segunda-feira, 30 de junho de 2014

Demonstração de incompetência

Embora os jogos da Copa do Mundo estejam acontecendo em absoluta tranquilidade, apenas com a ocorrência de pequenos incidentes, que não interferem em nada sobre o evento em si, uma vez que, pelo menos, os estádios ficaram prontos a contento, apenas 51,7% das obras de mobilidade urbana e aeroportos nas cidades-sede foram entregues. Agora é espantoso se verificar que, das 45 obras inauguradas pelo governo, 15 não foram completadas, em razão de atrasos e cancelamentos. Também é estranho que, dos 74 projetos de mobilidade urbana e das 13 em aeroportos, 32 simplesmente foram descartadas para a Copa e devem ficar prontas somente depois da competição e se ficarem. Outras dez obras foram inauguradas já no andamento da competição, segundo informação prestada pelos gestores. A incompetência gerencial do governo, com relação aos atrasos ou cancelamentos dos projetos, é justificada, entre outras desculpas, em razão de burocracia, imprevistos, disputas judiciais sobre desapropriações, modificação nos planejamentos iniciais e problemas com empresas contratadas. No Rio Grande do Sul, nove obras, de onze projetadas, somente deverão ser entregues após a copa, salvo as obras próximas do estádio Beira-Rio, que terão prioridade. Em Cuiabá/MT, somente três, de dez obras previstas, ficaram prontas antes da copa. Os demais projetos ficarão para após a competição. Isso ficarem prontas um dia. No Rio de Janeiro, três das quatro obras previstas foram entregues, embora duas incompletas. Conforme o Ministério das Cidades, desde 2007, o governo federal destinou R$ 143 bilhões para investimentos em mobilidade, dos quais R$ 102 bilhões (71,3%) se destinam às obras nas cidades-sede do Mundial. O ministro das Cidades disse que "Todas as obras previstas inicialmente continuam com recursos de financiamento público com juros subsidiados disponíveis e serão concluídas conforme cronograma de execução. Até o momento, oito obras de mobilidade urbana já estão concluídas e 18 empreendimentos estão em operação. O restante está em execução pelos governos estaduais e municipais e será entregue na medida em que for concluído por parte das cidades-sede". O ministério reconheceu que as principais dificuldades para o andamento das obras foram a fragilidade ou a falta de planejamentos de qualidade: "No desenvolvimento dos projetos básicos, o governo federal observou a necessidade de readequações, seja pela redução do número de desapropriações/reassentamentos, por questões ambientais ou de engenharia. A Copa funcionou como catalisador, mas não fizemos investimento para ela, tanto que temos obras (de aeroportos) que vão continuar depois". Na verdade, é rara a constatação da plena execução das obras, sendo comum a constatação de canteiros nas principais cidades do país, que somente serão desmontados após a copa, quando forem concluídas as obras pertinentes. Em Fortaleza, foi montado um terminal provisório no aeroporto, para atendimento ao público. Se houvesse competência, esse vexame teria sido evitado. Apesar da patente irresponsabilidade por não ter cumprido integralmente os compromissos assumidos perante a Fifa, eis que somente foi concluída aproximadamente a metade das obras facilitadoras da mobilidade urbana dos visitantes estrangeiros, a presidente da República se comporta como tivesse alcançado o maior êxito gerencial dos empreendimentos, por não se cansar de elogiar o bom andamento da copa, sempre aproveitando para passar na cara dos críticos o sucesso dos eventos. Nesse caso, o governo se comporta como se a sua obrigação tivesse sido a mais exemplar dos mundos e se ela tivesse sido cumprida a contento e plenamente. No entanto, os fatos mostram que o governo foi incapaz de atender, embora tivesse sete anos para tanto, os compromissos que, por certo, se os fizesse não teria sido nada de especial, mas apenas o cumprimento da palavra dada para a realização da copa no Brasil. Não deixa de causar estranheza o fato de a presidente contabilizar vitória, apesar das precariedades consistentes nos atrasos de obras e no cancelamento de contratos pertinentes à mobilização urbana, que ela jamais poderia ignorar, por se tratar de empreendimentos da sua inteira responsabilidade. A sociedade tem o dever patriótico de recriminar o desleixo na administração do país e exigir que os governantes sejam responsabilizados pela falta de zelo no cumprimento dos compromissos assumidos pelo Estado. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de junho de 2014

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