sexta-feira, 26 de junho de 2015

Cadê a aposição?

Nos cinco meses deste ano, as contas do governo registraram superávit primário - economia para pagar juros da dívida pública - de apenas R$ 6,62 bilhões, que representa o pior resultado para período semelhante desde 1998, ou seja, em 17 anos, segundo informações divulgadas pela Secretaria do Tesouro Nacional.
O aludido resultado representa queda de 65,6% em relação a idêntico período de 2014, quando o superávit primário ficou em R$ 19,28 bilhões. Em 1998, resultado análogo a esse foi positivo de R$ 4,9 bilhões, segundo estatística da referida secretaria.
O Tesouro Nacional informou que, somente no mês de maio, houve déficit primário - receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida pública - de R$ 8,05 bilhões, que foi melhor do que o resultado fiscal do mesmo período do ano passado, no montante negativo de R$ 10,44 bilhões.
O montante arrecadado dificulta o atingimento da meta governamental de superávit primário fixada para 2015, do valor de R$ 55,3 bilhões, porque o esforço fiscal até maio, na cifra de R$ 6,62 bilhões, representa tão somente 12% da meta para todo ano, quando seria desejável o superávit médio de R$ 6,95 bilhões por mês.
O fraco comportamento da arrecadação federal, que tem o pior desempenho de janeiro a maio desde 2011, afetou os resultados das contas públicas, cujas receitas tiveram significativa queda devido ao baixo nível de atividade econômica, em decorrência das desonerações de tributos havidas nos últimos anos, justamente na tentativa de estimular o Produto Interno Bruto e o nível de emprego, as quais não foram plenamente revertidas pelo governo.
A situação da arrecadação se encontra bastante precária, mesmo o governo tendo aumentado tributos sobre combustíveis, automóveis, empréstimos, importados, receitas financeiras de empresas, exportações de produtos manufaturados, cerveja, refrigerantes e cosméticos, e reduzido benefícios sociais, como o seguro-desemprego, o auxílio-doença, o abono salarial e a pensão por morte, por meio das medidas constantes do ajuste fiscal, já aprovado pelo Congresso Nacional.
Causa enorme estranheza que a visível e drástica situação econômico-financeira que se abate sobre as cabeças dos brasileiros não seja capaz de mover um centímetro de esperteza da insossa, omissa e ineficiente oposição, que, neste momento, tem excelente oportunidade para cair de pau em cima do governo e mostrar à população que as políticas públicas estão na contramão da competência e da eficiência, cujas precariedades na condução das ações e políticas públicas estão prejudicando seriamente as condições de vida da população.
Apesar das visíveis dificuldades na administração do país, o governo continua com a firme convicção de preservar a máquina pública como cabide de empregos, mediante a manutenção do repugnável fisiologismo e a incapacidade para controlar a ascendente inflação, os altíssimos juros, as contas públicas, que extrapolaram os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal, a prestação de serviços públicos insatisfatórios e de questionável qualidade, além de outras tantas mazelas que estão dificultando os investimentos públicos e a melhoria das condições de vida da população, embora seja obrigada ao pagamento de pesada carga tributária, uma das maiores do mundo.
O desempenho tributário-fiscal do governo nunca foi tão conflitante, diante das medidas de ajuste fiscal que teriam por fundamento, segundo alegado por ele, exatamente o crescimento das receitas, já que houve aumento de diversos impostos, que praticamente não apareceram em razão do processo de retração do consumo e da produção, que foi afetado, principalmente, pela falta de visão reformista das péssimas e antiquadas estruturas do Estado, que persiste com as práticas há décadas, em serventia dos interesses e das conveniências políticas pessoais e partidárias, em cristalino prejuízo do interesse público.
A maneira recomendável para melhorar o desempenho da arrecadação diz respeito à urgente reforma do sistema tributário e de outros sistemas obsoletos e ultrapassados vigentes, que estão travando os mecanismos, em especial, da produção, por meio da racionalidade dos tributos e dos instrumentos capazes de contribuir para o desenvolvimento do país, como forma de se aliviar o draconiano custo Brasil, que tanto ajuda a sufocar o processo produtivo e a competitividade, em evidente destruição da capacidade de industrialização, além de atentar contra o estímulo ao consumo. 
A esperança dos brasileiros é a de que apareça, nessas horas difíceis, a verdadeira oposição, nos moldes daquela que funcionava antes de o PT galgar o poder, com a devida garra da competência para contrapor às desastrosas ações e políticas do governo, mostrando, caso a caso, as causas dos erros e as medidas aconselháveis tecnicamente para corrigi-los, de modo didático e na linguagem do povão, deixando patenteada a veemência do inconformismo com as medidas pífias que levaram às falhas, por ação ou omissão das autoridades públicas.
Em termos políticos, a oposição perde excelente oportunidade de cobrar dos homens púbicos o estrito cumprimento do seu dever institucional, cujas iniciativas seriam de bom grado que fossem divulgadas, para que, não somente os fiscalizados, mas os eleitores possam conhecer os resultados das atuações da oposição, certamente em benefício do interesse público.
Por que será que, na avaliação dos partidos de oposição, as falhas e até mesmo as irregularidades, a exemplo das escrachadas “Pedaladas Fiscais”, não são objeto de repúdio e de cobrança, como forma de se exigir que os governantes observem as normas constitucionais e legais aplicáveis aos casos inquinados de irregulares, sem necessidade de se esperar que o trabalho da oposição seja promovido, nem sempre com tanta eficiência, somente nas campanhas eleitorais, quando ele é indiscutivelmente ainda mais eficiente e produtivo no dia a dia, para que a sociedade saiba que a oposição existe e procura cumprir fielmente a sua importante missão constitucional e legal, também de fiscalizar pari passu a aplicação dos recursos públicos? Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 26 de junho de 2015

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