Com
a saída dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos, estima-se que
aproximadamente 600 municípios brasileiros podem ficar sem médico da rede
pública, a partir do dia 25 de dezembro próximo, segundo previsão do Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Segundo
o presidente da aludida entidade, nesses municípios, há apenas médicos cubanos,
que começam a deixar o programa federal já a partir de 25 do fluente mês, data constante
do comunicado do governo cubano, dirigido aos médicos que atuam no Paraná, cujo
desembarque total do Brasil será concluído até o Natal.
No
último dia 14, o governo de Cuba anunciou a decisão de deixar o programa Mais Médicos,
ao citar "referências diretas,
depreciativas e ameaçadoras" feitas pelo presidente da República eleito
brasileiro à presença dos médicos cubanos no Brasil.
Já
o presidente eleito afirmou que o governo cubano decidiu deixar o Mais Médicos
por não concordar com o teste de capacidade. Para ele, é "desumano" dar aos mais pobres
atendimento médico “sem garantia”.
O
presidente eleito também criticou que os profissionais cubanos são obrigados a
deixar a família – cônjuge e filhos – em cuba, enquanto estiverem trabalhando no
Brasil, o que também é desumano, e ainda ser obrigado a receber somente pouco
mais de 25% do que recebe do salário, em demonstração de trabalho escravo,
quando os demais profissionais do Mais Médicos recebem remuneração integral.
O
governo de Cuba começou a enviar profissionais para atuar no Brasil desde 2013,
quando o programa foi criado durante o governo da ex-presidente da República
petista, em absoluto toque de caixa, para atender aos manifestos de protestos da
população, diante do péssimo atendimento de incumbência do sistema de saúde
pública.
Atualmente,
mais da metade dos 16 mil participantes do programa Mais Médicos são oriundos
da ilha caribenha.
Diante
da situação transformada em emergencial, com a inesperada saída dos
profissionais cubanos do Mais Médicos, em tão pouco tempo, o governo brasileiro
corre para suprir as vagas que serão abertas, mediante a seleção de novos
médicos, já tendo decidido lançar edital nesse sentido, nos próximos dias.
No
próximo dia 19, representantes do Conasems e do Ministério da Saúde vão discutir
detalhes sobre o edital, tendo por objetivo a tentativa de se encurtar ao
máximo os prazos para a convocação dos novos médicos, para preencher o quanto
antes as vagas deixadas pelos cubanos.
O
presidente do Conasems declarou que “O Ministério
da Saúde se comprometeu a publicar o edital e aí tem os prazos legais para a
primeira chamada. Queremos ver se é possível diminuir os prazos para os
primeiros médicos já começarem a trabalhar em fevereiro (de 2019)”.
De
qualquer maneira, a seleção para substituição dos profissionais cubanos no Mais
Médicos já começa neste mês e tudo será feito para agilizar os procedimentos de
contratação de novos médicos.
Para
a substituição dos profissionais cubanos, uma das alternativas estudadas pelo
Ministério da Saúde é a convocação de médicos brasileiros que se formaram
usando recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), tendo como troca o
abatimento de parte da dívida do financiamento concedido pelo governo, mas isso
ainda não foi decidido com o novo governo.
É
preciso deixar muito claro que não se pode atribuir culpa ou responsabilidade
pela ausência de médicos, de uma hora para outra, em cerca de 600 cidades brasileiras
a nenhuma forma alegada de preconceito aos profissionais cubanos ou por causa do
possível autoritarismo do presidente eleito, porque nada disso estaria a
acontecer se o programa Mais Médicos tivesse sido criado de forma aceitável de racionalidade
e planejamento administrativos, por meio de procedimentos devidamente estudados
e analisados no âmbito do Congresso Nacional.
Naquela
Casa, certamente o programa em apreço teria merecido os devidos estudos e contribuição
por parte dos congressistas, com o oferecimento de sugestões capazes do indispensável
aperfeiçoamento, evitando-se a açodada criação desse monstrinho, que agora se
complica ao meio da repentina retirada dos citados profissionais, deixando a
potência continental tupiniquim em estado de quase desespero, à busca de
alternativa ainda meramente paliativa, em razão da falta de algo que assegure
estabilidade ao sistema de saúde pública, que não pode ficar à mercê da incompetência
dos governantes de plantão.
Diante
do notório sucateamento do sistema de saúde pública, nas circunstâncias de
precariedade oferecidas pelo programa Mais Médicos, é preciso se vislumbrar a
aprovação de programa mais abrangente, que permita resolver esse impasse de
maneira equilibrada, racional e definitiva, no âmbito de política de governo
responsável e preocupado com a satisfação do interesse público, evitando-se
qualquer forma de instabilidade no sistema de saúde pública.
Nas
circunstâncias em que as estruturas do programa Mais Médicos estão abaladas,
pondo em dificuldade a imediata reorganização do seu pleno funcionamento, a
única alternativa plausível é a criação, com a máxima urgência, do Quadro de
Pessoal Médico, junto ao Ministério da Saúde, para a substituição do programa
Mais Médicos, que tem estrutura provisória e precária, enquanto o sugerido quadro
de médicos tem o condão de reorganização definitiva, sem dependência de médicos
estrangeiros, permitindo a estabilidade no emprego de médicos, com salário compatível
com as situações possíveis, inclusive de insalubridade, e outras questões
inerentes ao servidor público.
Não
existe outra alternativa segura e definitiva capaz de resolver a instabilidade existente
no programa Mais Médicos, cuja continuidade será eterno problema para os
governantes, diante das incertezas provocadas pelas instabilidades ínsitas da
sua estrutura de mero programa que não oferece senão salários pouco atrativos,
em termos profissionais.
Convém
ressaltar que a criação do Quadro de Pessoal Médico, tendo basicamente por finalidade
a prestação de serviços médicos no interior do país, nos mesmos moldes do que
faz o Mais Médicos, será apenas equiparação às demais carreiras nobres e
essenciais do serviço público da União, como as de auditores, juízes, procuradores
e outras de servidores consideradas integrantes das carreiras de Estado, em que
a todos são assegurados, internamente, as mesmas remunerações entre elas,
independentemente das localidades onde eles estiverem lotados, tendo a certeza
da estabilidade no emprego e remuneração compensadora, o que é bem diferente e bastante
atrativa de quem tem vínculo apenas com mero programa de natureza provisória,
experimental, com sujeição ao sabor da boa ou má vontade dos governantes, como
no caso do novo governo, que se insurgiu, com razão, contra, entre outras
situações, a forma de pagamento nada racional aos profissionais cubanos, fato
que é capaz de abalar as estruturas do programa e ainda prejudicar o atendimento
médico à parcela significativa da população.
Em
se tratando de situação de emergência, no caso de seleção para o preenchimento
do Quadro de Pessoal Médico, aos profissionais já integrantes do extinto programa
Mais Médicos poder-se-á atribuir, em caráter de excepcionalidade, alguma forma
de incentivo na avaliação seletiva, em relação aos demais concorrentes,
exatamente por eles já estarem trabalhando no interior, tendo dado sua cota de
sacrifício.
Com
a evidente decomposição do programa Mais Médicos e da premente necessidade da criação
do Quadro de Pessoal Médico, fica prejudicada a sugestão a que se refere às
Cotas Médicas, com a duplicação das formações médicas, nas faculdades públicas,
destinadas à prestação de serviços médicos no interior do país, na forma prevista
na crônica da minha lavra.
Não
obstante, nada impede que as cotas médicas sejam instituídas, nos moldes
indicados na referida crônica, caso seja necessária a recomposição natural por contingente
de novos médicos, recém-saídos das faculdades, obviamente a depender da
conveniência do governo, em manter quantidade suficiente para a satisfação dos
atendimentos médicos, nas regiões mais longínquas e carentes dos serviços
médicos.
Assim,
diante das circunstâncias, o novo governo, que foi eleito com o compromisso de
mudanças e reformas nas conjuntura e estrutura do Estado, tendo por objetivo o
aperfeiçoamento e a modernização da administração pública, à vista dos
princípios da competência, eficiência e eficácia, como forma de atendimento ao
interesse público, prioritariamente ao sistema de saúde pública, pertinente à
prestação de serviços médicos à população, promova, imediatamente à posse, a criação
do Quadro de Pessoal Médico, vinculado ao Ministério da Saúde, com abrangência de
atendimento médico no território nacional, em substituição ao programa Mais Médicos,
diante das visíveis precariedades nas suas estruturas e no seu funcionamento, à
vista da sua desintegração com a saída dos profissionais cubamos.
Brasil:
apenas o ame!
Brasília,
em 17 de novembro de 2018
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