Segundo o jornal Folha de S. Paulo, telegramas da embaixada brasileira em Havana,
capital de Cuba, reconstituem a negociação entre aquele país e o Brasil, para a
criação do programa Mais Médicos, mostrando claramente que foi o regime
comunista que o sugeriu ao governo petista.
A
revelação dos aludidos telegramas, classificados como reservados e assim
mantidos sob sigilo por cinco anos, tem o condão de mudar parte da história
oficial contada pelo governo petista aos brasileiros.
Os
telegramas mostram que o aludido programa foi proposto por Cuba ao Brasil, cuja
negociação há vinha desde um ano antes de a então presidente petista apresentá-lo
como resposta aos movimentos de protestos das ruas, em 2013, eis que os
entendimentos estavam sob sigilo, para se evitar reações da classe médica, que
discordava da vinda de profissionais cubanos para o Brasil.
Agora
fica explícito que as exigências objeto das críticas do presidente da República eleito
partiram da ditadura cubana, principalmente sobre os valores acordados, cuja possibilidade
de reversão foi a causa do rápido anúncio de Cuba sobre a saída do Mais Médicos.
A
verdade é que, com a finalidade de não precisar do aval do Congresso Nacional,
o governo brasileiro decidiu pela triangulação do negócio, da seguinte forma: o
país paga à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que, por sua vez, repassa
os valora para Cuba, que se acerta com os médicos, o que vale dizer que o
Brasil, em termos jurídicos, nunca teve relação de trabalho com os
profissionais cubanos, mas sim com a Opas.
Para
as negociações envolvendo médicos, Cuba criou sociedades anônimas, empresas
privadas ligadas ao governo, para facilitação da comercialização de Serviços
Médicos Cubanos (SMC), tendo se especializado na exportação de mão de obra e
insumos médicos, que se transformaram nos principais serviços da pauta cubana de
comércio exterior, à vista da manutenção de acordos nesse sentido com, pelo
menos, 60 países.
Em
junho de 2012, depois de intensas discussões sobre a contratação de médicos, o
Ministério da Saúde já cuidava, ainda sob sigilo, de preparar o projeto, que
foi conduzido e “iniciado de modo reservado,
em vista da preocupação com a repercussão da entrada dos médicos junto à
comunidade médica brasileira”, conforme a reportagem.
A
reportagem esclarece que “os documentos
mostram que a delegação brasileira aceitou todas as exigências de Cuba, mas esbarrou
na negociação de valores. Brasil e Cuba só concordaram no valor que cada médico
receberia, com as referências em dólar. O lado brasileiro propôs a quantia de
USD 4.000 (USD 3.000 para o governo cubano e USD 1.000 para o médico). A parte
cubana, por sua vez, disse que contava receber USD 8.000 por médico e
contrapropôs USD 6.000 (USD 5.000 para o governo cubano e USD 1.000 para o
médico).”
Os
cubanos decidiram unilateralmente que a avaliação dos médicos fosse feita
somente em Cuba, ficando o Brasil com a incumbência de “familiarizar os médicos, sobretudo, ao idioma, a práticas processuais e
administrativas e à legislação”, ou seja, o teste do Revalida, exigência
legal brasileira, foi dispensado por exigência de Cuba, o que levanta a suspeita
quanto à qualidade médica dos profissionais mandados para o Brasil, que jamais
poderia concordar com algo contrário ao previsto em lei, ao se abrir mão da preventiva,
segurança e certeza da contratação de profissionais qualificados para a
prestação dos serviços médicos objeto do contrato.
Na
minuta do contrato previa que as divergências só poderiam ser ajuizadas na “Corte Cubana de Arbitragem Comercial
Internacional, sob suas normas processuais, na cidade de Havana, e no idioma
espanhol”, deixando clara a supremacia cubana sobre o negócio.
Para
se evitar questionamentos, o Brasil foi obrigado a ceder em todos os pontos,
inclusive na ideia da assinatura de contrato comercial, envolvendo simplesmente
a contratação de serviços médicos, evitando-se a celebração de acordo entre nações,
com o formalismo oficial, o que resultaria em confusão e “talvez tenha de ser submetido ao Congresso, onde, por certo, geraria
polêmica”, segundo a reportagem.
Em
novembro de 2012, 20 brasileiros foram a Cuba, para “dar cursos de duas semanas, na área de organização do sistema de saúde
brasileiro, aos médicos cubanos”.
Finalmente,
quase tudo estava acertado, à exceção do preço, porque havia a exigência por
parte de Cuba, que só aceitava US$ 5 mil mensais por médico, enquanto o governo
brasileiro estava disposto a pagar somente o equivalente a US$ 4 mil.
Também
havia a defesa brasileira de que era preciso respeitar o marco jurídico,
segundo o qual o acordo precisaria ser aprovado previamente pelo Congresso e
isso seria difícil.
Com
vistas a se evitar a participação do Congresso, foi encontrada a solução com a
intermediação da Opas, “caracterizando a
contratação dos serviços como cooperação na área médica”, segundo um assessor
do Ministério da Saúde brasileiro.
Em
4 de abril de 2013, representantes do Conselho Federal de Medicina, da
Associação Médica Brasileira e da Federação Nacional dos Médicos foram ao Palácio
do Planalto, para protestar contra as tratativas em torno da vinda para o
Brasil dos profissionais cubanos, mas a então presidente do país nada confirmou
nem negou, aumentando ainda mais a polêmica sobre o assunto.
Não
obstante, depois de tudo acordado e concluído, foi assinada a primeira versão de
termo de cooperação entre o Brasil e a Opas, versando sobre o programa Mais
Médicos, sob a classificação de projeto educativo, tudo sendo conduzido de
forma a beneficiar a ditadura cubana.
O
programa que foi instituído para funcionar em caráter experimental, teve
continuidade e somente agora, quando o presidente eleito brasileiro fala em
consertar as falhas gritantes, envolvendo os profissionais cubanos, em especial
o valor do seu salário, o governo ditatorial correu em anunciar, de forma
unilateral e às pressas, a sua retirada do Mais Médicos, exatamente porque o
ponto crucial do acordo, a parte financeira, passaria a ser mexida pelo novo
governo brasileiro e isso é completamente inadmissível para o governo de Cuba,
por afetar diretamente a parte financeira que realmente lhe convém no negócio.
Diante
dessa decisão, gerou-se impasse com a retirada de aproximadamente 8 mil
profissionais cubanos, que já estão retornando ao país de origem, deixando
lacunas que precisam ser preenchidas por médicos brasileiros.
Segundo
o Ministério da Saúde, felizmente, já foram imediatamente contratados para o
Mais Médicos quase a totalidade das vagas deixadas pelos cubanos, que estão
sendo preenchidas somente por médicos brasileiros com registro nos Conselhos
Regionais de Medicina.
Os
telegramas citados na inicial mostraram a absoluta falta de sinceridade e de
verdade do governo de então, que não teve a necessária dignidade de tratar às
claras questão de interesse nacional, tendo assumido pessoalmente a contratação
de médicos em total interesse da ditadura cubana, envolvendo milhões de reais,
que deveriam ser objeto de exame, discussão e aprovação pelo Congresso
brasileiro, diante da responsabilidade sob a vigilância da Constituição
Federal, mas a presidente petista preferiu assumir os riscos inerentes à
contratação que se exige o respaldo do Parlamento, ante a negociação envolvimento
duas nações.
Em
suma, o contrato foi firmado, por imposição
da ditadura cubana, entre o Brasil e a empresa SMC e mediante a aplicação da legislação
cubana, o que deixa de ser situação comum, por não ter amparo legal, porquanto
as possíveis divergências somente poderiam ser dirimidas entre as partes, tendo
como palco, pasmem, a "Corte Cubana
de Arbitragem Comercial Internacional, sob suas normas processuais, na cidade
de Havana, e no idioma espanhol", ficando o Brasil, como principal
envolvido, em plano secundário, em termos jurídicos.
A
questão negociada na forma do parágrafo acima suscita dúvidas jurídicas, por
envolver duas nações, quanto se tal convênio deveria ter a forma de contrato de
compra de serviços médicos, ainda mais com o caráter explícito de comercial, quando
deveria ter sido sob a forma de acordo intergovernamental, com as devidas formalidades
para se assegurar maiores segurança e comprometimento de governos responsáveis
com o objeto do negócio, mas, por evidência, acordo nesse gênero teria que
passar pelo crivo do Congresso, algo que não teria o menor interesse, em
especial por parte de Cuba, diante da possibilidade da criação de polêmicas
sobre o seu objeto.
Não
há a menor dúvida de que a atitude do então governo brasileiro somente
demonstra extremo abuso de autoridade, por ter agido e decidido sozinho em
matéria que exigia a participação do Congresso, mas isso deixou de ser feito
justamente diante da possibilidade de questionamentos sobre o objeto do negócio,
visivelmente interessante para o governo ditatorial cubano, em se beneficiar de
milhões ou bilhões de reais, nestes cinco anos de contratação dos profissionais,
como se fosse verdadeira mercadoria, que muitos especialistas chamam escravos
do regime comunista.
Na
verdade, a ex-presidente petista tem o dever moral e cívico de prestar contas
sobre seus atos, mediante as devidas justificativas ao Congresso Nacional, mesmo
depois de transcorrido tanto tempo, porque a sua atitude caracteriza verdadeira
farsa administrativa, que teve por objeto o fechamento de negócio sob os
auspícios do “jeitinho brasileiro”, para facilidade e benefício do regime
comunista cubano, ficando muito claro que a condução dos entendimentos para a
formalização do programa Mais Médicos demonstra verdadeira traição aos
interesses do Brasil, em especial por deixar de ser informado ao Parlamento
brasileiro, por força de preceitos constitucional e legal, sobre negociações relevantes
para o interesse da população, no caso, a contratação de profissional de outro
país por meio de mecanismos estranhos ao ordenamento jurídico pátrio.
Brasil:
apenas o ame!
Brasília,
em 26 de novembro de 2018
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