quarta-feira, 23 de abril de 2014

A responsabilidade, de quem?

Diante da complicada situação pela qual passa a Petrobras, totalmente envolta no mar de lama que foram expostos os negócios da empresa, nos últimos dias, em especial com a bombástica compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos da América, em que ficou comprovado o prejuízo do montante de US$ 530 milhões, o ex-presidente da estatal admitiu em entrevista ao Estado sua parcela de responsabilidade no polêmico negócio, mas deixou claro que o ônus deve ser dividido com a presidente da República, que, à época, era presidente do Conselho de Administração da empresa. Ao defender a compra da citada refinaria, alegando as circunstâncias daquele momento, ele disse que o relatório entregue ao mencionado conselho foi realmente "omisso", ao esconder duas cláusulas que constavam do contrato, mas a mandatária do país, que era ministra da Casa Civil e presidia o conselho, "não pode fugir da responsabilidade dela. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões. Mas é legítimo que ela tenha dúvidas.”. Como não poderia ser diferente, ele defende com unhas e dentes a compra da refinaria, que teria sido bom negócio à época. Noutro trecho, ele alfineta sua sucessora, quando afirma que a Petrobrás não foi construída nos dois anos de gestão da atual presidente da estatal e “que a queda do preço das ações da estatal não se deve a Pasadena, mas à conjuntura externa, afetada pela crise financeira global de 2008, e à política do governo de manutenção artificial dos preços da gasolina no Brasil abaixo do mercado internacional. Política que, está contaminada pela disputa eleitoral”. Ele contesta a presidente do país, afirmando que o relatório não tenha sido falho, porém entende que ele foi omisso, por não ter apresentado aos conselheiros as duas cláusulas questionadas (Put Option, que obrigou a Petrobrás a comprar a outra metade da refinaria, e Marlim, que compensaria a então sócia Astra por possíveis prejuízos), “mas isso não é relevante, a meu ver, para a decisão do conselho. O que é relevante é se o projeto é aderente tecnológica e estrategicamente ao que você faz e ter dado rentabilidade com os pressupostos daquele momento. Essas três condições fariam a decisão do negócio.”, O curioso é que ele afirmou na Câmara dos Deputados que a compra da refinaria foi bom negócio, em contraposição ao que foi declarado pela atual presidente da estatal, que, de forma enfática, afirmou que houve má aquisição. Na visão dele, não há divergência alguma entre eles, porque a presidente “disse de forma explícita que hoje ela não faria o negócio, mas que na época foi um bom negócio.”. Causa estranheza que, apesar de os fatos mostrarem que a administração petista contribuiu decisivamente para a bancarrota da Petrobras, com a significativa perda do seu patrimônio, mas seu ex-presidente, não admitindo a visível incompetência gerencial, culpa a oposição por ter feito campanha irresponsável contra a estatal, que “é um patrimônio nacional extremamente bem gerido, com uma competência instalada extraordinária. O ataque só pode ser entendido por interesses eleitoreiros combinados com alguns interesses muito mais complicados.”. Ou seja, mais uma vez, a culpa de notório fracasso petista é atribuída à oposição, por ser responsável pela realização de campanha contra a estatal, com o propósito de se beneficiar eleitoralmente, quando, sabidamente, o Brasil sabe quem arrasou a estatal e a oposição denuncia a precariedade da sua gestão e pretende apurar as irregularidades que resultaram na enorme perda do seu patrimônio, como forma de estancar a sangria de recursos de seus cofres. O ex-presidente insiste em não reconhecer a incompetência gerencial da empresa como fator preponderante para sua frágil situação econômico-financeira, imputando-a à crise financeira mundial, que reduziu a demanda de petróleo dos EUA, e à queda do preço do petróleo e do mercado de ações, a exemplo do que ocorre no Brasil, onde as ações da estatal estão sendo penalizadas em virtude de o reajuste dos preços da gasolina e do diesel no mercado nacional se processar bem abaixo dos preços praticados no exterior. É muito importante que a sociedade se conscientize sobre quem são realmente os responsáveis pelo desastroso gerenciamento da Petrobras, mesmo que uma das principais pessoas envolvidas no imbróglio tente desesperadamente fugir da sua culpa, e entenda que uma empresa da maior relevância para os destinos da nação, no que diz respeito à exploração do potencial energético em seu benefício, jamais pode ficar sob a administração de pessoas que já demonstraram, comprovadamente, má gestão econômico-financeira, sob pena de a continuidade gerencial levar à completa destruição da empresa, que já foi símbolo de competência, eficiência e progresso, nos tempos áureos quando ela ainda não era explorada para a satisfação de finalidades político-eleitoreiras e era administrada por especialistas e técnicos de reconhecida capacidade. Acorda, Brasil!   
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de abril de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário