sábado, 6 de junho de 2015

Os juros da incompetência

          Pressionado pela alta do dólar e seu impacto na inflação, que também vem em escala ascendente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil resolveu aumentar, de forma absurda, a taxa básica de juros da economia brasileira de 13,25% para 13,75% ao ano, com expressiva alta de 0,5 ponto percentual.
O aumento da taxa Selic faz parte do estratagema do governo para controlar o consumo e consequente pôr freios na inflação, que vem subindo sem parar, numa proporção igualmente aos reajustes dos juros, em clara demonstração de que o remédio, bastante amargo, não vem conseguindo domar o dragão da inflação, mas tem contribuído para diminuir drasticamente o crédito para a indústria, que vem se retraindo de forma progressiva, diante da impossibilidade de novos investimentos, causando terrível entrave à melhoria da competitividade da produção nacional.
Além do arrocho no consumo e na concessão de créditos, o governo, ao elevar os juros, aumenta significativamente o montante dos juros das dívidas interna e externa, que se tornam impagáveis, haja vista que somente de juros o país deve pagar, este ano, cifra superior a R$ 300 bilhões, que representa 12 vezes o custo dos benefícios do Bolsa Família, ou seja, o governo cria, de forma artificial e injustificável, mecanismos para aumentar os juros das dívidas, cujos pagamentos o PT, antes de estar no poder, tanto protestava e repudiava, a ponto de se manifestar por auditoria nas dívidas públicas e pelo não pagamento delas e dos juros, fato este que demonstra absurda e patética incoerência.
A elevadíssima taxa de juros reafirma a inadmissível liderança do Brasil no ranking mundial de juros reais, uma vez que, após o abatimento da inflação oficial, em torno de 8%, a taxa de juros reais fica em 5,75% ao ano, constituindo os maiores juros reais do mundo, o que significa dizer que o país se encontra totalmente fora da normalidade econômica, causando grande preocupação para os organismos de classificação de risco, quanto à segurança dos investimentos, visto que aplicação estrangeira se torna atratativa no Brasil, mas corre-se o risco quanto à garantia do seu resgate, à vista da falta de credibilidade no que tange à condução das políticas públicas, que também têm sido desastrosas.
Já está mais do que comprovado de que a alta de juros tem o poder de impactar o crescimento da economia brasileira, que tem sido constantemente revisado para baixo, conforme previsão do mercado financeiro, que estimava o Produto Interno Bruto do país avançando negativamente para a recessão este ano, tendo a infeliz contribuição do peso dos juros nas alturas.
É muito estranho que, pelo sistema de metas vigente no Brasil, o Banco Central precise calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA, sob a alegação de que, ao subir os juros, a inflação é controlada, quando, na realidade, os fatos mostram exatamente o contrário, além dos maléficos aumentos dos juros, que são elevados artificialmente, sem o menor fundamento plausível, redução do consumo e dos investimentos, diante da retração da procura do dinheiro, pelo altíssimo custo dos empréstimos.
A verdade é que o aumento dos juros contribui para piorar ainda mais as crises conjunturais na economia, na confiança, no Pibinho, na inflação, na produção industrial, no emprego, na infraestrutura, no saneamento básico, na prestação dos serviços públicos, nos investimentos e, enfim, na credibilidade quanto à possibilidade de o governo reverter a quebradeira do país, ante a evidente demonstração da plena incapacidade administrativa da mandatária brasileira.
As políticas monetárias não têm segredo, porquanto o governo não consegue administrar o país sem recursos, para financiar a sua gastança desenfreada, fazendo com que, suas contas em frangalhos, não reste alternativa de se buscar dinheiro no mercado, que aparece ligeirinho se os juros estiverem nas alturas, fato este que ajuda a incrementar ainda mais a esculhambação reinando do mundo do faz de conta chamado República do Brasil, para a felicidade dos banqueiros e o pesado ônus para a sociedade, que é responsável pelo pagamento da fatura.
Impende relembrar, a propósito, que, com a finalidade meramente populista e sem nenhuma consistência plausível, a presidente da República forçou a queda dos juros na marra, quando os componentes econômicos, da época, ainda não eram favoráveis para medida tão arriscada.
Os ventos sopraram em direção do imprevisível, levando os planos da mandatária do país para o espaço sideral, ficando nos planos terrenos os incontroláveis rumos da inflação, cuja setinha apontava na escala sempre ascendente, o que vem obrigando o Banco Central a frear o consumo e crédito por meio dos progressivos aumentos da Selic.
Enquanto isso, no Palácio do Planalto, quando há pouco tempo havia comemorações com a queda artificial dos juros, com manifestações presidenciais enaltecendo o feito, agora o silêncio ali é tumular e ninguém se arrisca comentar o lamentável e exagerado aumento dos juros, ante o seu malefício para o crescimento da nação.
A sociedade precisa se conscientizar de que os aumentos das taxas de juros, em percentuais exorbitantes, com superação dos juros reais praticados na órbita mundial, demonstram incontestável incompetência administrativa e gerencial do país, por se tratar de medida absolutamente prejudicial aos interesses nacionais, porquanto a sua aplicação tem o condão de causar redução do consumo, da produção, de investimentos, do emprego, da arrecadação e, enfim, do desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 06 de junho de 2015

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