terça-feira, 6 de novembro de 2018

Grito de socorro à moralidade


Um parlamentar recém-eleito da Paraíba se posicionou, nas redes sociais, de forma extremamente contrária ao status quo referente aos absurdos e alarmantes privilégios e prerrogativas dos congressistas e outras classes excepcionadas da República, que amealham gigantescas benesses dissonantes com a realidade da população brasileira, na sua maioria.
No entendimento do jovem congressista, essa estapafúrdia situação é completamente alheatória ao estado de precariedades por que são obrigados a passar muitos brasileiros, em especial aqueles que estão na faixa da pobreza, que clamam, insistentemente, contra ouvidos moucos, evidentemente sem ressonância, por urgentes medidas saneadoras.
Essa desalentadora situação reflete quadro por demais desolador, que é retratado fielmente e sem retoque dos homens públicos, ditos lídimos representantes do povo, ainda agravado com o peso da roubalheira enfeixada nos gravíssimos sistemas de corrupção, que tanto envergonham os brasileiros trabalhadores e honrados.  
À toda evidência, os privilégios concedidos a alguns poderosos servidores do Estado causam fortes e generalizadas repulsa e indignação dos brasileiros dignos, que não compreendem como a escassez de recursos orçamentários somente atinge as camadas pobres e necessitadas, enquanto a classe política dominante e outros sortudos da República não têm a menor sensibilidade para compreenderem que as mordomias e os privilégios são absurdamente incompatíveis com esse estado de lamúria e ainda mais com o que eles pouco produzem em benefício do interesse público, e termos de resultado e forma de leis aprovadas para melhorar as condições de bem-estar da população, que não se cansa de protestar contra a insatisfatória e péssima qualidade da prestação dos serviços públicos disponibilizados pelo Estado.
Ou seja, não é novidade que a população receba as piores assistências e insatisfatórios serviços de incumbência constitucional do Estado, conquanto há essa vergonhosa e espetacular classe de servidores que se beneficiam indevidamente de recursos públicos, por terem a exata consciência de que as suas exageradas cestas de benesses custeadas pelos contribuintes estão bem além da normalidade e do seu justo e devido merecimento, em razão pelo que fazem e produzem, evidentemente em comparação ao disparate da verdadeira situação da população, em estado crônico de quase completa desassistência por parte do Estado.
Somente para se ter ligeira ideia sobre as prerrogativas dos parlamentares, a sua remuneração mensal é do valor de R$ 33.763,00, para o exercício do mandato, à qual são acrescidos os chamados penduricalhos, a saber: - Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap): o valor depende da distância da origem do deputado, avaliado pelo preço da passagem aérea, como no caso do Distrito Federal, que é do valor de R$ 30.788,66, indo ao do de Roraima (R$ 45.612,53); - Verba destinada à contratação de pessoal: no valor atual de R$ 106.866,59 por mês, com destinação à contratação, pasmem, de até 25 assessores parlamentares; - Auxílio-moradia: no valor de R$ 4.253,00, pago aos parlamentares que não moram em residências funcionais em Brasília; - Despesas com saúde: assistência completa de serviços médico-hospitalares para ele, cônjuge e filhos, como dependentes; - Ajuda de custo: no início e no fim do mandato, em que cada parlamentar recebe o valor mensal da remuneração; - Aposentadoria: a lei do Plano de Seguridade Social dos Congressistas prevê aposentadoria com proventos proporcionais ao tempo de mandato; - Cota gráfica: o parlamentar pode solicitar a confecção de material de papelaria oficial (cartões, pastas, papel timbrado e envelopes) e a impressão de documentos e publicações (até o limite de 15 mil mensal); - Cada parlamentar dispõe de cota de assinatura de cinco periódicos, entre jornais e revistas, que são fornecidos durante o período de funcionamento do Congresso Nacional, em dias úteis.
Eis aí as absurdas, monstruosas e absolutamente injustificáveis prerrogativas que os congressistas fazem jus constitucional e legalmente e o mais deprimente, humilhante, no sentido literal da palavra, por força de resolução aprovada pelos próprios parlamentares, eles somente têm o dever de comparecer ao Congresso Nacional de terça-feira a quinta-feira, por semana, enquanto os demais servidores públicos e funcionários privados são obrigados ao batente de segunda-feira a sexta-feira e sábado, por semana, conforme o caso, que devem prestar 40 e 44 horas semanais.
Ou seja, até nisso os parlamentares agem com explícita insensibilidade, quando eles deveriam dá o exemplo de sacrifício no trabalho, em defesa daqueles que os elegeram na confiança de representá-los condignamente, com o máximo de dignidade e honestidade, mas tanto em termos remuneratórios e laborais as suas atividades não correspondem no sentido exato da representatividade política, porque eles não se envergonham de se beneficiar das alarmantes e injustificáveis prerrogativas, além de terem reduzidíssimas as oportunidades de produzir em benefício do povo, em razão das delegações dadas nas urnas eletrônicas.
Pode-se até alguém alegar que todo esse horroroso abuso está previsto em normas legal e regular e isso pode sim ter fundo de verdade, mas também é verdadeiro que não custa nada alguém também se dispor a criar vergonha na cara e cair no real, para se cuidar, imediatamente, da revogação de tudo que não condiga com a realidade de nítida penúria, porque a situação existente não passa de humilhação para as pessoas que deixam de pegar remédio na rede pública, têm restrição de merendas nas escolas ou diante da precariedade da segurança pública e outras mazelas que grassam Brasil afora, justamente porque não tem dinheiro para esses e outros atendimentos essenciais ao bem-estar do povo.
Não obstante, nos palácios ou nos gabinetes das repartições públicas há abundância e excessos de benesses, vantagens indevidas e injustificáveis, que precisam passar pelo crivo da racionalidade e especialmente pelo o da razoabilidade, como forma de se concluir por sua eliminação, o quanto antes possível, porque isso faz parte de imperioso processo de moralização da administração do país, que precisa partir de cima e o Congresso Nacional tem a principal responsabilidade perante a sociedade, porque ele tem a incumbência constitucional e legal de fiscalizar o bom e regular emprego dos recursos públicos arrecadados dos sacrificados contribuintes.
Este é o momento ideal para que os homens públicos dignos e sensatos, como esse parlamentar que se insurge contra verdadeira orgia com dinheiro público, cerrarem fileira contra todo exagero no serviço público, que precisa urgente de choque de moralidade e de enxugamento de tudo aquilo que não condiga com a real situação do Brasil, levando-se em conta a calamitosa prestação dos serviços públicos, que deveria ser de qualidade superior, diante da estapafúrdia carga tributária impingida aos brasileiros, que é a terceira maior do mundo, com o que se poderia até imaginar que os serviços públicos fossem também em terceiro lugar, mundialmente, em termos de qualidade, mas os próprios responsáveis (ou irresponsáveis) não estão nem aí para essa deformidade que é exatamente compatível com a sua indiferença à triste realidade.
Convém que os brasileiros mostrem seus repúdios e protestos contra essa deplorável situação de verdadeiro aproveitamento dos recursos públicos, justamente por parte de quem tem o dever moral e legal de dá bons exemplos de economicidade e parcimônia no emprego do suado dinheiro arrecadado dos contribuintes, que já passaram do limite do seu poder contributivo, diante da sanha fiscal do Estado, que quanto mais arrecada, mas gasta mal e nada faz para minorar os desperdícios gigantescos, como esses privilégios absolutamente injustificáveis concedidos justamente à casta de servidores públicos.
Urge que os Poderes da República tomem a iniciativa de promover abrangente levantamento das prerrogativas, dos privilégios e dos benefícios incompatíveis com a situação de miséria da maioria absoluta dos brasileiros, como forma de moralização da administração do país, que precisa partir exatamente de quem tem o dever constitucional de zelar pela integridade do patrimônio dos brasileiros, de modo que os orçamentos públicos tenham reais e melhores condições de atender às verdadeiras finalidades de satisfação do interesse público, de forma mais justa, democrática e republicana. Acorda, Brasil!
Brasília, em 6 de novembro de 2018

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