Desta feita, o ministro da Saúde foi reclamar diretamente
a uma revista e não poupou palavras para relatar sobre o degaste que tem vivido,
nos últimos meses, com o seu relacionamento com o presidente da República,
em função das medidas que ele precisa tomar no combate ao novo
coronavírus.
Segundo o ministro, já são "60 dias tendo
de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda,
depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está
tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né?
Já ajudamos bastante".
O ministro disse que não há chance de ficar no
governo, porque "São 60 dias nessa batalha. Isso cansa”, tendo
garantido que fica no cargo "até encontrarem uma pessoa para assumir
meu lugar".
O ministro também fez questão de alertar sobre o
desafio de quem vier a ocupar o seu lugar, tendo afirmado que "Não sei,
mas acho que o vírus se impõe. A população se impõe. O vírus não negocia com
ninguém. Não negociou com o (Donald) Trump, não vai negociar com nenhum
governo".
Como se pode perceber, com muita clareza, a entrevista
em apreço tem aquele tom de nítido desprezo ao presidente da República, quando ele
conduz a conversa afirmando a sua superioridade sobre ele, o qualificando como sendo
despersonificado e despreparado, alegando que eles acertavam providências, mas,
logo em seguida, o chefe mudava de ideia e dizia para fazer algo completamente
diferente do acordado, ou seja, “o camarada muda o discurso de novo”.
Essa forma de tratamento atribuída ao presidente do
país bem demonstra o quanto o ministro faz questão de acentuar o seu desprezo à
autoridade presidencial, que, aliás, a propósito, tem todo direito de decidir
da forma que bem entender e mudar de ideia quantas vezes quiser, posto que ele,
quer queira, quer não, foi eleito para comandar as políticas públicas, que
podem estar certas ou erradas, a dependerem de avaliação sobre os seus resultados,
e, quanto a isso, o ministro só tem duas alternativas: aceitar caladinho as
ordens e as múltiplas ideias subsequentes do comandante ou não aceitá-las,
entregando o cargo, sem nenhum direito de criticá-lo, notadamente porque não é
da competência de subordinado senão ponderar e sugerir a melhor maneira para as
políticas serem realizadas pelo governo.
Não obstante, o ministro não teve dignidade para
reclamar das mudanças de ideias absurdas do presidente, quando era mantido no
cargo sem o efeito do terrível desgaste, apenas o fazendo agora, como forma de
aproveitar o momento para tentar se transformar em vítima da visível incompetência
palaciana, ao alegar que foram 60 dias medindo palavras, quando ele, ao contrário
do que diz, em várias entrevistas não pensou muito nem mediu as palavras para
disparar torpedos contra o seu chefe, a exemplo das palavras duras ditas no
Fantástico, com endereço claro e nominal ao presidente.
Na ocasião, o ministro disse que o povo não sabe a quem
ouve, se a ele ou o seu chefe, evidenciando aí atestado público de dissintonia entre
ambos.
Não há a menor dúvida de que o ministro demonstra desconhecer
o verbete “humildade”, que cabe normalmente no vocabulário das pessoas
inteligentes, que parece não ser o caso dele, ao se deixar que a vaidade
tomasse conta de seus sentimentos, depois de perceber que seu trabalho à frente
do Ministério da Saúde o havia elevado junto à opinião pública bem mais do que
o dobro da preferência da população, frente ao próprio presidente da República,
chegando a ter mais de 70% da simpatia dos entrevistados, fato este que pode
ter provocado reação de extrema anormalidade no ministro, para quem deveria
apenas ter continuado realizando seu trabalho normalmente, considerado de nível
aceitável, nas condições sabidamente precárias da saúde pública brasileira.
Além de se sentir a maior autoridade sobre saúde pública,
por terem as suas ideias contrariadas permanentemente por quem tem a direção geral
da nação, o ministro ainda tem a petulância de afirmar que “Já ajudamos
bastante”, dando a entender que ele e a sua equipe fizeram além do que
devia ter sido feito, tendo realizado trabalho excepcional.
Fica
evidente que, mais uma vez, o ministro comete a gravíssima indignidade de
declarar absurdo como esse, porque o trabalho dele não tem nada de ajuda, mas
sim do estrito cumprimento do dever funcional, como todo servidor público que é
contratado ou nomeado precisamente para executar, com competência e eficiência,
as funções para as quais ele se compromete a realizar perante à sociedade e que,
para tanto, ele é devidamente remunerado, o que compreende objetivamente que não
se trata de ajuda coisa nenhuma, mas sim da efetividade do dever de bem
realizar os serviços de obrigação do Estado, que seriam feitos senão por ele,
mas por outro servidor do mesmo nível, quiçá sem nenhuma arrogância e ainda com
mais competência e eficiência do que vem sendo realizados até o momento, à
vista da má vontade de quem demonstra extrema onipotência.
É óbvio que o vírus já demonstrou que realmente tem
o poder de se impor, conforme alegado pelo ministro, mas é preciso muita determinação,
além de entrega ao compromisso público, para enfrentá-lo com todas as forças,
porque somente assim ele será exterminado, sem necessidade de negociação, mas
sim com a força da competência que existe nos brasileiros que amam o que fazem,
sem visarem outros projetos de vida, nem mesmo políticos.
Realmente, senhor ministro da Saúde, com a presente
entrevista, fica patente que não somente Vossa Excelência se cansou com a fatídica
maratona imposta pelo terrível coronavírus, mas também os brasileiros, que não
vêm o momento da sua saída e da entrada de outro profissional médico, com as baterias
superacumuladas de energia, que demonstre capacidade, tolerância, inteligência e
disposição para cuidar, com o maior empenho possível, do monstruoso combate à
presente pandemia, tendo a humildade de compreender que a nítida incompetência administrativa
se supera facilmente quando está em jogo a causa maior dos brasileiros,
consistente na preservação da sua vida, que vale qualquer sacrifício, a
despeito de quaisquer opiniões, mesmo que estapafúrdias, vindas de onde vierem,
porque a história vai contar apenas a síntese do profícuo trabalho em benefício
da população.
Brasília,
em 16 de abril de 2020
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