Em crônica que discorri sobre precariedades da região
nordestina, mostrando basicamente que as dificuldades socioeconômicas ali
existentes têm como ingrediente o próprio pensamento de seu povo, que teria se acomodado
com a implantação de programa de cunho assistencialista, quando a solução desse
grave problema reside, em essência, na necessidade da diversificação de medidas
que levem ao desenvolvimento da região, principalmente com a
institucionalização de polos de desenvolvimento, na forma como preconizada no
artigo intitulado “Polo de Desenvolvimento do Nordeste”, de minha lavra, por garantir,
em princípio, emprego e renda, deixando o benefício do Bolsa Família para muito
poucos casos, porque o programa precisa passar por verdadeiro choque de
modernidade.
Diante desse fato, o Sr. Aelson Andrade da Silva houve
por bem dizer que, verbis: “Concordo parcialmente! Não se esqueça que o
Nordeste foi esquecido por vários governos e a fome era uma realidade cruel...
ninguém nunca se importou... O bolsa família é uma ajuda emergencial até
aparecer uma outra solução melhor... Enquanto não se criar mecanismos mais
eficazes, cabe a essa bolsa o salvamento da fome e da miséria imposta a esse
povo por séculos... Por enquanto está aguardando medidas eficazes e duradouras,
vou concordando com o governo que OLHOU para o sofrimento dessa região de
verdade... Precisa apenas criar outros mecanismos para que essa dependência não
seja vitalícia...”.
Um
dos mecanismos mencionados acima pode consistir na proposta que sintetizei na
crônica intitulada "Polo de Desenvolvimento do Nordeste", que já
poderia ter sido implementado há muito tempo, se os políticos não tivessem
interessados exclusivamente em votos em troca do que fazem, como representantes
do povo, como mera obrigação própria da função pública.
É
lamentável que isso ainda tenha a aceitação e a concordância de pessoas,
inclusive de muitas esclarecidas e inteligentes, que deveriam ser precisamente as
primeiras a demonstrar descontentamento com a exploração da ingenuidade dos
eleitores, mostrando a eles a real situação do que seja o programa de
incumbência constitucional do Estado e não pessoal ou partidário.
Essas
pessoas precisam se conscientizar de que o Bolsa Família faz parte da obrigação
do Estado que, diante de mera situação emergencial, passou a ser crônica e
perene, com a possibilidade de permanecer com pagamento por séculos, no bom sentido,
enquanto não aparecer, na região, pessoas com dignidade e honestidade para
exigirem a imediata implantação de mecanismos capazes de mudar essa situação desagradável
e incômoda de assistencialismo, como se não tivesse alternativa.
Na
verdade, tem sim alternativa como a que ofereci, mas é preciso que as pessoas
abandonem de vez esse terrível endeusamento a político que nada fez senão se
aproveitar da situação excepcional, para se beneficiar eleitoralmente, conforme
mostram os resultados das eleições, em que a justificativa é sempre reiterada,
de que o que teria sido do povo pobre se não fosse a valorização dele por
pessoa generosa ou o que teria sido das famílias?
O
Bolsa Família foi turbinado sim por vontade política de um homem público diante
da imperiosa necessidade da medida, tão somente implementada com recursos
públicos destinados para essa finalidade pública, mas o resultado político foi
o pior possível, porque criou-se essa vinculação perniciosa ao sistema
democrático de que alguém fez alguma coisa para os pobres, como se não fosse
obrigação exclusivamente do Estado e não do governo, que jamais poderia ter
deixado de fazê-lo e tanto isso é verdade que, enquanto perdurar essa situação
calamitosa, nenhum governo, nem mesmo o agora, como o futuro presidente do
país, considerado de extrema direita teria como suspender o pagamento do benefício,
porque se trata de obrigação do Estado e não de qualquer governo ou homem
público.
Agora,
é preciso que essa mentalidade retrógrada e absurda de se imaginar que existiu
um salvador do Nordeste não passe de tremendo e prejudicial engodo, porque o
mesmo político poderia ter imaginado, concomitantemente, quando decidiu
turbinar o Bolsa Família, verdadeiro programa de desenvolvimento do Nordeste,
por exemplo, nos moldes do que foi feito e funciona com eficiência e eficácia
em Manaus, como zona franca, para o desenvolvimento da Amazônia, repita-se, que
poderia ter sido feito nas cidades pobres do Nordeste, com os mesmos ou talvez
menos recursos comprometidos com o Bolsa Família, que realmente é importante
para a região, mas não passa de medida meramente paliativa, sem perspectiva de melhor
futuro, senão da manutenção da pobreza absoluta, em nível apenas
assistencialista, valorização ou dignificação dos beneficiários.
É
preciso se entender que o Bolsa Família, nas condições atuais, é algo impensável
na vida de muitos nordestinos, principalmente diante da inexistência de
política pública capaz de substituí-lo, mas essa circunstância se amolda
exatamente em contexto idealizado com essa modalidade, para que não tivesse
alternativa para o amparo às carências extremas dos nordestinos, fato que teria
levado a se imaginar em algo extraordinário e excepcional, quando, na verdade,
se sabe que o seu objetivo primordial era realmente gerar essa expectativa de
reconhecimento, em forma de voto, fato que é duplamente deplorável, tanto para
a população, que se conforme com meras migalhas, como para seus mentores, pelo
deprimente fato da sua vinculação com o indiscutível curral eleitoral, conforme
mostram os resultados das urnas eletrônicas.
Não
há a menor dúvida de que os investimentos consistentes na criação de polos
industriais em cidades subdesenvolvidas hão de propiciar o progresso das
respectivas regiões, com o fomento da produtividade que cria empregos e renda,
além de outras formas de crescimento, em termos econômicos e sociais, bastando
apenas boa vontade do governante que não estiver pensando exclusivamente em
voto, mas sim nas valorização e dignificação do sempre herói nordestino, que é
obrigado a enfrentar as intempéries e até mesmo as injunções maquiavélicas de
políticos aproveitadores da sua ingenuidade.
A
verdade é que os nordestinos se mostram incapazes, pela própria natureza, de
perceber que foram usados e continuam sendo, quando tudo isso não passa de
estratégia política que foi simplesmente eternizada no tempo, ao embalo de
decadente sistema político-eleitoral, que tem sido inteligentemente usado para
beneficiar homens públicos exploradores dos sentimentos pueris das pessoas,
principalmente daquelas que têm enorme dificuldade para raciocinar diferentemente
de que o Nordeste foi salvo por obra e graça da magnanimidade de alguém, que
merece, por seu heroísmo político, o eterno endeusamento, como forma de reconhecimento
e gratidão. Acorda, Nordeste!
Brasília,
em 4 de novembro de 2018
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