quarta-feira, 3 de junho de 2015

O desprazimento não causa temor

Em entrevista ao jornal La Jornada, do México, a presidente da República do Brasil afirmou, entre outras coisas, que não teme pedido de impeachment contra ela e disse que responde por seus atos. 
A petista disse que "O problema do impeachment é sem base real, e não é um processo, e não é algo, vamos dizer assim, institucionalizado? Eu acho que tem um caráter muito mais de luta política, você entende? Ou seja, é muito mais esgrimido como uma arma política, não é? Uma espécie de espada política, mistura de espada e de dama que querem impor ao Brasil. Agora, a mim não atemorizam com isso. Eu não tenho temor disso, eu respondo pelos meus atos. E eu tenho clareza dos meus atos".
A presidente ressaltou que democracia não é representada pelas "situações de paz dos cemitérios, mas sim por manifestações de rua, reivindicações e expressões de descontentamento. Onde tem algum conflito, ele faz parte da democracia. Nós, quanto mais resilientes formos, quanto mais normal for a manifestação política, 'Eu estou divergindo', 'Eu sou contra', e isto não levar à ruptura, nem à situação extrema, mais evoluídos, do ponto de vista democrático nós somos".
À toda evidência, trata-se de entrevista muito confusa, cheia de figuras vazias, sem convicção e absolutamente desconexa, muito aquém do que pode e deve produzir o ocupante do principal cargo do país, justamente por ela demonstrar falta de concisão e objetividade, dando apenas a entender que as palavras pronunciadas constituíram meras evasivas, sem conteúdo capaz de explicar a destroçada administração do país, fruto da incompetência gerencial, objeto de reiterados pedidos de afastamento da petista da Presidência da República, ante a insatisfação quase generalizada dos brasileiros.
Não obstante, o desprazimento de parcela expressiva da sociedade apenas demonstra que a maioria dos brasileiros gosta de viver perigosamente, ao sabor das incertezas e das inconsistências na administração do país. Veja-se que a presidente da República já deu cabal demonstração de que perdeu completamente os rumos e as rédeas de seu governo, que tem sido criticado até mesmo por seus correligionários no Congresso Nacional, a exemplo de um senador carioca e de outro gaúcho, que não concordam com os ajustes fiscal e econômico, sob a alegação de que o seu conteúdo não condiz com a ideologia do seu partido.
Contudo, paradoxalmente, verifica-se que ainda há quem concorde com a incompetência da administração do país, representada pelo debacle que conduziu a economia à horrorosa recessão, causando terríveis consequências para os brasileiros, na forma de aumento do desemprego, redução da renda dos trabalhadores, fechamento de empresas, diminuição de arrecadação, falta de investimentos público e privado, incremento da má qualidade dos serviços públicos prestados pelo Estado e tantas dificuldades geradas pela incapacidade gerencial do próprio governo, que não teve condições de controlar as contas públicas, a inflação, as taxas de juros, as contas públicas e muito menos de adotar medidas de incremento ao desenvolvimento do país.
Além das mazelas administrativas, o país passa por terrível crise de credibilidade, justamente em razão das corrupções sistêmicas e endêmicas, da maior gravidade registrada no âmbito do governo, a começar pelo mensalão e desaguando no petrolão, sendo que este teve o condão de quebrar a espinha dorsal da maior empresa brasileira, cujas roubalheiras por integrantes do partido do governo e de agremiações da base de sustentação dele, conforme depoimentos prestados por delatores à Justiça Federal, foram capazes de levar a Petrobras, em face da sua gestão deletéria, ao 406º lugar no ranking mundial das empresas, quando ela ocupava, pasmem, a 30ª posição, ou seja, a estatal quase perde a sua identidade de empresa referência em eficiência de gestão, além de ela ter se tornado a maior devedora do mundo, tudo graças às desastradas políticas do governo, com relação à petrolífera, por meio da ingerência, do aparelhamento e principalmente da falta de controle e de fiscalização capazes de evitar os superfaturamentos dos preços constantes dos contratos, cujas irregularidades sequer foram levadas em consideração quando alertadas pelo Tribunal de Contas da União, mas ninguém foi ainda responsabilizado pela insanidade na gestão da Petrobras.  
Caso os brasileiros tivessem reais condições de se informar e se conscientizar sobre as verdadeiras inépcias quanto à administração do país, com certeza a mandatária brasileira jamais se atreveria a afirmar que não teme o impeachment, à vista dos estragos e dos danos causados ao bem comum e ao desenvolvimento da nação, como evidenciam os fatos à saciedade, que conspiram contra as falácias governamentais e seriam mais do que suficientes para o afastamento de mandatário nessas condições, caso tamanha tragédia administrativa acontecesse num país sério, cujo povo tivesse o mínimo de zelo pela integridade patrimonial e eficiência administrativa do país.     
Causa perplexidade que a extrema gravidade na administração do país, onde há evidente deterioração dos indicadores econômicos, da prestação dos serviços públicos e dos princípios ético e moral, ainda conte com o beneplácito e a passividade dos brasileiros, que apenas, de vez em quando, se manifestem e batem panelas, em protestos contra o desgoverno, quando deveriam exigir que a administração do país passasse a ser imediatamente cuidada com competência e eficiência, de modo que fosse possível a retomada do desenvolvimento, melancolicamente sepultado pela má gestão pública, por conta da insensibilidade governamental para o estabelecimento de priorizações das políticas públicas, objetivando o exclusivo atendimento do interesse público, com embargo das maléficas medidas com a finalidade da absoluta dominação das classes social e política e do poder. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 03 de junho de 2015

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