sábado, 24 de novembro de 2018

Afronta aos princípios civilizatórios


Em coletiva concedida à imprensa, o presidente eleito disse que o programa Mais Médicos "destruiu famílias", porque, no seu entendimento, "Há muitos cubanos que têm famílias lá em Cuba e já constituíram famílias aqui. Esse projeto destruiu famílias. Também tem muita mulher cubana que está aqui há um ano sem ver o seu filho. Isso é mais do que tortura. É um ato criminoso praticado pelo governo de Cuba e pelo desgoverno do PT".
O presidente eleito afirmou ainda que o Brasil não pode deixar pessoas vivendo em regime "de semiescravidão", referindo-se aos cubanos do programa, sobretudo porque, "Qualquer um de fora que trabalhe aqui tem que ser submetido às mesmas leis que vocês. Não podem confiscar salários, afastar famílias".
O político ressaltou também que o governo atual está fazendo seleção para preencher as vagas deixadas pelos médicos cubanos, tendo informado que "Praticamente, já temos o número suficiente", para não haver solução de continuidade.
De acordo com balanço do Ministério da Saúde, divulgado na última sexta-feira, 92% das vagas disponibilizadas no programa já foram preenchidas, entre os 25.901 médicos inscritos com registro (CRM) no Brasil e que, desse total, 17.519 foram efetivados e 7.871 profissionais já estão disponíveis para atuação imediata, nas localidades onde os cubanos trabalhavam.
Os médicos cubanos começaram a deixar o Brasil, depois de terem sido desligados das atividades no programa Mais Médicos.
Não há a menor dúvida de que os brasileiros, com verdadeiro sentimento humanitário, precisam se conscientizar de que a participação dos profissionais cubanos no programa Mais Médicos não condizia com os comezinhos princípios civilizatórios e humanitários, diante da imposição de condições indignas com a evolução do Homo sapiens, por meio da submissão dos cubanos à condição diferenciada de trabalho, no que diz respeito à igualdade de tratamento de trabalho, em clara afronta às conquistas de liberdade, individualidade e principalmente respeito aos direitos humanos, conquanto aqueles profissionais faziam o mesmo trabalho dos outros médicos integrantes do programa.
À toda evidência, os cubanos trabalhavam em condições abjetas, ante a falta de independência, autonomia cívica e remuneratória, visto que eles foram segregados de suas famílias, que ficaram em Cuba, e recebiam apenas acerca de 25% do que era pago aos outros médicos também estrangeiros, embora eles fizessem exatamente trabalho semelhante, não justificando tamanha discriminação.
O mais grave era que essa repudiável situação tinha o inadmissível conhecimento do governo brasileiro, que mesmo assim permitiu que tudo isso acontecesse normalmente sob a sua aquiescência, posto que o que importava mesmo era que essa forma desumana de tratamento tivesse por propósito não atender à carência médica de parte de brasileiros, mas sim de beneficiar, em termos financeiros, o truculento regime ditatorial cubano.
Prova disso é que, depois da saída deles do Mais Médicos, por imposição do governo cubano, por não ter aceitado as condições de regularização das violências contra os cubanos, oferecidas pelo presidente eleito brasileiro, acorreram, em pouco período de três dias, nada mais nada menos do que 25.901 inscrições de médicos com registros (CRM junto aos conselhos da classe médica) no Brasil, sendo que, conforme contabilização do Ministério da Saúde, em poucos dias, já foram preenchidas 92% das vagas disponibilizadas no programa, inclusive com as indicações das cidades nas quais eles vão trabalhar.
Tudo isso demonstra que os cubanos poderiam ter sido dispensados há bastante tempo do Mais Médicos, diante da disponibilização de médicos brasileiros, em condições satisfatórias de substituí-los, em plenas condições humanitárias e sobretudo na forma prevista nas leis jurídicas e humanas.
Não se pode negar a importante contribuição dada pelos profissionais cubanos aos brasileiros, mas é preciso também condenar, em especial, o governo brasileiro, que foi cúmplice com os métodos desumanos adotados pelo ditador cubano, na retenção de parte expressiva da remuneração de seus trabalhadores e ainda privá-los do convívio de seus bens mais preciosos: a sua família, enquanto eles estiveram servindo no Brasil.
Trata-se de lição político-administrativa extremamente deplorável aos sentimentos e princípios humanitários, que precisa ficar registrada nos anais da história republicana, de tão negativa como procedimento administrativo, para que contratações semelhantes jamais venham a acontecer, diante do gigantesco ferimento ao salutar conceito de dignidade do ser humano, que não pode ser sobreposto pelos escusos interesses de governos ditatorial e cúmplice com a truculência contra a humanidade.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 24 de novembro de 2018

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