terça-feira, 1 de abril de 2014

Promiscuidade com recursos públicos

A senadora petista e ex-ministra da Casa Civil criticou, no Senado Federal, a intenção de parlamentares da oposição de criar Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Ela se referiu à "política eleitoral" dos oposicionistas e defendeu, de forma enfática, o "compromisso" com a estatal da presidente da República. A inquietação e o desespero dos governistas são nítidos e aflorados sempre que surgem mais escândalos na administração púbica, de proporções gigantescas, a exemplo dessa injustificável e inexplicável aquisição da refinaria por preço superfaturado, que, a cada dia, são agregados mais valores ao seu custo total, cuja transação, que envolveu mais de US$ 1,2 bilhão, somente será conhecida, nos pormenores, mediante competente investigação séria e responsável, em que pesem tantas apurações e auditorias promovidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e Tribunal de Contas da União, que se arrastam há algum tempo, mas de efetividade nada se sabe, apesar de a compra ter sido concretizada em 2006. Inconformada com a incômoda situação, a senadora afirmou que "Alguns membros (do Parlamento) insistem em fazer política eleitoral para atingir a presidente Dilma (...). E falam em reuniões para discutir sobre a convocação de CPI para saber das responsabilidades de governo e da presidente". Ela disse que "Estive por três anos trabalhando ao lado da presidente Dilma. Sou testemunha da sua correção e do seu compromisso com os interesses do país. Foi a presidente que, mesmo correndo risco de receber críticas, veio a público e disse que votou a favor da compra da refinaria devido a parecer falho jurídica e tecnicamente, que omitia as cláusulas que ela desconhecia". Na verdade, a vinda a público da presidente, para afirmar que votou favorável à aquisição da questionada refinaria, somente confirma a leviandade dela de assinar com próprio punho a compra de refinaria sem sequer antes conhecer os elementos intrínsecos do negócio, a exemplo da cláusula que jurou inexistir, quando ela constava dos autos, segundo sentenciou o então presidente da estatal, fato esse que só atesta o despreparo e a incompetência da mandatária do país para se manifestar sobre assuntos de tamanha magnitude, em que pese se arvorar conhecer e dominar justamente a área da sua especialização no governo. A petista chegou a dizer que as investigações parlamentares objetivam promover "julgamento político" das denúncias, com interesse eleitoral, porquanto o "julgamento técnico" já estaria sendo conduzido pelos órgãos competentes da administração. Há muita incoerência dos governistas que, no passado, quando ainda não estavam no poder, brigavam por investigação parlamentar por qualquer motivo sem a menor importância e não tinha o mínimo de pudor em fazer pré-julgamento sobre os fatos e os envolvidos, que os qualificavam de aloprados, corruptos e outros adjetivos rasteiros. O certo é que os tempos mudam, mas as irregularidades na administração pública assustam pela descomunal agressividade aos cofres públicos, como no caso da aquisição da refinaria causadora de enorme prejuízo à Petrobras, que os governistas ainda tentam, com brutal desfaçatez, defender os envolvidos, quando a seriedade, a prudência, a honorabilidade e o respeito aos princípios da legalidade e da moralidade exigem a imediata apuração das irregularidades, de modo a prestar contas à sociedade dos atos da administração pública, como acontecem normalmente nos países desenvolvidos político e democraticamente. É impressionante como os governistas consideram o povo verdadeiro imbecil, por imaginar o absurdo de que ele também acha normal que a empresa estatal pague mais de bilhão de dólares por uma refinaria micada e inoperante, que havia sido adquirida por tão somente US$ 42 milhões, um ano antes. Tanta promiscuidade somente acontece nas piores republiquetas, cujos governantes não estão obrigados a prestar contas dos seus atos, diferentemente do que ocorre nos países evoluídos, onde predominam a obrigação da observância dos princípios da legalidade, moralidade e transparência. De tanto pedir CPI, quando ainda não era governo e pleiteava o poder, o partido governista, hoje, não pode nem ouvir falar em investigação que estrebucha raivoso e agressivo com a mesma intensidade como fazia no passado, não para evitá-la, mas para realizá-la. Não há dúvida de que houve muita mudança do pensamento dos petistas, porém para pior, justamente porque os fatos irregulares do passado eram prontamente recriminados por eles, mas agora os casos semelhantes são considerados normais, embora eles estejam eivados de irregularidades, não permitindo sequer que eles sejam apurados, como forma de se aquilatar a sua veracidade ou não, como se exigem os princípios democráticos e de civilidade. No caso de irregularidades oriundas no governo, como os escândalos na Petrobras, existe a deliberada tentativa de verdadeiro bloqueio e da imposição de pesada máquina de blindagem posta em ação, com a finalidade de não permitir que o Congresso Nacional, órgão que tem incumbência originária, fiscalize os atos da administração pública, na forma preconizada na Constituição Federal. No Estado Democrático de Direito, os governantes se obrigam aos ditames da lei, no sentido não somente de darem transparência dos seus atos à sociedade, mas de permitir que sua gestão seja passada a limpo, nos casos de denúncias de irregularidades. A sociedade tem competência cívica de fiscalizar as ações e os atos da administração pública, a quem se atribui a responsabilidade de não permitir que os maus administradores públicos continuem desrespeitando os princípios fundamentais da legalidade e da transparência dos seus atos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 31de março de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário