domingo, 30 de novembro de 2014

O merecido governo?

Destacado e célebre articulista do site IG teria levantando a tese segundo a qual o presidente do Superior Tribunal Eleitoral e um ministro desta corte arquitetaram e puseram em curso estratégia para o impeachment da presidente da República, com alerta sobre a possibilidade de se encontrarem ligações entre a Operação Lava Jato e a campanha eleitoral de 2014, ou seja, aquelas autoridades estariam à procura, nas contas de campanha, de sinais de contaminação do Caixa 1.
Com base nos documentos da prestação de contas do PT e da campanha da presidente da República, ministros da Justiça eleitoral esperam encontrar elementos suficientes para suscitar o terceiro turno da campanha presidencial.
Noutro artigo o famoso jornalista levantou idêntica tese, com a suspeita de que o juiz responsável pela Operação Lava Jato teria antecipado para 2014 a quebra do sigilo das empresas do doleiro beneficiado com delação premiada, para facilitar o fornecimento dos elementos para a Justiça eleitoral, com vistas a respaldar o processo do impeachment da mandatária do país.
Causa enorme perplexidade se perceber a insistência do articulista de manter acesa a luz da discussão sobre o impeachment da presidente da República, tendo por base absurdas suposições, sem a menor base para fundamentação.
É muito estranho que ele insista em fornecer munição para ilações ao vento, que não levam a absolutamente nada, porque os fatos apontados nos seus artigos estão muito mais relacionados com o mundo do imaginário, por serem desprovidas senão de artificialismo de pura irresponsabilidade profissional, certamente com o propósito de avaliação sobre o sentimento da sociedade com relação ao afastamento da presidente da República, em razão das denúncias de corrupções que enlamearam a gestão dela.
Causa espanto se perceber que os fatos citados pelo articulista, por si sós, não são suficientes para suscitar as medidas capazes de provocar o afastamento da presidente do cargo, mas, sem a menor dúvida, se o Brasil fosse um país com o mínimo de seriedade, as graves denúncias sobre roubalheiras, somente na Petrobras, já seriam mais do que suficientes para o afastamento dos cargos não somente da presidente da República, mas de todos seus asseclas, indo até o porteiro palaciano, porque os fatos são maculadores, à toda evidência, da dignidade e da honorabilidade da administração pública, que passou a ser completamente desacreditada e desmoralizada pelas pessoas cônscias sobre o verdadeiro senso de honestidade e de probidade na aplicação de recursos públicos, não tendo a menor possibilidade de o país ser governado por quem não teve capacidade para evitar que o patrimônio da principal empresa brasileira fosse dilapidado justamente por partidos, que, segundo os delatores da delação premiada, integram o governo e a sua base de sustentação, em evidente ferimento aos princípios da moralidade, legalidade e honestidade.
Impende se ressaltar que, nos países minimamente sérios e evoluídos, com seu povo conscientizado sobre o verdadeiro sentido do que seja moralidade, honestidade, dignidade, responsabilidade e zelo pela coisa pública, não precisava haver tsunami nem catástrofe na administração pública para o afastamento dos governos, porque o simples fato da existência de fortes denúncias de irregularidades já constitui elemento capaz de a sociedade desaprovar a continuidade do governo.
O  exemplo mais expressivo de afastamento de governante desmoralizado por corrupção pode ser apontado o caso do ex-presidente alagoano, que teria se beneficiado de valores equivalentes a roubos de galinhas (em apenas milhares de reais), se comparados aos suntuosos valores desviados da Petrobras (em bilhões de reais), fato que se torna ainda mais emblemático se se atentar que o principal interessado, à época, pelo impeachment do alagoano foi exatamente o PT, que atualmente se encontra no olho do furacão, mas não corre risco de punição, porque conta com o importante apoio da maioria dos eleitores, que consideram perfeitamente normais tanto a incompetência administrativa, a exemplo do pífio desempenho das políticas econômicas, com o ridículo crescimento do Produto Interno Bruto, as altas taxas de juros, o descontrole das contas públicas, da inflação, das dividas públicas etc., como a desmoralização decorrente das corrupções, principalmente as irregularidades que tomaram conta das dependências da Petrobras e não tem prazo para sair tão cedo de lá.
Compete exclusivamente à sociedade, no âmbito do usufruto do Estado Democrático de Direito, ter e manter o governo escolhido na forma democrática, pouco importando suas qualidades político-administrativas, posto que os brasileiros que apoiaram a governança atual, à luz da contextualização das precariedades gerenciais da nação, merecem o governo que têm, justamente por terem optado por sua continuidade, embora cientes da gravidade das mazelas e das deficiências da sua gestão. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 29 de novembro de 2014

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