terça-feira, 23 de junho de 2015

Quem não deve, teme?

Na véspera dos depoimentos à Polícia Federal dos presidentes das duas maiores empreiteiras do Brasil, o governo e os caciques petistas demonstraram descomunal temor, conforme indicativos colhidos reservadamente, de que o ex-presidente da República petista esteja como nunca na mira do juiz federal responsável pelos processos relativos ao esquema bilionário de corrupção na Petrobras, objeto das investigações da Operação Lava-Jato.
O grupo mais próximo ao ex-presidente vem atacando, em surdina, mas de forma severa, a completa apatia da presidente do país diante do agravamento da crise política e dos danos causados ao partido e ao governo pelas investigações da Operação Lava-Jato, com a insinuação de que ela teria lavado as mãos, deixando à deriva os interesses da agremiação.
Nessa mesma linha de entendimento, estão inseridas as omissões de alguns ministros, que demonstram total desinteresse em agir e tentar controlar a situação, que se mostra preocupante, diante do possível envolvimento de caciques petistas nas irregularidades cujos fatos não param de vir à tona, com evidência cada vez mais capaz de comprometer a já desgastada imagem do partido e de suas lideranças.
No momento, há a avaliação da cúpula petista de que a tensão vem subindo a cada instante, principalmente pelo fato de que a presidente brasileira teria recebido recado dos executivos da principal empreiteira do país, com claro alerta ao Palácio do Planalto de que eles não irão aceitar barato as suas prisões, dando a entender que cabeças poderão rolar, cujo aviso deixou meio mundo preocupado e com as orelhas em pé, por haver temor de que casos comprometedores podem não ser mais poupados, o que pode mexer definitivamente com as estruturas do poder e do partido.
Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o próprio ex-presidente já teria se antecipado em reconhecer que a prisão dos dois maiores empreiteiros do país seria forte evidência de que ele será o próximo alvo da Operação Lava-Jato. O petista se queixa que a presidente do país teria minimizado o impacto político da aludida operação por orientação do ministro-chefe da Casa Civil, que não tem sido poupado das críticas de seus correligionários.
Por sua vez, o ex-presidente, em encontro com religiosos no seu instituto, em São Paulo, não poupou ácidas críticas à presidente petista, ao declarar que ela se encontrava no “volume morto”, inclusive reclamando sobre a falta de disposição dela para viajar pelo país e defender seu governo, além de também ter afirmado que os ministros do PT não falam, ou seja, “É um governo de mudos.”.
É absolutamente indispensável que chegue, enfim, o momento de o ex-presidente se dignar a ser investigado por organismo independente e imparcial, ao invés de ficar o tempo todo se defendendo com meras evasivas e culpando seus correligionários por não agir em sua defesa. Há enorme interesse do país que se averigue, com a máxima urgência, o que realmente existe ou não contra o homem mais acusado na face da terra de ter se beneficiado de recursos públicos, embora ele nunca se dispusesse a contribuir para provar a sua inocência, preferindo despistar habilmente das acusações sobre enriquecimento ilícito, traficância de influência para beneficiamento de empresários e outras traquinagens prejudiciais aos interesses nacionais.
Por seu turno, a investigação sobre a vida pregressa do homem mais poderoso do PT tem a certeza de que ninguém neste país está acima da lei nem de ninguém, que nunca possa ser investigado, mesmo que haja somente indícios de irregularidades, porque as apurações têm o condão de possibilitar o levantamento dos fatos denunciados e de atestar a sua legitimidade ou ainda de, conforme o caso de não constatação de nada contra ele, o resultado das investigações puder contribuir, de forma valiosíssima, para atestar, em definitivo, a honradez e o bom caráter de quem vive sob eterno estado de desconfiança e descrédito.
Não obstante, caso sejam comprovados desvios de conduta, com alguma ilicitude de procedimento ou até mesmo apropriação indevida de recursos públicos, será o fim da linha daquele que vive se vangloriando de ter sido o eterno salvador da pátria e de ter vida ilibada.
Nunca na história deste país, é tão importante se investigar os grandes e famosos políticos, que deveriam ter quebrados seus segredos bancário, fiscal, telefônico e patrimonial, sempre em casos de denúncias ou suspeitas de irregularidades praticadas, como forma se tornarem ostensivos os fatos objeto de eterna suspeição, sobretudo porque os homens públicos têm o dever constitucional, legal e moral de prestar contas à sociedade de seus atos, como meio de se privilegiar os princípios republicano e democrático.
No momento de grave crise de credibilidade, os políticos deveriam ser convocados, sob a modalidade de grande mutirão, para comprovarem a licitude de seus atos, como forma de julgamento político e de passar a limpo as suas histórias de homens públicos, em atenção aos princípios constitucionais da transparência, dignidade, moralidade e legalidade, quando então seriam alijados da vida pública os maus políticos que recebem dinheiros sujos das grandes empresas, sob a forma da costumeira e abominável corrupção, que se ramificou incontrolavelmente na administração do país.
O momento é bem apropriado para que as pessoas de bem, que estão presas, digam o que realmente aconteceu de bom e de errado, como forma de se fazer a devida justiça e de satisfazer a sua consciência cívica, em benefício próprio e do país, tanto mais por questão ética que deve prevalecer por parte dos proprietários das construtoras, não somente das grandes, porque elas têm enorme responsabilidade pelo destino do país e não podem continuar sob a égide da desonestidade, das barganhas, da ilicitude e das falcatruas, sempre sob praticando o jeitinho brasileiro de se levar vantagem partilhada em vergonhosas negociatas com recursos públicos, à vista dos fatos apurados na Operação Lava-Jato, que confirmam a sem-vergonhice e o mau caráter das empreiteiras, que constituíram indigno clube próprio para fraudar os princípios da legalidade, honestidade e nobreza nas relações com a administração públicas.
Causa estranheza que haja tanto temor diante de simples depoimentos de empresários, quando melhor seria que as pessoas potencialmente envolvidas se respaldassem apenas nas suas consciências do dever cumprido, licitamente, por força das reiteradas afirmações de terem exercido seus cargos em estrita observância dos princípios da dignidade e da honradez.
Parece muito evidente que o simples fato de haver explícita, incontrolável e terrível preocupação com depoimentos de pessoas importantes, responsáveis pela execução de grandes obras do governo, mesmo sem se saber ainda o seu conteúdo, já é forte pressentimento de que algo errado, comprometedor pode vir à tona, com capacidade tal para desestruturar por completo o restante do já desgastado homem público que não se cansava de esbravejar que, no Brasil, ninguém é mais honesto do que ele.
Urge que a sociedade se conscientize de que os fatos que estão sendo apurados na Operação Lava-Jato são altamente comprometedores e prejudiciais aos interesses nacionais, motivo pelo qual é de suma importância que as investigações sejam amplas, gerais e abrangentes, inclusive sobre famosos homens públicos, para que não restem dúvidas quanto à licitude de seus atos, que estão sempre colocados sob suspeitas diante de possíveis depoimentos bombásticos, normalmente em tom de alerta sobre a quebra de compromissos, tudo a ensejar o repúdio da sociedade diante da ausência da salutar transparência, que é imperiosa na administração do país. Acorda, Brasil!
                  
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de julho de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário