No calor da forte comoção, em razão do
incêndio ocorrido na boate Kiss, em Santa Maria/RS, que dizimou 242 vidas de
jovens estudantes, a presidente da República, se dizendo bastante consternada,
disse, na ocasião, que, verbis: "A dor que presenciei é indescritível. Falo
dessa dor para lembrar da responsabilidade que todos nós do poder Executivo
temos com a nossa população. Diante dessa tragédia, temos o dever de assumir o
compromisso, de assegurar que ela jamais se repetirá".
Agora que
as manchetes da imprensa vêm à tona, para comentar o julgamento de bombeiros
envolvidos na aludida tragédia, os tristes fatos do massacre humano são
aflorados, trazendo no seu bojo a lembrança das lágrimas da presidente da
República que não passaram de mera encenação diante da televisão, ante o gigantesco
abalo físico que se apoderou dos brasileiros, sensibilizados com o terrível e
devastador acontecimento.
Ao que se
é dado conhecer, as lágrimas presidenciais se tornaram absolutamente inócuas e
infrutíferas, em que pese o clamor da sociedade, não se tendo notícia sobre o
saneamento das questões centralizadas na inexistência de instrumentos eficientes
e eficazes para prevenir fatos semelhantes ao de Santa Maria ou até mesmo a
conscientização da sociedade sobre a necessidade de se manter em vidência a
obrigação de as autoridades públicas adotarem as medidas da sua incumbência
constitucional e legal de zelar para que fatos análogos àqueles sejam
definitivamente evitados.
Não há a
menor dúvida de que nos países sérios e conscientes quanto à responsabilidade primacial
do Estado sobre a preservação da integridade da população, existem legislação e
mecanismos apropriados e capazes de prevenção de situações trágicas de
incêndios, a exemplo da exigência de rotas de fuga desimpedidas, extintores de
incêndio, lotação máxima e regras mínimas para a realização de shows e festas,
de modo a se evitarem as desgraças com a perda de importantes vidas e a
destruição de instalações e patrimônios.
Em que pese
a completa inércia das autoridades incumbidas de implementar as medidas capazes
de suprir as carências dos instrumentos contra incêndios, é inegável que os
proprietários de casas noturnas, pais, professores e até mesmo os próprios
jovens usuários tenham o mínimo de preocupação quanto qualquer medida com vistas
ao suprimento das precariedades que causaram o sinistro de Santa Maria, ou
seja, ninguém está preocupado se o caos continue prevalecendo perigosamente ameaçando
as vidas humanas, principalmente.
Em se
tratando da irresponsabilidade genuinamente brasileira, é evidente que não se
pode confiar em fiscalização, inspeção ou qualquer outra forma de controle, à
vista da falta de seriedade que impera em tudo que funciona neste país,
principalmente quando se encontra presente e atuante o vergonhoso sistema das propinas,
que corre souto nas instituições públicas ou privadas, em completa
desmoralização dos princípios da dignidade e da moralidade.
Não há
dúvida de que a tragédia de Santa Maria ainda permanece como chaga ativa e aberta
à luz solar, exposta a atormentar e a intranquilizar a sociedade, ante a
indiscutível falta de respeito à dignidade humana, pela visível inconsistência
e inexistência de instrumentos capazes do estabelecimento de controle e
fiscalização para a garantia da presença do Estado de forma responsável a
assegurar segurança e proteção dos participantes de eventos sociais.
As
precariedades das condições de segurança contra sinistro nas casas de shows,
principais responsáveis por tragédias, deixam a firme convicção de que o Brasil
precisa evoluir, com a máxima urgência, de modo que haja conscientização sobre
a necessidade da tomada de atitude coletiva, envolvendo a sociedade e o Estado,
com vistas à priorização de medidas que viabilizem a transformação de ideias em
instrumentos efetivos e concretos de segurança e proteção da sociedade, tendo
como primordial objetivo a seriedade na preservação, em especial, da integridade da vida humana. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de junho de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário