sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Real espírito de cristianização


O papa afirmou que “O valioso patrimônio cultural da Igreja Católica deve estar a serviço dos pobres e que sua eventual venda não pode ser vista com escândalo”.
As declarações papais estão em mensagem aos participantes de congresso sobre a gestão dos bens culturais eclesiásticos e a cessão de lugares de culto, realizado pelo Pontifício Conselho para a Cultura e pela Conferência Episcopal Italiana (CEI).
O sumo pontífice declarou que “Os bens culturais são voltados às atividades de caridade desenvolvidas pela comunidade eclesiástica. O dever de tutela e conservação dos bens da Igreja, e em particular dos bens culturais, não tem um valor absoluto, mas em caso de necessidade eles devem servir ao bem maior do ser humano e especialmente estar a serviço dos pobres”.
Na opinião do papa, a constatação de que muitas igrejas “não são mais necessárias por falta de fiéis ou padres ou por mudanças na distribuição da população nas cidades e zonas rurais deve ser vista como um sinal dos tempos que nos convida a uma reflexão e nos impõe uma adaptação”.
Nessa mensagem, o sucessor de São Pedro enfatizou que a cessão de bens da Igreja “não deve ser a primeira e única solução, mas também não pode ser feita sob escândalo dos fiéis”.
A aludida mensagem papal demonstra o espírito de muita coragem e inspiração humanitária, com a evidência de tal despojamento das coisas terrenas, que precisam sim ser revertidas em prol do ser humano, nas suas necessidades primárias, sabendo-se que o patrimônio da Igreja Católica provém exatamente do sacrifício do homem, do resultado da sua contribuição, em forma de dízimos ou outros sentimentos de espontânea bondade cristã.
É evidente que o esforço do papa em mostrar o seu generoso sentimento de contemplação e solidariedade para com o ser humano jamais passará dos muros do Vaticano, diante da prevalência do fortíssimo radicalismo antagônico às suas ideias de modernização e avanço da igreja comandada por quem não consegue mudar os rumos de instituição que se encontra cristalizada no mais puro sentimento de resistência às saudáveis mudanças impostas pela humanidade, que nada mais é do que a razão da sua existência, porquanto o que seria dela sem a efetiva participação do homem?
A ideia atual do santo pontífice, guardadas as devidas proporções, tem muito com o pensamento esposado por mim, em afirmativa e centrada crônica que escrevi tempos atrás, nos primórdios de 2015, na forma do texto a seguir, que vale a pena ser lido diante do seu conteúdo muito apropriado à realidade, em sentido contrário, do dramático sentimento da Igreja Católica, em que se debate entre os religiosos progressistas, os defensores da sua modernização, como demonstração de natural acompanhamento da evolução da humanidade, e os retrógrados conservadores, que simplesmente defendem teses ultrapassadas e prejudiciais aos interesses da própria instituição, por apenas ser favorável à destruidora involução, em que pese ser forçoso se reconhecer o direito de sentimentos individuais, também no âmbito da religiosidade cristã.
Eis o texto que refuto de suma importância para lançar um pouco de luzes acerca da ampliação sobre a espirituosa e magnânima mensagem que acaba de ser lançada pelo santo papa:      
“VATICANO: ALGUNS DETALHES
A recente visita que fiz ao Vaticano, em contemplação à Praça de São Pedro e à Basílica de São Pedro, significou momento muito especial para mim, por ser ali terra sagrada, berço dos papas, os lídimos sucessores de São Pedro, obviamente nos planos terrestres.
Jamais eu poderia sequer imaginar que, nos longínquos idos da minha saudosa infância, lá no interior de minha querida e ainda pequena Uiraúna, ouvindo as pregações, os sermões e os ensinamentos do reverendo santo padre Anacleto, que enchia os pulmões para glorificar o nome de Pio XII, papa da época, eu viria, um dia, conhecer, de corpo presente, aquele recanto que emana para o mundo o encanto e os mistérios da fé, do catolicismo e do cristianismo, que têm o poder mágico de ligar o homem aos mistérios e poderes de Deus.
Naquele recinto, tudo parece misterioso, não somente pelo desprender de eflúvios que convidam à contemplação, mas por haver em cada lugar que se olha a presença e a representação das coisas místicas de Deus, que os homens, nos seus sentimentos de religiosidade, procuram valorizar e cultuar com a mais pura sensibilidade de crédito e de fé alicerçada nos mistérios celestiais.
Sempre acostumado a acompanhar as transmissões televisivas da grandiosa Praça de São Pedro, torna-se encantador quando se vislumbra na visão pessoal e ao vivo aquele majestoso lugar que suscita instantânea e forte emoção, aflorada com força que transcende ao controle da contemplação, pela materialização de algo que já parecia familiar, mas a gente não fazia a mínima ideia do seu belíssimo panorama.
Logo na entrada, percebe-se a grandiosidade do ambiente, onde se concentram milhares de fiéis, para a contemplação da bondade e das maravilhosas belezas de Deus.
Passado o impacto da chegada, segue-se a disposição para o enfrentamento da exigida praxe da fila que se agigante cada vez mais com o passar do tempo, para a visitação do interior da Basílica de São Pedro. De certa forma surpreendente, o fluxo da andança ganhou razoável celeridade, cuja dinâmica contribuiu para a familiarização com o local e as fotografias recomendados para ocasiões especiais como essa.
Em seguida, lá eu estava diante da mais sublime representação da arte sacra e das belas esculturas protagonizadas pelos seres humanos, os grandes artistas, evidentemente sob as magníficas inspirações emanadas pelo Mestre dos mestres.
Sem sombra de dúvida, trata-se de importantíssima exposição de imagens de santos e religiosos e de pinturas de altíssimas expressividades religiosas da mais pura beleza representada pela mão do homem, que, por certo, deixariam o Mestre Jesus embasbacado com tanta riqueza e preciosidades artísticas, embora tanto esplendor não se harmonize com a extrema simplicidade de Sua obra terrena, em se tratando que Ele é exatamente a fonte de inspiração do catolicismo e do cristianismo representados naquele templo majestoso e opulento, que, à toda evidência, não condiz com os princípios de simplicidade e de humildade cristãs, disseminados por seus seguidores.
Não à toa, o papa tem mostrado enorme esforço no sentido de enaltecer a premência das mudanças de hábitos que se consolidaram no tempo, em que a Igreja Católica foi capaz de constituir suas castas que, em muitas situações, não condizem com as lições e os ensinamentos do cristianismo, que tem como fundamento os princípios da simplicidade e da modéstia, com base no amor e na fraternidade cristãs.
Com certeza, o papa não deve se conformar com a igreja que desviou muito dos rumos da sua trajetória original, que não deveria se confundir com a competição de poder e de domínio sobre coisas materiais entre os homens, a exemplo da ideia como isso fica muito bem representado no luxo das obras sacras e nas pinturas do Vaticano, em clara contradição com o Evangelho de Jesus Cristo, que é disseminado pelos quatro cantos do mundo, com o propósito de unir as pessoas num só pensamento de riqueza tão somente no sentimento da valorização dos princípios cristãos e da necessidade do seguimento da ideologia de não apego às riquezas materiais, mas sim espirituais, como condição essencial ao caminho celestial.
Há evidência de que a riqueza e a nobreza artísticas do acervo artístico do Vaticano não são obras surgidas na contemporaneidade, mas elas se originaram em épocas remotas, possivelmente na opulência da Igreja Católica, mas, certamente, agora elas poderiam contribuir para a conscientização da humanidade, no sentido de que a materialização das obras de opulência não faz parte da igreja inspirada em harmonia com os princípios e o pensamento de Jesus Cristo, que defendia exatamente a antítese da ostentação e da nobreza, como forma da conquista celestial.
Isso vale dizer que a sonhada modernidade da Igreja Católica exigiria radical transformação no sentido de seus integrantes, mais especificamente os clérigos, se converterem ao verdadeiro sentimento defendido pelo Mestre Jesus, de humildade, simplicidade, pobreza espiritual e amor fraternal, como demonstração definitiva da valorização dos princípios cristãos.
Com absoluta certeza, mesmo abstraindo-se a evolução natural da humanidade, pode-se afirmar que a Igreja Católica atual, à luz dos templos e das igrejas repletos de riquíssimas obras de artes da fina expressão artística não representa o fiel pensamento que disseminava o seu mentor, que certamente não imaginaria que, em seu nome seriam edificadas igrejas simbolizando eras de poder e de autoridade em competição com os poderes políticos e judiciais existentes em épocas remotas, evidentemente em clara contraposição aos princípios cristãos de humildade e igualdade entre os seres humanos.       5 de 5 estrelas 
A basílica de São Pedro dá a exata noção de poder que não condiz com a Igreja Católica, à vista do que deveria representar como o simbolismo do verdadeiro cristianismo, mas ela mostra a realidade do poder que foi construído ao longo da sua história de competição e de influência, possivelmente para marcar a sua força e posição no mundo inteiro, em nítido desvirtuamento do pensamento primordial de seu inspirador Jesus Cristo, que certamente não viria com bons olhos a riqueza dos afrescos e das belas imagens esculpidas por gênios das artes sacras.
A basílica sintetiza, na verdade, um conjunto de lindíssimas e belas obras, de suntuosas e valiosas representações artísticas, muitas delas ornadas ou acabadas em ouro, que impressionam por sua opulência e magnificência, contrastando com a extrema pobreza que impera na face da terra e que guarda mais identidade com o espírito de humildade defendido por Jesus Cristo, que era totalmente despojado dos encantos da ostentação e da preciosidade.  
Na verdade, as críticas têm a validade de mostrar distorções quanto àquilo que não mais funciona com eficiência e de apontar rumos para o atingimento de objetivos, ante os significativos avanços da humanidade, que contribuíram de forma expressiva para o estreitamento das relações humanas, com o aproveitamento dos conhecimentos, por circunstâncias naturais da modernidade e da conceituação sobre a melhor maneira de convivência social.
Causa perplexidade que a Igreja Católica, integrada por clérigos da maior inteligência e sapiência, conhecedores da religião, da ciência, da filosofia e demais áreas inerentes ao homem, ainda demostre dificuldade para enxergar pompa nos ritos religiosos; grandiosidade e luxo nas catedrais e nos templos religiosos, muitos dos quais recheados de obras de arte valiosas e ornados à base de ouro; uso de vestimentas ostentosas; burocracia cada vez mais complicada e inteligível; e extrema dificuldade para discussão de temas sociais, a exemplo de sexualidade, procriação e outros assuntos próprios do cotidiano social.
É indiscutível que as obras de arte que representam opulência não condizem com os princípios, sobretudo, da simplicidade, humildade e pobreza, e tudo o mais que se enquadre na dimensão de humanidade pregada por Jesus Cristo, que deu origem ao cristianismo despojado do cerimonial, da pomba, do prestígio, do poder, da suntuosidade, da incompreensão dos sentimentos humanos e do mais que restrinja injustificadamente a aproximação do homem pelo sentimento do amor divino sobre todas as coisas.
Para difundir os princípios e as ideias essenciais do cristianismo, personificados na paz, na harmonia, no respeito a um único Deus e no amor entre as pessoas, não precisa senão práticas de simplicidade, generosidade, complacência, aceitação, igualdade e nada mais que torne menos complexo o acesso aos ensinamentos das doutrinas e dos princípios cristãos, máxime porque o seu disseminador primeiro não precisou de nada suntuoso, hermético, dogmático ou emblemático para arrebanhar discípulos e seguidores.
A evangelização do Mestre Jesus Cristo se baseava em princípios que tinham por metas a aglutinação de ideais simples e modestas, tendo por finalidade a convergência de pensamentos para a consolidação da fraternidade e do amor, sem se cogitar da hierarquização clerical, que evidencia formação de castas dentro da igreja, servindo de elitização dos rituais religiosos, com o respaldo do apego ao conservadorismo retrógrado e prejudicial à evolução da doutrina cristã e à aproximação entre os homens.
Essas críticas são pertinentes à cúpula encastelada da Igreja Católica, que possivelmente se julga guardiã da verdade absoluta restrita a poucos e resiste à submissão à realidade dos tempos modernos, que não interfere em nada nos ensinamentos do Filho de Deus.
Diante disso, o bom senso recomenda que os costumes e as condutas da humanidade devam ser permanentemente aperfeiçoados e modernizados, em absoluta consonância com o meio em que as pessoas vivem, fazendo uso e proveito dos mecanismos e instrumentos da sua época, independentemente das regras e dos princípios ultrapassados e fora do foco não condizente para onde caminha a humanidade, qual seja, a busca da satisfação da sua plena felicidade.
É inacreditável como a humanidade se evolui, acompanhando os avanços e as conquistas da modernidade científica e tecnológica, mas, em sentido contrário, a Igreja Católica prefere manter-se petrificada sobre e com seus dogmas, suas bulas e seus mandamentos instituídos em longíssima data, noutros tempos remotos e bem atrasados.
Por força da evolução da humanidade, os costumes e os procedimentos inerentes à sociedade devem ser adaptados aos tempos atuais de modernidade, que certamente foram aprovados por Deus, que, pela sua capacidade de onisciência, desaprova a imutabilidade da sua Igreja Católica.
Em razão da indiscutível modernidade mundial, tornam-se inconcebível e até injustificável que a Igreja Católica se mantenha inalterável quanto aos seus conceitos e sobre questões normais da atualidade que, no passado até poderiam gerar polêmicas, como celibato sacerdotal, ordenação feminina, aborto, eutanásia, uso da camisinha, entre outros temas que estão presentes na vida dos filhos Deus, que receberam a importante missão de bem servir-se mutuamente, sem imposição de restrição ou de condição senão de que todos devam viver em comunhão com os sentimentos de bondade, caridade e amor.
          Convém que a Igreja Católica, a par da modernidade do planeta Terra e quiçá do céu – que domina a santidade dos sábios e dos justos -, se disponha a acompanhar a evolução que tanto contribuiu para o bem da humanidade e se digne a promover urgentes e significativas mudanças institucionais, de modo que sejam postas em prática as sábias e sempre atuais lições do Evangelho de Jesus Cristo, fundamentado nos princípios da simplicidade, humildade e pureza de alma, na forma e na maneira que deve ser pautada a sua missão primordial de conduzir as pessoas ao reino de Deus, em harmonia com os novos tempos e as atuais tecnologias, que são perfeitamente compatíveis com os conceitos essenciais do cristianismo, tendo em conta que os avanços e as conquistas da humanidade são fruto da vontade de Deus, para a produção dos saudáveis benefícios para o homem. Acorda, Vaticano!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de marco de 2015”.
Não há a menor dúvida de que a Igreja Católica, proprietária de riquíssimo patrimônio cultural e artístico, que se acumula ao longa da sua existência e que não teria outra importante destinação ou serventia para ele, salvo para mera ostentação material, em detrimento do autêntico espírito de confraternização, deve realmente reconhecer que ele pode perfeitamente ficar à disposição e ao serviço dos pobres.
Trata-se de gesto estritamente humanitário, com inspiração no Evangelho de Jesus Cristo, de satisfação das necessidades primárias dos pobres, porque essa maneira generosa e fraterna se harmoniza com o pensamento de humanização, solidariedade e fraternidade próprio dos princípios cristãos.
Ao longo da história da Igreja Católica, apenas prevaleceu o sentimento da ajuda, à base da fraternidade, com o resultado do que era recolhido da sociedade, sendo a primeira vez que a autoridade máxima dela se propõe a imaginar ideia diferente e sensata, no sentido de que os próprios bens da instituição possam servir e contribuir para amenizar o sofrimento dos pobres, em gesto papal que merece incondicional apoio do mundo católico, haja vista que ela se enquadra no verdadeiro espírito de solidariedade que realmente precisa ser transformado em efetividade.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 30 de novembro de 2018

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