O
presidente da República participou, mais uma vez, de encontro com multidão
aglomerada, onde fez discurso inflamado que contrariou políticos e juristas, à
vista tanto da sua presença ao evento, por conta das medidas de isolamento social
como pelo tom contundente e agressivo do pronunciamento direcionado ao mundo
político.
O
presidente disse aos presentes que "Nós não queremos negociar nada. Nós
queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás, nós temos um
novo Brasil pela frente", falando em referência aos políticos que se distanciaram
do seu governo, em razão da nova mentalidade de gestão pública, que não
contempla mais a distribuição de cargos e outros privilégios, em troca de apoio
na aprovação dos projetos do Executivo no Congresso Nacional, na forma
conhecida como “toma lá, dá cá”, prática esta muito cediça em gestões anteriores
à dele.
No
discurso, o mandatário afirmou que "Todos, sem exceção no Brasil, têm
que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar
o Brasil no lugar de destaque que ele merece".
O
presidente foi aplaudido pelos manifestantes, que portavam faixas em defesa de
intervenção militar e vez ou outra gritavam frases contra o Congresso, o
Supremo Tribunal Federal e a favor do AI-5, o ato institucional editado durante
o regime militar, que teve como essência o endurecimento do regime.
O
presidente declarou que "Acabou a época da patifaria. Todos no
Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho
certeza de que todos nós juramos um dia dar a vida pela pátria. Vamos fazer o
que for possível para mudar o destino do Brasil.".
O
presidente seguiu o discurso, abaixo de aplausos, tendo dito que fará "o
possível" para mudar o destino do país, tendo garantido que a população
pode contar com ele para fazer "tudo aquilo que for necessário"
para manter a democracia e a "nossa liberdade".
Por
fim, o presidente afirmou que estava ali por "acreditar" nos
manifestantes e que "Chega da velha política".
Como
o presidente brasileiro participou, de maneira exaustiva, desse ato que pode se
tornar histórico, em especial por ele ter sido o principal ativista do evento,
com discurso em tom que evidencia, na interpretação de políticos, magistrados e
outros estudiosos da política brasileira, a sua adesão à intervenção militar, à
edição ao AI-5 e ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, tão
somente à vistas de muitas faixas postadas por pessoas participantes da manifestação,
porque, em palavra não há nada que leve à absurda interpretação sobre a ruptura
democrática.
De
imediato, o discurso do presidente suscitou fortes reações no mundo jurídico e
político, tendo os principais líderes repudiado, com veemência, o que eles consideram
que havia nele a pregação da ruptura democrática, por meio de apoio de ato
antidemocrático, em clara afronta ao Estado Democrático de Direito.
Outros
políticos concitaram a união dos democratas para se reuniram em torno da Carta
Magna e em defesa da democracia, de modo que seja possível a união dos democratas
para lutarem com o propósito da superação das dificuldades e divergências e em
defesa das liberdades.
Como
o presidente terminou sendo alvo de fortes censuras por parte da oposição, com
severas críticos por sua participação em um ato que, segundo eles, defendia nova
intervenção militar no país, ele declarou, de forma enfática, hoje cedo, entre outras
posições, que “é contra o fim da democracia”.
Ele
disse para a imprensa que, "No que depender do presidente Jair
Bolsonaro, democracia e liberdade estão acima de tudo. O pessoal
geralmente conspira para chegar ao poder. Eu já estou no poder. Eu já sou o
presidente da República. Eu sou, realmente, a Constituição".
O
presidente procurou esclarecer que não se trata do que estão o acusando de apoiar
atos contra a Constituição, tendo dito que "Peguem o meu discurso. Não
falei nada contra qualquer outro Poder. Muito pelo contrário. Queremos voltar
ao trabalho, o povo quer isso. Estavam lá saudando o Exército brasileiro. É
isso, mais nada. Fora isso é invencionice, tentativa de incendiar a nação que
ainda está dentro da normalidade".
O
presidente disse que a pauta do ato que teve sua participação era apenas "povo
na rua, dia do Exército e a volta ao trabalho".
Confrontado
com o fato de que os manifestantes também pediam a volta do AI-5, o presidente afirmou que "pedem desde 1968. Todo
e qualquer movimento tem infiltrados, tem gente que tem a sua liberdade de
expressão. Respeitem a liberdade de expressão".
O
presidente concluiu com a afirmação de quer o "Supremo aberto,
transparente. Congresso aberto, transparente", sem deixar de atacar, no
discurso, a imprensa e os governadores que tomaram medidas de restrição de
circulação das pessoas para evitar a disseminação do coronavírus.
Na
realidade, em momento algum, o presidente faz, no discurso – basta olhar no seu
conteúdo -, qualquer apologia a atos contra a Constituição, na forma como a oposição
tenta alardear, evidentemente para se criar situação de dificuldade à
governabilidade, fato este que não passa de visível forçação de barra,
ressalvado que a multidão realmente se manifestava fazendo a defesa de tudo
aquilo que estão tentando atribuir ao presidente, que não tem a menor
plausibilidade, diante dos fatos presenciais.
A
verdade é que, nas circunstâncias, à vista das importantes medidas de
isolamento contra o coronavírus, que estão em plena vigência, se o presidente
tivesse o mínimo de bom senso e sensibilidade política teria evitado mais um
tremendo desgaste, porque ele, como mandatário da nação, tem o dever primacial de
dar o exemplo, procurando evitar participação em ato com aglomeração, porque
isso é prova material de que ele descumpre juramento de posse, no sentido de cumprir
fielmente o regramento jurídico do país, de vez que o isolamento se insere em
normas editadas por governadores e prefeitos que precisam ser cumpridas por
todos, nas localidades onde elas estão em vigência, como é o caso de Brasília.
No
caso, não importa que ele seja o mandatário do país, porque as normas são obrigatórias
para todos, indistintamente, desde a maior autoridade da nação até o sem poder
de nada, porque se trata de precedente de péssimo exemplo para a sociedade em
geral, que precisa consolidar o respeito ao ordenamento jurídico, tendo por
base os bons modelos, principalmente do presidente da nação, mesmo que ele
discorde do isolamento social, mas isso não justifica qualquer ato de rebeldia,
diante da evidente desconstrução de importante lição, no sentido de que: se o
presidente do país, que precisa dar o exemplo maior, não observa a regra, como
quem do povo vai precisar cumpri-la?
Com
vistas ao fiel cumprimento ao salutar princípio da cidadania, a que dele o
presidente do país não tem como se ausentar, por mais que ele tente banalizar a
sua atitude, impõe-se não somente a devida censura pública, mas a cobrança de que
o mandatário da nação seja compelido a cumprir regra que é de abrangência aos
cidadãos, cuja rebeldia implica o reconhecimento da prática de deliberado ato
de incivilidade, muito prejudicial às sadias relações sociais.
Por
fim, causa perplexidade se perceber a invocação de políticos e juristas para
que haja união dos chamados democratas para lutarem em defesa das liberdades
democráticas, enquanto, para a salvação do Brasil, que se encontra mergulhado até
a raiz em crise profunda, das mais graves da sua história, de muitas matizes,
principalmente econômica, política, social, entre outras, não se ouve uma
minúscula voz, de quem quer que seja, implorando pelo desarmamento, pelo armistício
ou por outra medida qualquer para que todas as forças política, jurídica, artística,
intelectual, empresarial, bancária, industrial, populacional, enfim, os
patriotas em geral se convirjam, se deem as mãos, para a trabalharem com o único
propósito da reconstrução do Brasil, enquanto perdurarem as severas dificuldades,
independentemente de ideologia, religião, etnia etc., porque urge reacender nos
corações dos brasileiros o verdadeiro sentimento de amor à pátria.
Brasília,
em 20 de abril de 2020
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