Diante da crônica da minha autoria, intitulada “Sob a égide
da legalidade”, um nobre seguidor houve por bem fazer o seguinte e importante
comentário, evidentemente refletindo a sua respeitável opinião, verbis: “Dileto
conterrâneo, parabéns por sua sempre equilibrada visão dos fatos, mas continuo
achando o moro de fraco desempenho em seu cargo. Precisa-se que se apure o caso
Adélio que todo mundo sabe que foi um ato bem planejado e muito bem blindado. dizer
que aquilo foi ato individual não convence a ninguém. Por fim a forma de sua saída
foi de uma forma que ele sempre combateu no pt. expor conversas privadas e na
globo foi uma atitude muito deselegante e que não condiz com sua biografia.
Em
resposta ao dileto amigo seguidor, digo que, em parte, você está coberto de
razão, em especial pelo simples fato de não se puder apurar, a fundo, um dos
crimes mais emblemáticos do país, envolvendo logo o então candidato à
Presidência da República, onde, em princípio, haveria de ser disponibilizado o
que de melhor existisse para a elucidação dos fatos criminosos, precisamente
sem obstrução ou outras medidas com poder para se impedir as investigações ou
diligências necessárias à indicação do mandante do brutal crime.
No
caso da tentativa de se descobrir o autor do assassinato do presidente do país,
pode-se inventar qualquer hipótese, menos a ingenuidade de se atribuir omissão por
parte do ex-ministro da Justiça, porque, como você disse, o caso foi blindado
na origem, sem qualquer justificativa, pela Justiça, com a proibição tanto de se
saber quem patrocina regiamente os advogados famosos, para defender o criminoso,
como para não se permitir a plena transparência sobre as relações dele com seus
contatos e outros fatos que contribuíram, de maneira extrema e relevante, para dificultar
a elucidação do caso, fato absolutamente injustificável e inadmissível.
Ao
acusarem possível omissão do ex-ministro nesse episódio, sem a apresentação de provas
por mínima que seja, isso induz à ilação de muita injustiça e ato absolutamente
desumano, porque não dependia da competência direta dele, obviamente com o
devido respeito a quem pensar diferentemente.
Eu
também condeno, com muita tristeza, o vazamento de conversas privadas, porque
isso não condiz com os princípios de civilidade e cidadania, mesmo que isso
possa ter servido como álibi ou forma de tentativa de rechaçar a acusação justa
ou não do presidente de que o ex-ministro teria condicionado a troca do
diretor-geral da Polícia Federal somente para depois de novembro, quando ele já
estivesse no Supremo Tribunal Federal.
Nesse
caso, ele se sentiu ofendido e expôs ao Jornal Nacional prova de que ele teria
descartado oferta de ir para aquela corte, em setembro, caso ele concordasse com
a indicação e nomeação do nome da confiança do presidente, na forma da
intermediação de uma deputada, que insistiu que o ex-ministro cedesse e
aceitasse a nomeação do servidor de confiança do presidente.
No
outro caso, o ex-ministro revela para a televisão conversa com o presidente,
para mostrar que as alegações dele são verdadeiras, em razão da citação enviada
para seu celular pelo mandatário do país de que fato tal, que cita, era
suficiente para a pretendida mudança na Polícia Federal.
Ou
seja, em ambos os casos, o ex-ministro mostra que falou a verdade, por ter
provado o contrário do que afirmou o presidente, no seu pronunciamento, que
pretendeu muito mais fazer acusações fora da contextualização.
É
evidente que a maneira como isso foi feito merece o veemente repúdio das
pessoas sensatas e dignas, justamente por não compadecer com a pureza ínsita do
ser humano.
Não
obstante, nas circunstâncias, o ex-ministro deve ter agido segundo as suas
convicções e orientações próprias de seus sentimentos, em atendimento às suas
conveniências de homem público que havia acabado de se exonerar, por vontade pessoal,
de cargo da maior relevância da República e, no momento, tudo que fosse feito
para mostrar a licitude de seus atos era válido, evidentemente na versão dele, mesmo
que isso mostrasse, como de fato terminou acontecendo, em brutal atropelamento
dos salutares princípios de bom senso e racionalidade, que naturalmente há de
ter o seu preço.
Ante
o exposto, penso que o desempenho do ex-ministro circunscreveu em ambiente
extremamente adverso às suas potencialidades profissionais, sob o balizamento
das limitações impostas, sobretudo, o campo legal e constitucional da sua competência
como ministro, sabendo-se, à toda saciedade, que as suas ideias foram minadas e
reduzidas, em especial, pela ação do Congresso Nacional, que não concordou em
aprovar as medidas anticrimes e outras encaminhados pelo Executivo, tendo por
origem a pasta comandada por ele.
Brasília,
em 27 de abril de 2020
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