Em
sua primeira entrevista após o segundo turno do pleito presidencial, o candidato
do PDT ao Palácio do Planalto declarou ter sido "miseravelmente traído" pelo ex-presidente da República petista
e seus "asseclas".
Em
entrevista ao jornal a Folha de S. Paulo,
o ex-governador do Ceará ampliou o leque de queixas contra os petistas, tendo
declarado que ele não pode ser tachado de traidor, por não ter declarado apoio
ao candidato petista ao Palácio do Planalto, no segundo turno, porque, em justificativa,
ele declarou, in verbis: "A gente trai quando dá a palavra e faz o
oposto", o que não teria sido o caso dele, conforme ele afirmou em
seguida.
O
pedetista reiterou o que já havia declarado em ocasião anterior, no sentido de que
não pretende "nunca mais"
se aliar ao PT, para qualquer campanha eleitoral.
Na
entrevista, o político disse que a sua mágoa se refere especificamente ao veto
do petista-mor para que o PSB apoiasse o pedetista na última disputa
presidencial, na manobra que ficou conhecida como a retirada da candidatura
própria do PT, em Pernambuco, onde o PSB disputava a reeleição do atual governador.
Com
a finalidade de ser feito o serviço completo, o político cearense também disparou
muitos tiros de canhão contra aliados próximos do ex-presidente petista, tendo
dito que ele está cercado de bajuladores, listando entre eles a presidente
nacional do PT, um frei que o assessora e um teólogo, sendo que este foi
chamado pelo pedetista de "bosta".
O
ex-governador e ex-ministro declarou, no calor da disputa eleitoral, que
cogitaria a hipótese de deixar a política caso o candidato do PSL ganhasse o
pleito presidencial, mas, na entrevista, ele apenas disse que "Quem conhece o Brasil sabe que afirmar uma
candidatura para 2022 é mero exercício de especulação", ou seja, ele
simplesmente saiu-se pela tangente, o que é próprio dos políticos tupiniquins,
que dão declaração ao vento, para apenas enganar o eleitor, que não tem
dignidade para eliminar da vida pública homens públicos com índole própria dos
aproveitadores e sem personalidade, que estão na vida pública tão somente para usufruírem
as benesses e as influências intrínsecas do poder.
Quanto
ao fato de o político cearense somente agora vir a público para declarar que
praticamente teria sido tratado como cachorro pela cúpula do PT, bem demonstra
a sua personalidade política de verdadeiro aproveitador, porque isso deveria
ter sido dito tão logo os fatos aconteceram, para mostrar que os homens públicos,
não importando a que partido eles representem, são todos defensores de
interesses pessoais e partidários, em detrimento das causas nacionais e da
população.
O
adiamento dessa revelação bem demonstra que o silêncio do pedetista tinha por
objetivo não prejudicar possível oportunidade de acordo político-eleitoral com
o partido que o enxotou de suas proximidades, ainda no começo e no curso da intensa
disputa eleitoral, mas nada disso aconteceu e ele houve por bem abrir o verbo e
soltar os cachorros contra a cúpula do PT somente agora, quando não tinha mais
nada a perder, porquanto o pleito já havia sido concluído, e isso tem o poder
de azedar de vez as relações de amizades que eram mantidas de longa data,
evidentemente sempre nas melhores das conveniências mútuas entre ele e o PT e
isso ele não escondia de ninguém.
Aliás,
o estopim dessa rixa política foi anunciado, em âmbito nacional, em discurso
inflamado pronunciado e mandado ao ar, em via nacional, pelo senador eleito do
Ceará, que é irmão do pedetista, quando ele disse, em ainda em plena campanha
presidencial do segundo turno, que o PT precisava assumir a mea culpa perante os eleitores e a
opinião pública, porque entendia que o partido tinha cometido muitos e graves
erros, mas ainda não os havia assumido e por isso ele seria fragorosamente derrotado.
O
resultado da ópera todos já sabem, com o final infeliz e trágico tanto para o “traidor”
como para o “traído”, homens públicos da nata política brasileira, justamente
porque o povo não aguenta nem tolera mais tanta hipocrisia no seio da política
oligárquica e retrógrada, onde prevalece a falta de caráter e o patrimonialismo
como essência das atividades públicas, não importando os fins para o
atingimento dos meios, quando deveria prevalecer a exclusiva defesa do
interesse público.
Em
síntese, o que se percebe desse melancólico episódio é que a nítida
insatisfação demonstrada pelo político cearense nada mais é do que o retrato fiel
das práticas políticas brasileiras, exatamente no nível mais rasteiro possível,
em que sempre há de prevalecer, nas atividades políticas, se não houver radical
mudança no sentido de moralização, a defesa intransigente dos interesses
pessoais e partidários, em total prejuízo das causas da população e da nação,
diante da clara demonstração de que tudo é feito, não importando os fins para
se alcançar os meios, para a conquista do poder e nele permanecer, além de
também estar em jogo a absoluta dominação das classes política e social, que
são a essência dessa desavergonhada disputa político-eleitoral, enquanto o povo
não passa de mero ingrediente para a ascensão ao poder de aproveitadores
políticos representados por geração degenerada e inescrupulosa, absolutamente insensível
e irrecuperável. Acorda, Brasil!
Brasília,
em 5 de novembro de 2018
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