segunda-feira, 15 de junho de 2015

A penalização da sociedade?

Após as últimas manifestações de protestos contra o desgoverno e o descalabro da administração do país, o líder do governo na Câmara dos Deputados defendeu a realização de “pacto” com a oposição, em prol das “instituições”, para a garantia da aprovação da reforma política e de ajustes fiscais.
O petista disse que se empenhará para votação da regulamentação do imposto sobre grandes fortunas, afirmando que “Essa luta de mata-mata aqui dentro não é boa. Temos que dialogar com a oposição. Num momento como esse, o Congresso deveria se debruçar sobre a pauta econômica, a pauta política. (...) Estabelecer pactos políticos no Congresso. Isso que temos que fazer. Acho que devemos fazer uma repactuação”.
O petista defende a prioridade da reforma política, especificamente quanto ao financiamento de campanha, como sendo o ideal aquele exclusivamente público, como resposta aos escândalos recentes de corrupção, haja vista que as investigações  da Operação Lava-Jato indicam que parte do dinheiro do esquema de pagamento de propina na Petrobras se destinava ao abastecimento de caixas de partidos políticos, entre os quais PT, PP e PMDB.
Ele foi taxativo, ao dizer que “Acho que a centralidade da reforma é uma, é o financiamento privado. Ou o Congresso se convence disso ou não tem reforma política. Prefiro financiamento público, porque democracia tem custo. Se não for possível, que pelo menos a gente acabe com financiamento de empresas privadas”.
No bojo das ideias, o petista disse que o governo poderá pedir regime de urgência constitucional ao projeto que regulamenta o imposto sobre grandes fortunas: “Nós precisamos ampliar o ajuste, não tem como ficar nas medidas que já tomamos. Nós temos que avançar na taxação, algum tipo de tributo para as grandes fortunas, as grandes heranças, a aqueles grandes rentistas no exterior”.
Para ele, as manifestações deixam claro que “O governo tem que fazer mudança na política e na economia. Se não fizermos isso, as ruas nos engolem...”.
Causa perplexidade se perceber a insensibilidade e a falta de seriedade desse parlamentar e de outros da oposição, com a mentalidade medíocre voltada para o pensamento de se exigir mais sacrifício da sociedade, por meio da ideia maluca de se criar mais tributo, com a taxação das grandes fortunas, como se a carga tributária brasileira já não fosse uma das maiores do mundo, que penaliza tremendamente a capacidade contributiva da sociedade, que é obrigada a sustentar a máquina pública pesada, improdutiva e sobrecarregada com muitos ministérios e empresas estatais inúteis e desnecessários, constituindo a máquina pública extremamente onerosa e ineficiente, que tem por exclusiva finalidade a manutenção do gigantesco e descomunal cabide de empregos, por meio do seu loteamento entre os partidos da base de sustentação do governo, como forma de garantir a questionável coalizão de governabilidade.
          O parlamentar petista ainda tem a insensibilidade de ignorar as precariedades e as mazelas da administração do país, tão bem apontadas pelas manifestações de protestos das ruas, bem assim os injustificáveis e exagerados pagamentos de benefícios, verbas de representação, auxílios, ajudas, mordomias, remuneração dos parlamentares e demais regalias incompatíveis com as atividades legislativas, diante da sua produtividade em benefício da população, para indicar essa ideia absurda de se criar novo tributo sobre as grandes fortunas, que teriam a finalidade de contribuir decisivamente para a retração da economia nacional, que já se encontra em queda livre, diante da incompetência da gestão pública, que não consegue encontrar medidas capazes de sanear a grave crise que se instalou no governo.
Não há dúvida de que essa “engenhosa” ideia de tributar grandes fortunas, já devidas e legalmente tributadas, não passa de mais uma medida estapafúrdia e mirabolante, além de absurda, tendo por finalidade a criação de tributo a ser agregado a uma das maiores cargas tributárias do planeta e a penalização ainda mais de quem já paga tanto tributo, a se considerar que, sobre a base do valor pretendido das grandes fortunas, haveria a cobrança de novo tributo sobre ele, que já foi objeto de pagamento de imposto, fato que constituiria, indubitavelmente, a incidência de bitributação, que é prática completamente afrontosa aos princípios constitucionais.
Por sua vez, conviria que a oposição ficasse muito atenta quanto à pretensão de o PT querer formalizar pacto com ela, porque, à toda evidência, é preferível se fazer pacto com quem realmente cumpre seus termos, haja vista que esse partido tem como princípio não abrir mão de qualquer espaço que possa beneficiar senão a si próprio. Além do fato da incerteza quanto ao cumprimento dos termos pactuados, porquanto é própria de seu idealismo político somente a efetivação de compromissos que levem ao domínio absoluto da situação, como forma de se garantir a continuidade no governo e no poder.
Nas declarações do petista, ficam bastante claras suas intenções de se melhorar, com urgência, a imagem do partido, o que vale dizer que o pacto com a oposição, para aprovação de projetos do interesse do PT, seria vantajoso tão somente para o partido da situação, evidentemente com a colaboração da oposição.
É preciso que a oposição e a sociedade se conscientizem de que as pretensões do PT, no caso enfocado pelo líder do governo, não podem prevalecer na forma como elas estão sendo idealizadas, tendo em conta que a sua materialização, mediante o pacto aventado, teria o condão de se tentar a melhoria do conceito do partido governista, que se encontra atolado na pior lama que ele poderia estar, e ainda a penalização, com a aprovação da inconstitucional bitributação, os principais contribuintes responsáveis pela manutenção das mazelas consistentes nas precárias conduções da administração pública, por suas ineficientes, deletérias, dispendiosas e injustificáveis atividades, que não correspondem às expectativas da população de eficiência e competência, como fatores capazes de contribuir para o desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!  
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 15 de junho de 2015

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