terça-feira, 16 de junho de 2015

O preço da incompetência

Com a espantosa taxa de juros de 13,75% ao ano, o Banco Central impõe ao país dose forte e amarga para retroagir a inflação oficial para a meta de 4,5%. No momento, o IPCA vem situando em torno de 8,5%. Nos últimos 4 anos, ele esteve sempre nos arredores de 6%.
Nos comunicados do BC sobre as decisões do Copom, não se vislumbra queda da Selic, em curto prazo, ou seja, os juros já são os maiores do mundo, mas a tendência é que ainda há espaço para superar à casa dos 14%, muito em breve, fato que causa a maior preocupação na população e no parque industrial, à vista da drástica restrição dos créditos para o consumo e os investimentos, dificultando ou inviabilizando a produção nacional.  
Causa a maior perplexidade e até dificuldade para se entender o motivo pelo qual os juros sejam elevados sucessivamente, na tentativa de se controlar os preços, mas o dragão da inflação se mostra cada vez mais indomável e faminto, em que pese a condução da política monetária esteja sendo feita pela mesma direção da primeira gestão da petista, que teve a insensibilidade de baixar, por capricho, ou seja, sem fundamento técnico plausível, os juros para 7,25% ao ano, quando a inflação se posicionava perto de 6%. Depois disso, logo o governo foi obrigado a subir os juros, de forma sucessiva, sem conseguir conter as expectativas de piora dos preços.
Enquanto os juros sobem e a inflação toma o mesmo caminho ascendente, quando deveria ser exatamente o contrário, diante do remédio amargo aplicado à economia, a agência de classificação de risco Moody’s aproveita o embalo para alertar o Brasil e criticar o atual desequilíbrio da economia brasileira e até mesmo a receita que ele vem adotando para corrigi-la.
Por certo, há verdadeiro impasse na política econômica, à vista do notório crescimento do endividamento público e do corte insuficiente de gastos públicos para estancar a elevação da dívida,  entremeados com a subida dos juros, para encarecer de maneira expressiva e ainda mais o pagamento pelos títulos que financiam o Estado brasileiro.
Muitos economistas já concluíram que o Brasil, por meio de sua política de juros altíssimos, tornou-se perigosamente refém da “armadilha dos juros altos”, por ter se acostumado à ideia fatídica das consecutivas elevações da taxa Selic, chegando agora a 13,75%, que é o maior patamar em nove anos, com a inflação ultrapassando a meta oficial e beirando os 8,5%, cujos juros reais se aproximam dos 6%, representando um dos mais altos do planeta terráqueo.
Por mais que as lições tenham sido trágicas para os interesses dos brasileiros, o país já se tornou campeã mundial em pagamento de juros sobre a dívida pública, que consiste no montante aproximado de R$ 2,3 trilhões. Quando há aumento de apenas meio ponto percentual na taxa Selic, automaticamente o Brasil se obriga ao pagamento, sem qualquer base substancial, da bagatela de mais R$ 12,5 bilhões somente este ano, cujo valor se soma aos juros já contratados de mais de R$ 316 bilhões aos credores, durante os 12 meses.
De nada adiante o esforço do governo de cortar R$ 69 bilhões no bojo do ajuste fiscal, para se tentar cumprir a meta de economizar 1,1% do PIB, ou seja, R$ 66 bilhões, ainda faltariam os trocados de R$ 250 bilhões para fechar as contas públicas.
Na realidade, o sacrifício imposto pelo ajuste fiscal, que o governo alega que teria cortado na carne, não passa de velho e surrado engodo, para iludir os menos informados, tendo em vista que a retirada das verbas do orçamento é apenas tremendo artificialismo para que o rombo das dívidas não complique ainda mais a situação das contas públicas, que contabilizam muito mais despesas do que receitas, comprometendo seriamente os investimentos, que ficam prejudicados pela notória escassez de recursos.  
Em razão da gastança com os juros altíssimos e da falta de recursos do Tesouro, o governo só conta com a alternativa de passar a fatura para a sociedade, com a imposição de tributos mais altos e realinhados com a obrigação do pagamento dos juros das dívidas públicas, sob pena de sofrer penalização pelas agências de classificação de risco, mediante a baixa do nível confiável de investimentos no país.
Na verdade, a situação econômica do país fica bastante complicada e de difícil solução, porque a tentativa do governo de frear, por meio dos juros nas alturas, o consumo e os investimentos, acarreta o inexorável aumento da dívida pública, em pernicioso mecanismo de retroalimentação financeira que o contribuinte é encarregado, compulsoriamente, a pagar a continha braba e irresponsável do Estado.
Essa farra com os juros incontroláveis contribui para aumentar as dívidas e o Tesouro vai recorrer, para pagá-la, aos contribuintes, por meio da cobrança de mais tributos, ou ao mercado, sendo que este exige juros ainda maiores, fato que faz aumentar ainda mais as dívidas públicas, em verdadeiro ciclo vicioso altamente prejudicial aos interesses nacionais, devido à redução da capacidade de consumo e de investimentos, tendo diretos reflexos no resultado do Produto Interno Bruto, exatamente pelo arrefecimento e empobrecimento da produção nacional.
Percebe-se, com clareza solar, que a elevação dos juros tem reflexo direto não somente nas dívidas públicas, mas em especial no estrangulamento dos créditos destinados ao consumo e aos investimentos, com forte e injustificável contribuição para turbinar o já considerável desemprego, a redução da renda dos trabalhadores, a diminuição da competitividade da produção nacional, a redução da arrecadação de tributos, a escassez de recursos para investimentos público e privado, ou seja, quanto mais juros, mais arrocho sobre a crise econômica e o descrédito sobre a administração do país, visto que o governo não consegue combater os males que afligem terrivelmente os brasileiros.
Convém que o governo tenha a sensibilidade e a consciência de que urge a racionalização, de forma efetiva e concreta, das despesas públicas, mediante o enxugamento para valer da máquina pública e a priorização das políticas públicas, de modo que sejam definitivamente cortados os gastos com a abundância dos desperdícios e das precariedades causadas pela resistência à saudável reformulação dos arcaicos e obsoletos mecanismos do Estado, que há muito tempo vem exigindo a modernização dos sistemas tributário, previdenciário, administrativo, trabalhista, político, tecnológico, entre outros que igualmente estão contribuindo para o emperramento do progresso do país.
A administração do país não pode funcionar sob o império da incompetência e da eficiência, em ambiente de precariedade e arredio às salutares condições de modernidade e de racionalidade que se impõem nos países com as potencialidades brasileiras, que não podem abdicar do desenvolvimento social, político, econômico e democrático, tão somente pelo inaceitável e criminoso comodismo da sociedade de aceitar passivamente as práticas político-administrativas de destruição dos princípios da competência e da eficiência na gestão dos recursos públicos, à vista do perverso e prejudicial mecanismo de se aumentar injustificadamente a Selic, com consequente crescimento das dívidas públicas e dos juros, cujo ônus dessa irresponsabilidade é repassado para a sociedade, que não contesta tamanho absurdo. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 16 de junho de 2015

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