sexta-feira, 19 de junho de 2015

Tudo para o povo e pelo povo

Outro dia, o primeiro-ministro do Japão decidiu pela dissolução da Câmara Baixa do Parlamento e convocação de eleições antecipadas, tão somente porque houve, no dia anterior, a divulgação da notícia de que o país voltou à recessão.
Naquela ocasião, a terceira maior economia do mundo teria, de forma inesperada, encolhido pelo segundo trimestre consecutivo, em consequência do impacto de aumento de 5 para 8% nos impostos sobre vendas, fato que durou por tempo mais do que o esperado.
O premiê japonês prometeu ressuscitar o crescimento do país com mistura radical de política monetária ultraexpansionista, gastos e reformas, tendo insistido que suas políticas estão funcionando, mas, mesmo assim, ele desafiou a oposição a oferecer alternativa.
Ele disse que estava ciente de que os críticos às suas políticas de governo eram um fracasso e que não estavam funcionando, mas desconhecia qualquer ideia concreta sobre que o fazer diferentemente, mostrando que as suas políticas econômicas estão equivocadas ou incorretas. Para ele: “Esta é a única maneira de pôr fim à deflação e recuperar a economia”.
O premiê garantiu que o aumento dos impostos sobre vendas, necessário para suportar os custos crescentes da seguridade social e conter a dívida pública gigantesca do país, será implementado sem falta até abril de 2017, ou seja, tudo muito bem planejado, deixando claro para a sociedade que o combate à crise passa por etapas devidamente controladas e acompanhadas, conforme os pressupostos da crise econômica e as estratégias estabelecidas para solucioná-la.
A seriedade e o alto senso de responsabilidade com a política e a administração do país mostram o alto sentido de compromisso com as coisas relacionadas ao interesse da sociedade, considerando que, nas circunstâncias, mesmo com o reconhecimento da crise, nem precisaria da realização de eleição para a Câmara Baixa do Parlamento até o final de 2016, mas o premiê japonês espera contar com o pleito eleitoral para confirmar sua liderança antes que seu índice de aprovação, pasmem, em torno de 50%, conforme algumas pesquisas realizadas pelos padrões de seriedade japoneses, caia ainda mais.
O certo é que, para os padrões japoneses das práticas políticas, o premiê estava se sentido incomodado com os críticos de que suas políticas de governo estavam beneficiando grandes empresas e moradores ricos das grandes cidades, depois que o iene – a moeda do país - foi enfraquecido, tendo fortalecido o mercado de ações, mas esses fatos contribuíram para prejudicar os japoneses comuns, em face de a inflação ter ultrapassado os aumentos de salários.
Diante desses acontecimentos verificados no Japão, país considerado a terceira potência mundial, os fatos mostram o tanto de atraso que o país tupiniquim precisa recuperar, em termos de honestidade, sinceridade e, principalmente, o senso de responsabilidade presentes nas práticas político-administrativos, eis que o premiê tem a consciência cívica de antecipar eleição, diante de fatos que mostram que o país se encontra atravessando forte crise econômica, com séria recessão, prejudicando a população, como forma de o povo decidir quanto à continuidade ou não de seu governo, notadamente para que o eleitorado chancele ou não as políticas públicas que estão em execução, ou seja, cabe precisamente à população dizer se o governo satisfaz ou às suas expectativas de governança, tudo em consonância com o que deve realmente funcionar nas grandes nações sérias e desenvolvidas social, política, econômica e democraticamente.
Aqui no país tupiniquim as crises ganham de mil a zero do país oriental, mas a mentalidade do governo é simplesmente menosprezar os princípios de responsabilidade cívica e de satisfação à população quanto ao caos que se instalou na administração do país, com contornos nunca vistos na história da República, mas a sua gravidade não é capaz de provocar o mínimo de sensibilidade com relação ao sentimento essencial de satisfazer aos anseios da sociedade, que são de ter a governança do país com desempenho eficiente capaz de se evitar as crises que estão sufocando até a raiz das perspectivas de melhorias do desempenho e das condições da economia, moralidade, política, e dos fatores que possam contribuir para o desenvolvimento da nação.  
Nas Repúblicas com o mínimo de consciência e evolução democrática, o povo não pode ser penalizado nem prejudicado pelas precariedades ou deficiências dos governantes, que não têm direito de contrariar, por tanto tempo, os interesses públicos e muito menos o mandamento constitucional, ex-vi do disposto no seu art. 1º, parágrafo único, segundo o qual Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. Nos termos desta Constituição.'', o que vale dizer que o representante do povo deve ser submetido à vontade do seu representado, como forma de exprimir exatamente o significado do desiderato democrático de que tudo pelo povo e para o povo.
Diferentemente do país nipônico, o governo brasileiro se mostra completamente incapaz de definir estratégias, programas, prioridades para combater as crises, a par de se mostrar indolente aos clamores da população quanto à premência de reformas das estruturas ultrapassadas, retrógradas e prejudiciais aos interesses da sociedade, ante ao evidente desestímulo à modernidade e às benfazejas mudanças, em harmonia com os avanços da humanidade.
Convém que a sociedade se conscientize sobre a premência de reforma político-eleitoral, com vistas a se permitir que haja imediata eleição, em caso de grave crise de governança, nos moldes do que fazem sábia e corretamente, sobretudo em benefício do interesse público, as nações desenvolvidas, tendo por finalidade possibilitar que o povo resolva soberanamente sobre a necessidade ou não da substituição do seu representante, de modo que o eleitorado se posicione quanto à aceitação ou não da administração deletéria dos recursos públicos, ou seja, compete à população contribuir para se evitar maior aprofundamento da instabilidade financeira, política ou social. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 19 de junho de 2015

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