quarta-feira, 10 de junho de 2015

Os efeitos da crise profunda

As lideranças petistas acreditam que o PT somente reagirá da crise profunda se a presidente do país tiver condições de reagir de forma heroica, suplantando a muralha atrás da qual ela própria se colocou, por ter feito governo indiscutivelmente desastroso no primeiro mandato.
A primeira grande crise do PT, desde que a agremiação tomou conta do poder, foi sem dúvida o escândalo do mensalão, que deu azo à oposição para se cogitar, com total cabimento, o impeachment do então presidente da República, mas as lideranças petistas, ainda com poder de aglutinação dos movimentos simpatizantes ao petismo, conseguiram abafá-la, sob a forma de ameaça de se colocar multidões fanatizadas nas ruas, para defender o mandatário do país, cuja manobra terminou sendo exitosa, permitindo a passagem do “andor”, sem trauma.
Agora, parece que o caso é mais complicado, por força da segunda e estrondosa crise de credibilidade, eclodida por intermédio das investigações da Operação Lava-Jato, que expuseram à luz do dia, de forma minuciosa e incontestável, as vísceras das irregularidades e corrupções, deixando transparecer para o mundo a gigantesca e descomunal roubalheira jamais imaginável na história da República, que foi encabeçada exatamente por integrantes do partido do governo e de agremiações da sua base de sustentação, cujas propinas eram destinadas aos cofres desses partidos, em evidente demonstração de degradação dos princípios da moralidade, legalidade e dignidade que se impõem na administração pública séria e zelosa do patrimônio da sociedade.
O certo é que o governo e o seu partido não conseguem assimilar e dar o devido trato às sucessivas pancadas nos seus lombos, em razão de tantos casos de indignidade protagonizados contra o interesse público, que culminaram com as ondas de manifestações de protestos nas ruas e com elas vieram as frequentes quedas de popularidade da presidente petista, que permanece completamente tonta, zonza e atordoada diante dos torpedos vindos das ruas, com recados curtos e grossos de que seu governo é um mar de incompetência, que gera muita insatisfação ao povo, por prejudicar terrivelmente os interesses da nação.
Não há a menor dúvida de que a maior crise da história do PT não tem como ser disfarçada, diante da incompetência administrativa e gerencial, notadamente com a tragédia instalada na condução da economia e na precária prestação dos serviços públicos, cujos indicadores são visivelmente desanimadores e prejudiciais aos interesses da nação, com claras perspectivas de aprofundamento da crise político-administrativa e terríveis reflexos para a sociedade, que tem sido obrigada a pagar o ônus da má administração do país.
Na atualidade, há motivos suficientes para o PT se preocupar com a sua situação de visível falta de credibilidade, porque as mobilizações das ruas eclodiram não por sua iniciativa para convocá-las, como sempre ocorria no passado, mas sim pela espontânea vontade do povo sem partido, para demonstrar forte e arraigado idealismo de defesa dos interesses do Brasil, cuja participação popular superou a extraordinária manifestação realizada nos idos da campanha pelas eleições diretas, em 1984, sendo que, agora, elas tiveram o poder de mostrar, com muita clareza, estrondosa rejeição ao governo e ao seu partido.
          Diante do descrédito do governo e da onda de rejeição ao seu partido, pesquisa especialmente encomendada revelou que a avaliação do PT é pior até que o desempenho do governo da petista, que obteve, na ocasião, a pontuação de 13% de “ótimo” e “bom”, enquanto o partido mereceu aprovação de menos de 10%.
Junto com a pesquisa, foram levantados outros pontos comuns do diagnóstico de dificuldades, quais sejam, faltam quadros expressivos para o debate político; a representatividade do PT está subdimensionada no governo e no Congresso Nacional; os movimentos sociais se distanciaram da sigla; e a classe média dos grandes centros urbanos encabeça os movimentos anti-PT, tudo conspirando contra a recuperação da imagem do partido no curto prazo, ante os efeitos destrutivos acumulados pelos desastrosos resultados da economia e das investigações da Operação Lava-Jato, que são realidades incontestáveis de difícil remendo por meio apenas de discursos vazios e destituídos de conteúdo, como aqueles próprios arranjados pelas lideranças petistas, nos momentos de dificuldades, que a sociedade já não os atura mais.
Compete à sociedade se manter em permanente mobilização, para avaliar o desempenho do governo, manifestando-se precisamente em repúdio à má administração do país, que não pode continuar sendo prejudicado pelas precariedades e deficiências na condução das políticas públicas, que são executadas ao sabor das conveniências política e oportunista, notadamente na política econômica, cujos indicadores apontam para forte recessão, com drásticos reflexos no desemprego, no aumento da inflação, na redução da renda dos trabalhadores, na desindustrialização, na significativa diminuição da arrecadação, na falta de investimentos público e privado e, enfim, na intensificação dos gargalos prejudiciais ao desenvolvimento do país e mais especificamente na piora das condições de vida da população. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 10 de junho de 2015

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