segunda-feira, 29 de junho de 2015

A predominância da impunidade

A onda de violência cometida, nos últimos dias, por adolescentes contribuiu para o recrudescimento do já acalorado debate sobre a redução da maioridade penal e a divisão ainda mais acentuada das opiniões de especialistas acerca do caso.
Um renomado professor de Direitos Humanos da FGV-Direito/Rio firmou posição contrária à redução em tela, sob o argumento simplório de que apenas pequena parcela dos jovens internados em centros socioeducativos cometeu crimes como homicídios e latrocínios e a medida seria inócua para coibir a violência.
Ele afirmou, in verbis:Para usar uma metáfora, é um tiro de canhão para matar uma mosca. Se o objetivo da medida é diminuir a criminalidade, acredito ser ineficaz. A paixão gerada por esse debate deveria ser dirigida a temas como a capacidade de investigação dos crimes.”.
Por sua vez, um desembargador, que trabalha com a análise de casos envolvendo a delinquência juvenil, defende a redução em causa para 16 anos de idade, tendo em conta a sua experiência na área criminal e o seu sentimento de que, na maioria das vezes, maiores de 16 que praticam infrações têm consciência de seus atos e, por isso, devem responder pelo crime que cometem.
O magistrado reforçou sua opinião com a afirmação de que: “Acho difícil que os jovens que mataram o médico não tenham plena consciência de que estavam tirando a vida de um homem, mesmo que tenham menos de 18 anos. E a redução da maioridade tem a ver com isso, e não com enfoques como a questão da educação - afirma ele, sugerindo que menores de 21 anos cumpram penas em presídios separados dos demais.”.
Já um criminalista tem opinião diferente do desembargador, por achar natural que o debate venha à tona em razão do alarmante crescimento da criminalidade, quando o tema deveria cingir-se à reforma do sistema carcerário no país. Ele diz que “Seria a favor da redução se houvesse ampla reforma no sistema penitenciário. Mas, nas atuais condições degradantes e de prisões dominadas por facções criminosas, sou contra. Nesse caso, a situação só pioraria.”.
É muito importante que a questão da redução da maioridade penal seja debatida pela sociedade, que é o foro adequado para a análise e a avaliação de tema que a envolve e a preocupa, por ser objeto de bastante polêmica, diante da realidade da violência visível, atuante e marcante, que incomoda e maltrata a população no seu dia a dia, em contraposição à total demonstração de inércia e omissão do Estado, que tem a incumbência constitucional de protegê-la, mas os fatos mostram à saciedade que a impunidade é a marca predominante no seio da violência juvenil, não importando, nesse caso, a quantidade de menores envolvidos na criminalidade, mas sim as suas gravidade e periculosidade, que têm sido marcantes e já ultrapassaram os limites da tolerância, quanto aos aspectos de civilidade e humanidade, que precisam ser urgentemente levados em conta pelas autoridades incumbidas de cuidar dessa questão.
Diante disso, há absoluta concordância dos brasileiros com a redução em tela, justamente por serem favoráveis à implantação de medidas concretas de combate à criminalidade em geral e, em especial, à juvenil, diante da sua viabilidade mais palpável, em curto prazo, por ser a única medida que se encontra pautada, à míngua de alternativa que nunca será concretizada, caso ela dependa da iniciativa do governo, que apenas lidera manifestação contrária à redução em comento, mas não esboça absolutamente nada como garantia de se evitar que a adolescência se torne, na sua tenra idade, delinquente em potencial.
          É injustificável e preocupante tanta insensibilidade para questão tão importante quanto desprezível à luz das autoridades incumbidas institucionalmente de cuidar das medidas destinadas ao combate à criminalidade, cuja omissão tem o condão de simplesmente estimular a banalização da impunidade e o progressivo crescimento da violência no seio juvenil.
Causa extrema perplexidade se perceber que o período de mais de doze anos de governo tenha sido ainda insuficiente para as autoridades incumbidas da questão da segurança pública terem conseguido perceber a existência da sua real gravidade e, em consequência, pouco ou nada fazerem com vistas à sua solução, em que pesem os insistentes clamores da sociedade denunciando as mazelas e os horrores reinantes na segurança pública do país.
Embora a redução da maioridade penal possa não contribuir para solucionar o caos dominante na segurança pública, convém que alguma medida seja, enfim, adotada em contraposição a esse sistema falido da banalização da impunidade e do injustificável incentivo à criminalidade, por terem evidentes reflexos nas condições das vidas da população, que se encontra intranquila, desprotegida e desamparada, diante das visíveis inércia e omissão das autoridades incumbidas das políticas públicas pertinentes à segurança pública de proteção à vida humana e ao patrimônio das pessoas. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 29 de junho de 2015

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