sexta-feira, 31 de maio de 2019

Eterna vigilância


Ainda nos idos do século XIX, o destemido, impoluto e valente Rui Barbosa, que foi diplomata, jurista, professor, escritor, deputado provincial, deputado nacional, senador da 1ª República, disse frase que se tornou célebre, que, trazendo para os dias atuais, nem precisava de retoques, diante do momento por que se apresenta o quadro político brasileiro, ou seja, há enorme coincidência com a realidade contemporânea, pela materialização do sentimento de escracho de imoralidade por parte de muitos políticos.
O notável baiano disse textualmente, no discurso intitulado “Vergonha”, o seguinte:A falta de justiça, Srs. Senadores é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais. A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”.
Convém também trazer à colação importante trecho da autoria da nobre pedagoga, poetiza e escritora Cleide Canton, cujo texto tem sido atribuído erroneamente à autoria de Rui Barbosa, possivelmente por seguir a mesma linha de moralidade desse notável homem público, que tem o seguinte teor: Sinto vergonha de mim, por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal “felicidade” em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e pela vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos ‘floreios’ para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre ‘contestar’, voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer. Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu hino e jamais usei a minha bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro”.
Comenta-se que, no regime monárquico, o homem que tinha alguma nódoa ou se desviasse da linha da moralidade, na vida pública, era considerado perdido para todo o sempre, em termos de carreira política, posto que as portas para as atividades públicas eram encerradas em definitivo para ele, por força da sentinela vigilante, de cuja severidade era rigorosa e temida pelos homens públicos, a qual se mantinha sempre acesa sob os cuidados atentos e  permanentes do próprio Imperador, que controlava o Poder Moderador e se preocupava com essa vigilância, como um farol cuja luz nunca se apagava e tinha por propósito a iluminar os princípios da honra, justiça e moralidade.
Na atualidade, com os ares fluídicos e benfazejos de renovação nascida do sentimento de verdadeiras práticas políticas, na sua primacial concepção, havia sim alguma descrença permeada com muito mais razão com o ressurgimento de esperança com a confirmação de novo mandatário oriundo de quadro político diferente dos partidos que conseguiram banalizar princípios e ideologias contrárias à normalidade republicana de obediência e respeito à moralização e à dignidade na administração pública, à vista da implantação e da consolidação de esquemas sistêmicos e endêmicos de corrupção, como forma da garantia da permanência no poder, com a absoluta dominação das classes política e social.
Sobre isso nenhuma dúvida remanesce, diante das reiteradas comprovações dos fatos deletérios protagonizados por antipatriotas, que insistem em não arredar um milímetro da defesa de seus princípios maquiavélicos do abuso da máquina pública, mediante a tentativa de “negociação” – entenda-se: vergonhoso balcão de troca de apoio, em espúria aliança política - para a aprovação de projetos do governo, e isso ficou patenteado com a liderança de alguns partidos que integram o famigerado Centrão, que não se conforma em perder espaço para os saudáveis princípios do decoro, da honestidade e da probidade no exercício de cargos públicos demandados pelo povo.
Os brasileiros já demonstraram que é preciso urgente assepsia desses maus políticos, que ainda imaginam que suas práticas anticivilizantes possam ainda prevalecer em ambiente onde se exige urgente mudança de comportamento desses brutamontes contrários aos princípios e às condutas de moralização da administração dos recursos públicos.
Convém que esses elementos de hábitos estranhos à ordem da democracia construtiva, em benefício do interesse da sociedade, sejam vencidos e suas ideais possam ser esmagadas pelo verdadeiro sentimento de civilidade e brasilidade, como forma da imediata implantação de políticas saudáveis de exclusiva defesa do interesse público, em consonância com os princípios modernos da prática de legitimas políticas, onde devam prevalecer negociações limpas e voltadas exclusivamente para a satisfação das causas do povo.
Aliás, não seria exigir demais que os integrantes do Centrão tivessem a dignidade de se justificarem perante a sociedade, ou mais especificamente, os eleitores, de modo que pudesse ficar bem clara a motivação de seus objetivos por cargos e verbas públicas, em contraprestação por seu apoio aos projetos do governo, quando, na verdade, o eleitor exige que seus representantes desempenhem seus cargos eletivos imbuídos tão somente em defesa do interesse da sociedade.
É evidente que, na pior das hipóteses, conviria que os centralistas fossem responsabilizados pelo desvio de conduta parlamentar, por se recusarem a decidir ante a recusa de “negociação”, justamente porque isso contradiz os princípios republicano e democrático, caracterizando grave crime contra o patrimônio dos brasileiros, com evidente prejuízo às causas nacionais.
É bastante difícil de se entender o motivo pelo qual os brasileiros não aprendem nunca a votar em quem realmente tem o seu perfil e a sua identidade com capacidade para representá-los em harmonia com a sua conduta moral, eis que os integrantes do Centrão fazem parte de esquema construído de longa data, o que já se recomendaria que eles fossem eliminados da vida pública, diante da contumácia em defesa de suas causas, em detrimento da defesa do povo, do eleitor, como seria o normal e desejável, porque as barganhas políticas têm raízes antigas, mas, ao contrário, os partidos que os mantêm em seus quadros de filiação estão sempre bem fortes e representados.
No estrito sentimento político, não há a menor dúvida de que as práticas defendidas pelo famigerado Centrão condizem harmonicamente com verdadeira agressão aos princípios democráticos, fato este que constitui crime de lesa-pátria, diante da caracterização de defesa de seus planos políticos, em ofensa ao sentimento de pureza da sociedade, exatamente pelo uso indevido dos cargos para os quais não se incluem outras atividades senão a defesa da causa da população, que nada mais são do que táticas condenáveis e recrimináveis, por estarem distanciadas da realidade política desejável dos brasileiros.
Na atualidade, o que pode ser considerado obsoleto ou supérfluo em outras plagas, no Brasil tem total validade o alerta aos eleitores de que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, quanto mais contra os maus políticos que ainda insistem na manutenção de negociatas para a satisfação de seus planos políticos, em detrimento das modernas e salutares práticas políticas.
Nesse ponto, não basta que apenas o eleitor seja vigilante, quanto às práticas inconvenientes de alguns maus políticos, porque compete aos demais políticos, aqueles de boa índole, como forma de contribuição à democracia, alertarem sobre a forma nem sempre republicana como agem congressistas que integram o Centrão, porque seus interesses estão bem além do que se pode denominar conveniente ao interesse público.
Diante dos fatos recentes, que culminaram com as manifestações de protestos de brasileiros nas ruas do país, convém que os eleitores procurem se interessar no acompanhamento de seus representantes na vida pública, de modo que tenham condições de somente apoiarem aqueles que demonstrem que o desemprenho de seus cargos estão focados exclusivamente para a defesa de atividades e projetos de interesse da sociedade, com o que os centristas seriam definitivamente eliminados da vida pública, diante da necessidade da limpeza moral e ética tão ansiada pela sociedade.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 31 de maio de 2019

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