segunda-feira, 20 de maio de 2019

Criatura insensível e irracional


Uma toureira mexicana foi atingida pela fúria de touro pesando meia tonelada, na arena da cidade de Puebla, México, quando tentava realizar manobra arriscada, mas, ao contrário, desta vez, ela levou a pior, porque o animal desferiu violento golpe, que acertou o rosto dela, causando diversas fraturas.
Em que pesem os incômodos estragos causados ao seu corpo, a mulher afirmou que sua carreira ainda não terminou, dando a entender que ela continuará sacrificando animais, sem o menor sentimento de piedade.
Relata-se que o touro, conhecido como Velho Querido, atingiu a mulher quando ela estava ajoelhada diante dele para cumprir um desafio, mas, como se diz no popular: o tiro saiu pela culatra e ela levou a pior.
A toureira foi levada às pressas a um hospital, com o rosto desfigurado, em razão de várias fraturas na face e foi submetida à cirurgia para implante de placas de platina, segundo informações do jornal El Universal.
Nas redes sociais, a toureira garante que o terrível acidente não vai fazer com que ela mude de profissão, mas a previsão é de que ela deve esperar, pelo menos, seis meses para a recuperação da cirurgia e voltar à arena.
É lamentável que esse trágico acidente não tenha servido nem suficiente para parar com essa brutalidade contra animais indefesos, cujo tratamento irracional só demonstra que o homem, a título de diversão, cause injustificável perversidade contra animais inocentes, conseguindo se divertir com o sofrimento físico e psicológico do animal, em cristalina demonstração de instinto igualmente irracional e vergonhoso, quando seria muito mais próprio do ser humano que houvesse afirmativo sentimento de proteção e amor aos animais e jamais gracioso interesse em causar dor e sofrimento contra eles.
Na verdade, esse negócio de tourada, vaquejada e todas formas de esportes envolvendo animais não passa de diversão medieval, que não combina mais com a atualidade, fato que diz explicitamente que a mentalidade do homem, nesse particular ainda se encontra na idade média, por se servir de diversão que remonta àquela época, em que o ser humano ainda engatinhava, em termos de evolução de mentalidade e conhecimentos, que contribuíram, de forma significativa, para que tivesse a obrigação de entender que essa evolução precisa existir também em relação ao tratamento dado aos animais.
Aproveito o ensejo para me referir, mais especificamente à prática da vaquejada, que ainda é disseminada, com mais intensidade, no querido Nordeste e também da Festa do Peão de Boiadeiros de Barretos (SP) e do Rodeio Crioulo, evento tradicional no Sul do país, sob o argumento, sem o menor fundamento, de se tratar de patrimônio cultural de natureza imaterial dessas localidades.
Com as devidas vênias, o bom senso e a razoabilidade não podem compreender que a vaquejada e outras “diversões” envolvendo a participação de animais possam ser consideradas práticas inseridas no acervo patrimonial cultural imaterial, nem do Nordeste e muito menos no resto do país, porque o sentimento e a concepção que se podem ter sobre algo patrimonial e cultural condiz com a construção do bem e a preservação de algo aprazível, muito distante de causar sofrimento a quem quer que seja, mas sim que possa contribuir para a integridade e o respeito à dignidade das pessoas e dos animais.
Para a defesa racional da prática de esportes, no âmbito da cultural, deve-se levar em conta a preservação do meio ambiente, principalmente dos animais, como forma de valorização dos princípios de civilidade próprios do ser humano, que precisa experimentar o verdadeiro sentimento da evolução da espécie, concomitantemente com os avanços da humanidade, fato este que não pode ser ignorado com singeleza, em relação aos animais.
É preciso sim que o sentimento primacial da racionalidade compreenda que a prática da vaquejada houve seu momento de bela contemplação nos tempos em que seus admiradores não teriam outra forma de diversão, mesmo que ela já demonstrasse judiação e maldade à integridade dos animais, o que não muda nada com o passar do tempo.
Não obstante, na atualidade, não mais há justificativa para a prática tão agressiva, abusiva, “desanimalizada” e desumana contra a integridade de animais, em razão dos avanços da ciência e da tecnologia, que propiciaram enorme variedade de formas de diversão capazes de substituir com bastante vantagem a vaquejada, que muito bem pode ficar apenas na lembrança dos bons tempos da tradição de um povo, quando ela era realmente uma das poucas formas de diversão existentes e que certamente ela pode ter contribuído para a animação da sociedade da época.
Agora, o homem moderno e inteligente precisa compreender que os tempos são outros, onde a evolução dos conhecimentos acena para o convite ao bom senso e à racionalidade, no sentido de se aceitar que os costumes também devem se amoldar à atual realidade dos fatos, principalmente para se entender que há formas de diversão que não agridam a integridade nem mesmo dos animais indefesos.
Não se pode negar que as vaquejadas são eventos tradicionais do Nordeste, de cunho cultural e de suma importância, com enorme aceitação e penetração, em especial, no âmbito da população sertaneja, e são também motivo de orgulho para os seus organizadores, ante o destaque proporcionado por sua participação nos festejos, em que pese o enorme sacrifício para os animais neles envolvidos, chegando à mutilação de órgãos e até mesmo à morte de alguns animais.
Trata-se, indiscutivelmente, de gigantesca crueldade praticada contra animais, em especial da raça bovina, que são usados para a satisfação do bicho-homem, que apenas se beneficia do sucesso alcançado em cada evento, sendo sempre estimulado à realização de mais atividades do gênero, sem olvidar-se de que há, na verdade, o fortíssimo sentimento da busca alucinada não somente da diversão, porque isto faz parte do jogo, mas sim, em especial, da fácil realização econômica, do lucro certo, faturado com o sacrifício de animais indefesos e desprotegidos pelas pessoas e pelos órgãos federais que têm a incumbência legal de proteger e defender a integridade dos animais.
É induvidoso que a defesa das vaquejadas se insere em capítulo triste e lamentável ínsito do Homo sapiens, que não é capaz de se sensibilizar com o sacrifício de ninguém, quando há o envolvimento de seus interesses, como se verifica na parte de inescrupulosos políticos e dirigentes de organizações afins, que defendem a continuidade dos eventos, exclusivamente na manutenção do prestígio político e, sobretudo, do faturamento propiciada pela comercialização que os envolve, com exploração das atividades econômicas, cujos lucros são auferidos com o sacrifício de animais, sem os quais nem haveria festa.
No passado, poder-se-ia até considerar normal que atividades dessa natureza existissem, em razão própria do atraso científico e tecnológico, em que não havia alternativa para suprir forma de diversão como a vaquejada, mas, agora, em pleno século XXI, quando o homem alcançou outros mundos, com a descoberta e a exploração do espaço sideral e foi capaz de revolucionar as ciências, não se justifica mais, por qualquer argumento que seja, a realização de eventos de pura irracionalidade, brutalidade e crueldade, tendo o bicho-homem como principal mentor e executor, sobressaindo o ânimo exclusivamente econômico, à vista da certeza do lucro, sob o desprezo da integridade física de animais.
Já há movimentos de parte da sociedade que compreende que realmente há crueldade contra os animais, nos eventos com a participação deles, e que a proteção do meio ambiente sobrepõe-se aos valores culturais, mas nem por isso o homem tem a dignidade de ponderar que isso representa maus-tratos contra animais, dando a entender que o baixíssimo nível de insensibilidade humana é incapaz de perceber que os brutos também sofrem e precisam que seus direitos de integridade física sejam respeitados, do mesmo modo que o homem se torna brutalizado quando é espezinhado e maltratado.
O bicho-homem precisa se conscientizar acerca do princípio, que é regra de ouro, segundo o qual não se deve fazer aos outros o que não se deseja para si e isso significa dizer que o sofrimento que pode ser causado contra outrem é preciso ser evitado para si, porque certamente ele não é igualmente aceito por quem o pratica, diante das notórias maldade e crueldade.
Nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos culturais, políticos e democráticos, as manifestais de cunho cultural têm conotação com o zelo e o respeito à preservação da inteireza física, com o cuidado de se manter as condições de perfeição dos objetos e das coisas, quando se sabe que as práticas de vaquejadas têm por cerne a queda, a derrubada de forma brusca, violenta e brutal, dos animais, cujos reflexos são certamente imprevisíveis e podem resultar em quebra de membros, extração da cauda e outros graves ferimentos e lesões, todos absolutamente danosos à integridade física dos animais.
Na verdade, não passa de pura irracionalidade se alegar, de forma descarada e ingênua, manifestação cultural para justificar a prática desumana e brutal existente na vaquejada, quando o pano de fundo mesmo é o fator econômico, porquanto os eventos são todos patrocinados por poderosos empresários, que se beneficiam com o lucro fácil, por meio da exploração, via de regra, de animais sujeitos ao sacrifício e ao sofrimento e ninguém é penalizado nem responsabilidade por desumana monstruosidade.
Em termos de manifestação cultural, até que se poderia se enquadrar as vaquejadas nesse contexto, mas tão somente em tempos remotos, quando o bicho-homem não dispunha dos avanços e da evolução dos equipamentos digitais modernos, que oferecem ao homem inteligente divertimento de primeira qualidade, com capacidade superior e sem degradação alguma, para substituir, com bastante vantagem, as vaquejadas e outras práticas medievais, que são penosas e infelizmente contribuem para o infortúnio de animais indefesos, em benefício econômico para seus patrocinadores, que se valem falsamente desse pomposo título de manifestação cultural, apenas cabível na sua estreita mentalidade.
O certo é que a irracionalidade do homem é incapaz de compreender a dimensão da maldade por ele praticada, quando a sua ganância na busca por resultados econômicos fala mais alto, por meio do ganho e do lucro fáceis, prevalecendo sobre o direito de os animais serem poupados da violência protagonizada por quem, diante do sentimento de racionalidade, tem o dever de protegê-los e poupá-los de judiação, principalmente tendo em conta que o homem é tão inteligente que tem o dever de saber perfeitamente que a evolução da humanidade acena para a procura de forma civilizada e racional de se divertir preservando a integridade dos animais.
O homem precisa se conscientizar de que ele não tem direito nem está autorizado a causar martírio e sofrimento aos animais, por meio de mutilações e lesões absolutamente previsíveis, sob a absurda prática que convenciona como sendo de cunho cultural, ignorando os graves riscos que isso acarreta sobre quem tem direto constitucional e legal da preservação da sua integridade física e psicológica.
Urge que as pessoas e entidades de defesa dos animais promovam intensas campanhas, com vistas à mobilização da sociedade, no sentido de haver maior compreensão quanto ao real sentido, no caso da vaquejada e de outras atividades envolvendo animais, do que seja manifestação cultural, que tem tudo a ver com o respeito ao bom senso, à integridade e à individualidade dos animais e isso jamais pode ser confundido com o absurdo da sua realização, que é melhor interpretada como prática egoística, ultrapassada, perversa e maldosa contra animais sem defesa, em indiscutível afronta ao sentimento humanitário, que se fragiliza e se apequena diante da ganância pelo lucro fácil, que apenas consegue transformar “o bicho-homem” em criatura insensível e irracional.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 20 de maio de 2019

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