quarta-feira, 22 de abril de 2020

Jogada política?


Um cidadão natural de Ohio, nos EUA, disse, recentemente, que o Covid-19 era uma "jogada política" e considerou que as medidas de isolamento social eram uma "farsa", mas, não se sabe se por pura obra do destino, esse homem, de 60 anos, morreu vítima desta doença.
De acordo com notícia publicada no jornal New York Post, o mencionado cidadão morreu no último dia 15, exatamente um mês depois de ele ter escrito uma série de mensagens, no Facebook, sobre o Covid-19, onde evidenciava extremo desagrado com as proporções alarmantes que o coronavírus havia tomado no mundo inteiro.
No dia 13 de março, o norte-americano perguntava, nas redes sociais, se mais ninguém "tinha coragem para admitir que o Covid-19 era uma ‘jogada política?’", e dois dias depois considerou que era uma estupidez a medida imposta pelo governador de Ohio, que houve por bem fechar restaurantes e bares e aconselhou que as pessoas ficassem em casa.
O ainda norte-americano escreveu e publicou que "Ele (o governador de Ohio) não tem autoridade para isso. Se estão ficando paranoicos com medo de ficar doentes não saiam de casa. Isso não devia impedir os outros de continuarem a viver as suas vidas".
Não obstante, o obituário do homem confirmou que a sua morte se deu por complicações de saúde causadas pelo Covid-19, tendo sido a primeira vítima mortal desse vírus, na cidade de Marion Country, conforme noticiou o veículo Marion Star.
Diante de tão difícil situação, em dissonância com as publicações feitas pelo mencionado homem, nas redes sociais, e que, por óbvio, já foram eliminadas, a sua família resolveu aproveitar a morte de seu familiar, por causa do mal que ele combatia, por não acreditar no que ele seria capaz, para apelar às pessoas que "continuem praticando o distanciamento social para que cada um se mantenha seguro".
Não há a menor dúvida de que cada pessoa tem direito de defender seu ponto de vista, sob o prisma do princípio natural do livre arbítrio, mas é preciso, antes de tudo, respeitar a livre vontade de cada pessoa, no sentido de entender que a opinião de alguém deva prevalecer apenas para si, porque ela pode não ser a mais correta para todos.
Ou seja, há ideias que até parecem muito importantes, nas circunstâncias, porém elas podem contrariar outros princípios essenciais à vida e se tornarem prejudiciais ao conjunto da sociedade, como nesse do norte-americano, que não vislumbrava o menor perigo no Covid-19, por considerar que as pessoas estavam ficando paranoicos e que, por isso, não havia necessidade alguma da observância das medidas preventivas preconizadas pelas autoridades de saúde pública, mas próprio se tornou vítima.
Não convém que apenas com base no achismo, as orientações sobre assuntos técnicos importantes, emanadas por autoridade governamental, devam ser objeto de descrédito, a exemplo do que pensam muitos brasileiros, inclusive o presidente da República, que tem demonstrado ser contrário à orientação do isolamento social pleno, mas ele, de maneira extremamente irresponsável, por ser a principal autoridade da República, tenta passar outra ideia de menor temor ao Covid-19, sem, para tanto, ele ofereça qualquer base técnica ou científica que possa garantir a certeza do que vem defendendo, no sentido de se converter o confinamento para apenas os idosos e as pessoas possuidoras de comorbidades, no caso daqueles que têm pressão alta, diabetes, deficiências pulmonares, renais e outras vulnerabilidade de imunidade e saúde.
É lamentável que o cidadão norte-americano, de que trata a notícia, tenha contribuído deliberadamente para a sua própria morte, sendo o primeiro da sua localidade a ir a óbito, justamente porque a sua disposição era a de não concordar com as medidas de proteção contra a disseminação do vírus.
Nos textos que escrevia, fica claro que ele acreditava que o coronavírus era absolutamente inofensivo, inclusive à pessoa dele, que passou para a  história como sendo o homem que discordava das medidas de prevenção contra o vírus, mas, quer queira ou não, ele se tornou a primeira vítima do vírus da sua cidade, porque fez questão de não acreditar no poder letal do Covid-19 e deixou de adotar as medidas de prevenção.
À toda evidência, não que estas pessoas desprezem a própria vida, mas fica bastante claro que, no caso em comento, houve indiscutível desdém às orientações emanadas por autoridades do Estado, quando o norte-americano fez questão de declarar que o governador não tinha autoridade para fechar o comércio, como medida preventiva, porque, em muitos casos, há aglomeração de pessoas e, consequentemente, facilitação para contágios do coronavírus.
Quis o destino que o mencionado norte-americano se tornasse a primeira vítima fatal do Covid-19, na cidade dele, não como castigo, longe de se pensar dessa maneira, mas por ele não concordar com as medidas preventivas pertinentes, ao se expor e contribuir para ser facilmente contaminado pelo vírus, que poderia não tê-lo atingido se ele tivesse agido apenas com racionalidade e civilidade, ao acolher, como fizeram as demais pessoas, as orientações com vistas à proteção pessoal.
Em tempos de pandemia, fica a importante lição de maior segurança que é seguir as orientações dos órgãos e das autoridades que são incumbidas de cuidar e zelar da saúde da população, salvo se as normas pertinentes derem margem à contestação por meios técnicos e científicos válidos e seguros.
Embora não se queira usar esse fato inusitado e lamentável como lição pedagógica, para mostrar que não se deva se opor levianamente e sem base técnico-cientifico às orientações preventivas das autoridades públicas, convém que as pessoas se esforcem em entender que, em termos de saúde pública, qualquer sacrifício de prevenção ainda é pouco quando se trata de pandemia, onde o seu principal agente é invisível, poderoso e cruel, tendo capacidade para desafiar até mesmo os piores incrédulo sobre a sua letalidade.
Brasília, em 22 de abril de 2020

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