhol tem suma importância para mostrar ao insensível povo brasileiro, que se tornou míope e ignorante por força dos programas assistencialistas estratégica e maquiavelicamente implantados pelo governo, que as precariedades administrativas do país são uma realidade bastante visível, inclusive para o mundo além-fronteiras e que os governantes não têm interesse em desempenhar com competência e eficiência a aplicação dos recursos públicos em empreendimentos prioritários, preferindo, ao contrário, mostrar tão somente que tem capacidade para realizar a "Copa das Copas", como se isso fosse atributo de alguma coisa senão de incompetência gerencial, por resultar em absolutamente nada, em termos de satisfação do interesse público, que é, em suma, a finalidade primacial da arrecadação dos escorchantes tributos e da sua consequente aplicação. É bastante louvável o registro do fato vergonhoso e deprimente pelo jornal espanhol, que o fez certamente por não depender de contrato publicitário com o governo brasileiro, com a certeza de que não seria castigado caso se tratasse de veículo da imprensa mediática tupiniquim, que dificilmente teria coragem de apontar as verdadeiras mazelas com tanta incisão e transparência como foi feita na reportagem em apreço. O jornal deixou de revelar o fato de que, nem mesmo gastando suntuosas verbas públicas, apenas para mostrar ao mundo a possível capacidade empreendedora do Brasil, o resultado se mostra desanimador pelos desastrosos atrasos das principais obras, que são os estádios, além daquelas consideradas mais importantes para o evento, que seriam as obras de mobilidade urbana, por terem ficado ao largo, posto que, muitas delas, sequer foram iniciadas, apesar de constarem das tabelas de compromissos assumidos com a todo-poderosa Fifa, que vem insistentemente reclamando das autoridades brasileiras sobre o intempestivo cumprimento dos compromissos firmados por ocasião da aceitação de realizar a copa no país. O certo é que, além de decepcionar a organização mundial do futebol, por não ter conseguido atender, com precisão, as obrigações assumidas, em conformidade com os cronogramas físicos das obras, quando muitas jamais foram iniciadas, o governo brasileiro também compromete ainda mais a implementação de obras necessárias à satisfação do interesse público, a exemplo da notória precariedade, entre outras, da segurança pública, cujos mecanismos de proteção poderão claudicar em pleno evento, por falta de preparo e de condições para a cobertura, com a devida garantia e eficiência, da segurança dos turistas e torcedores, uma vez que nem mesmo a população vem tendo a indispensável proteção que a Constituição Federal assegura para os brasileiros, em qualquer tempo, não somente por ocasião de eventos especiais. É lamentável que as autoridades públicas brasileiras sejam insensíveis às gravidades das questões não somente apontadas pelo jornal espanhol, mas sobretudo por especialistas brasileiros, que mostram a urgência do seu saneamento com prioridade bastante distante de qualquer pensamento sobre a realização da Copa do Mundo, por não ser meta de nenhum governo que tenha compromisso com o bem-estar do seu povo, em termos de consecução do desenvolvimento socioeconômico. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 1º de abril de 2014

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