Embora os jogos da
Copa do Mundo estejam acontecendo em absoluta tranquilidade, apenas com a ocorrência
de pequenos incidentes, que não interferem em nada sobre o evento em si, uma
vez que, pelo menos, os estádios ficaram prontos a contento, apenas 51,7% das
obras de mobilidade urbana e aeroportos nas cidades-sede foram entregues. Agora
é espantoso se verificar que, das 45 obras inauguradas pelo governo, 15 não
foram completadas, em razão de atrasos e cancelamentos. Também é estranho que,
dos 74 projetos de mobilidade urbana e das 13 em aeroportos, 32 simplesmente foram
descartadas para a Copa e devem ficar prontas somente depois da competição e se
ficarem. Outras dez obras foram inauguradas já no andamento da competição,
segundo informação prestada pelos gestores. A incompetência gerencial do
governo, com relação aos atrasos ou cancelamentos dos projetos, é justificada,
entre outras desculpas, em razão de burocracia, imprevistos, disputas judiciais
sobre desapropriações, modificação nos planejamentos iniciais e problemas com
empresas contratadas. No Rio Grande do Sul, nove obras, de onze projetadas,
somente deverão ser entregues após a copa, salvo as obras próximas do estádio
Beira-Rio, que terão prioridade. Em Cuiabá/MT, somente três, de dez obras
previstas, ficaram prontas antes da copa. Os demais projetos ficarão para após
a competição. Isso ficarem prontas um dia. No Rio de Janeiro, três das quatro
obras previstas foram entregues, embora duas incompletas. Conforme o Ministério
das Cidades, desde 2007, o governo federal destinou R$ 143 bilhões para
investimentos em mobilidade, dos quais R$ 102 bilhões (71,3%) se destinam às obras
nas cidades-sede do Mundial. O ministro das Cidades disse que "Todas as obras previstas inicialmente
continuam com recursos de financiamento público com juros subsidiados
disponíveis e serão concluídas conforme cronograma de execução. Até o
momento, oito obras de mobilidade urbana já estão concluídas e 18
empreendimentos estão em operação. O restante está em execução pelos
governos estaduais e municipais e será entregue na medida em que for concluído
por parte das cidades-sede". O ministério reconheceu que as principais
dificuldades para o andamento das obras foram a fragilidade ou a falta de
planejamentos de qualidade: "No
desenvolvimento dos projetos básicos, o governo federal observou a necessidade
de readequações, seja pela redução do número de
desapropriações/reassentamentos, por questões ambientais ou de engenharia. A Copa funcionou como catalisador, mas não
fizemos investimento para ela, tanto que temos obras (de aeroportos) que vão continuar depois". Na
verdade, é rara a constatação da plena execução das obras, sendo comum a constatação
de canteiros nas principais cidades do país, que somente serão desmontados após
a copa, quando forem concluídas as obras pertinentes. Em Fortaleza, foi montado
um terminal provisório no aeroporto, para atendimento ao público. Se houvesse
competência, esse vexame teria sido evitado. Apesar da patente
irresponsabilidade por não ter cumprido integralmente os compromissos assumidos
perante a Fifa, eis que somente foi concluída aproximadamente a metade das
obras facilitadoras da mobilidade urbana dos visitantes estrangeiros, a
presidente da República se comporta como tivesse alcançado o maior êxito
gerencial dos empreendimentos, por não se cansar de elogiar o bom andamento da
copa, sempre aproveitando para passar na cara dos críticos o sucesso dos
eventos. Nesse caso, o governo se comporta como se a sua obrigação tivesse sido
a mais exemplar dos mundos e se ela tivesse sido cumprida a contento e
plenamente. No entanto, os fatos mostram que o governo foi incapaz de atender,
embora tivesse sete anos para tanto, os compromissos que, por certo, se os
fizesse não teria sido nada de especial, mas apenas o cumprimento da palavra
dada para a realização da copa no Brasil. Não deixa de causar estranheza o fato
de a presidente contabilizar vitória, apesar das precariedades consistentes nos
atrasos de obras e no cancelamento de contratos pertinentes à mobilização
urbana, que ela jamais poderia ignorar, por se tratar de empreendimentos da sua
inteira responsabilidade. A sociedade tem o dever patriótico de recriminar o
desleixo na administração do país e exigir que os governantes sejam
responsabilizados pela falta de zelo no cumprimento dos compromissos assumidos
pelo Estado. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de junho de 2014
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