O
advogado-geral da União disse que o órgão pode entrar na Justiça para
flexibilizar medidas de isolamento social, estabelecidas por governadores e
prefeitos para combater a disseminação do coronavírus, estando no aguardo de informações
do Ministério da Saúde e da Anvisa, para tomar a decisão.
O
referido comunicado vem depois de o governador de São Paulo ter afirmado que
pessoas que contrariarem as regras estabelecidas no estado e fizerem
aglomerações serão advertidas e, se insistirem, poderão ser presas pela Polícia
Militar.
A
mencionada autoridade entende que as medidas de restrição devem ter fins
preventivos e educativos não "repressivos, autoritários ou arbitrários.
Medidas isoladas, prisões de cidadãos e restrições não fundamentadas em normas
técnicas emitidas pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa abrem caminho para o
abuso e o arbítrio".
O
posicionamento do chefe da Advocacia Geral da União marca novo episódio da
tensão que pode se instalar entre o governo federal e os governadores dos
estados, porque é notório que o presidente do país defende que as medidas de confinamento
sejam relaxadas o quanto antes, em dissonância com as medidas tomadas por aquelas
autoridades.
O
referido advogado-geral pediu "bom senso e serenidade de todos",
tendo alertado que as medidas devem ser adotadas em estrita observância à Constituição
Federal, como forma de se garantir a ordem e a paz social.
É
mais do que óbvio de que a epidemia precisa ser entendida sob os parâmetros
compreendidos na extensão dos perigos que a doença oferece para a sociedade, na
medida em que a população possa estar sob iminente ameaça de exagerado
contágio, pondo em risco não somente o controle da doença em si, mas em
especial a capacidade de atendimento dos infectados, em relação à demanda.
Por
enquanto, há notícia de que tudo transcorre sob controle e em ritmo administrável
dos casos que exigem cuidados médicos e de internação.
Agora,
nem por isso, a população pode entender que o pior não aconteceu e não vai
acontecer e, em razão disso, deva jogar para o alto as medidas de restrições de
isolamento, em desrespeito à orientação das autoridades sanitárias.
É
preciso se entender que há imperiosa necessidade de todos contribuírem para
conter o contágio do Covid-19, à vista da inexistência de alternativa
capaz para se evitar o avanço do vírus invisível ou até mesmo o seu combate.
Não
se pode negar que, em muitos casos, a tentativa de controle do coronavírus
deixou de ser eminentemente médico e sanitário, para se transformar em plataforma
política, em especial quando o governador é adversário do presidente do país,
quando a disputa passa para o lado ideológico, em que a questão de saúde
pública fica prejudicada e bastante complicada, onde a racionalidade e o bom
senso vão para o espaço sideral.
Nessa
questão, tenho procurado ser o mais tolerante possível em defesa do isolamento horizontal,
em que todos precisam compreender e contribuir a sus fragilidade diante de
poderoso e letal inimigo.
Não
obstante, tenho enorme dificuldade para entender como seja preciso o
confinamento generalizada e uniforme para todo Brasil, quando mais de cinco mil
municípios não foram, felizmente, visitados pelo coronavírus, fato este que
seria motivo suficiente para se atentar para a urgente necessidade da liberação
das atividades normais, evidentemente mantendo-se as regras básicas de
distanciamento e os cuidados para se evitar o contágio do vírus.
Na
verdade, isso somente demonstra a plena incompetência e generalizada das autoridades
públicas em simplesmente se unirem em torno da defesa de algo que poderia muito
bem ser discutido e resolvido em benefício da sociedade, na compreensão de que
bastava a adoção de medidas preventivas e rigoroso controle, para que a normalidade
se faça presente nessas cidades.
Não
tem o menor cabimento que as cidades onde inexiste senão notícia sobre a existência
desse famigerado coronavirus sejam obrigadas a se solidarizarem-se com os rigores
das grandes cidades, onde há sim perigo da potencialização e disseminação do. coronavírus
São
exatamente nesses locais onde precisam ser redobrados os cuidados, mas por
meios e instrumentos civilizatórios de esclarecimentos, mediante normas e elementos
ilustrativos, onde fique muito claro e indiscutivelmente a real necessidade do
isolamento, sob pena do aumento da incidência da doença e a impossibilidade do
adequado e satisfatório atendimento aos necessitados.
Infelizmente,
a extrema incompetência e ineficiência das autoridades sempre há de prevalecer,
porquanto, de um lado, alguns governadores ameaçam endurecer, mandando até
prender a população que sair às ruas, quando não custava empregar o método simples
da racionalidade e da inteligência para convencer por meio de argumentos e elementos
pertinentes à questão, preferindo a ignorância.
Por
outro lado, outra autoridade pública se convence que poderá ser factível a
liberação em determinados casos, sem dispor de qualquer elemento nem pelo sim e
muito menos pelo não, porque o isolamento implantado pelo governo, a graças a
Deus, também ocorreu muito mais na base do grito do que com respaldo em algo
devidamente comprovado cientificamente, ou seja, à época, a ordem foi que vamos
todos para dentro da casinha, se não o bicho pega e ele é muito perigoso e
cruel.
Menos
mal que tenha sido assim, como foi, mas convém que as autoridades públicas brasileiras
se conscientizem de que é imperioso que os atos administrativos estejam
respaldados em elementos capazes de justificar a sua implementação, para que o
Brasil não fique parecendo a casa da mãe Joana, onde o ministério do governo defende,
com unhas e dentes, determinadas políticas, enquanto o mandatário do país ache
maravilhoso contrariá-las, com base em nada, apenas para ser diferente das nações
evoluídas, embora essa mania deturpada ainda não tenha interferido em nada, exatamente
porque a população, melhor esclarecida e temerosa sobre a extrema precariedade do
sistema de saúde pública, preferiu se resguardar e se manter no obsequioso confinamento.
Brasília,
em 12 de abril de 2020
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