O
ministro da Justiça e Segurança Pública entregou o cargo e, por óbvio, deixou o
governo após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal pelo presidente
da República.
O ex-juiz da Operação Lava-Jato se exonerou do governo na manhã de hoje, quando
foi informado pelo próprio ex-diretor da PF sobre a substituição dele.
Diante
desse episódio, a sua permanência no governo ficou insustentável, à vista da
promessa do presidente de que ele tinha “carta branca” para a indicação dos
diretores dos órgãos subordinados ao ministério comandado por ele, cuja
garantia havia sido quebrada com a exoneração do citado diretor-geral.
Não
é novidade de ninguém que o ex-juiz decidiu abrir mão da carreira de juiz
federal, com 22 anos de efetivo trabalho, que lhe deu fama de herói nacional
pela condução da Operação Lava-Jato, para virar superministro, tendo a garantia
do presidente da República de ser-lhe assegurada totais condições para continuar
na combativa lula contra a corrupção e a impunidade.
O
agora ex-ministro se tornou famoso nacional e internacionalmente por sua
bravura como o magistrado que conseguiu desbaratar o crime organizado perpetrado
nos governos começados no início do século, esquema sistêmico e endêmico que se
tornou mundialmente conhecido como o petrolão, por ter sido montado e
estruturado para dilapidar os cofres da Petrobras, por meio de desvio de recursos
de contratos celebrados por essa estatal.
Durante
o tempo em que o ex-ministro esteve à frente da citada operação, ele julgou
mais de cinquenta processos e mandou para a cadeia dezenas de aproveitadores de
recursos públicos, entre importantes políticos, empresários, empreiteiros,
executivos, operadores de câmbio e outros delinquentes assemelhados, além de
ter determinada a devolução de milhões de reais aos cofres públicos.
À
vista da sua autoridade como responsável implacável contra o crime, o ex-ministro
se firmou como o ministro mais popular do atual governo, diante da sua aprovação
superior à do próprio presidente do país.
A
grandeza do ex-ministro chegou a tanto que o próprio presidente o qualifico como
patrimônio nacional, graças à sua destacada e impressionante atuação no comando
da Lava-Jato.
O ex-ministro apresentou à nação os principais motivos que o
levaram a entregar o cargo, tendo afirmado que foi “fiel ao compromisso firmado
com o presidente do país e que não tinha como persistir com ele sem as
condições de trabalhar, sem a preservar a autonomia da Polícia Federal para
realizar seus trabalhos”.
Ou seja, ele disse que não se sentia à vontade “sendo forçado a
sinalizar uma concordância com uma interferência política na Polícia Federal
cujos resultados são imprevisíveis.".
O
ex-ministro declarou que o "Presidente me disse mais de uma vez que ele
queria ter uma pessoa do contato pessoal dele (na Polícia Federal), que
ele pudesse ligar, colher relatórios de inteligência. O presidente também me
informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal
Federal e que a troca também seria oportuna da Polícia Federal.”.
O ex-ministro falou que “Temos que garantir o
respeito à lei, à própria autonomia da Polícia Federal contra interferências
políticas. Poderia ser alterado o diretor-geral, desde que eu tivesse uma causa
consistente. Não tendo uma causa consistente e percebendo que essa
interferência política pode levar a relações impróprias entre o diretor-geral,
entre superintendentes, com o presidente da República, é algo que realmente não
posso concordar." .
Ele disse que "Fui convidado para ser ministro.
O que foi conversado com o presidente é que nós tínhamos um compromisso contra
a corrupção, o crime organizado. Foi me prometido carta branca para nomear
todos os assessores, inclusive nestes órgãos, Polícia Rodoviária Federal e a
própria Polícia Federal.".
É
até possível que muitas pessoas entendam que o ex-ministro tenha sido deselegante
ao sair do governo atirando para tudo que é lado e há também outros que dizem
que ele teria sido ingrato e outas afirmações na tentativa de tentar incriminá-lo,
porque ele poderia apenas ter limpado as gavetas e deixar a fila andar, sem
dizer nada, mas a sua sábia consciência pediu que ele dissesse a verdade sobre
os fatos, para o bem do Brasil.
Ocorre
que ressalvado o desconforto que sempre houve com relação à ciumeira do
presidente de olho do principal cargo da Polícia Federal, não havia nada que desabonasse
o trabalho do ministro, o que é bem diferente do que ocorreu recentemente no
caso do ex-ministro da Saúde, onde este e o seu chefe tinham rusgas públicas de
conhecimento de todos.
Nesse
caso, caberia ao ex-ministro dizer à nação os reais motivos da sua discordância
com a atitude do presidente, que foi exatamente a exoneração de diretor da sua confiança
sem unzinho motivo, sem qualquer causa a justificar a medida truculenta, que,
na verdade, ela existe, que é a necessidade de o presidente conhecer, conforme
foi dito por ele, que já conhecia o trabalho de outros órgãos federais e, então,
a sua autoridade presidência lhe autoriza também saber do que é investigado e o
que se passa na Polícia Federal, fato que não vinha ocorrendo na gestão do diretor-geral
exonerado, algo que também não tinha a complacência do ministro que teve a dignidade
de não concordar com a pouca vergonha que agora o mandatário ficará livre para implantar
no seu governo desmoralizado.
Aliás,
a imprensa de hoje noticia que a troca de diretor-geral está ligada ao
desconforto do presidente em relação às investigações da Polícia Federal, que
apuram a rede de criação e disseminação de fake news contra desafetos do
governo, que está muito próximo de conclusão, onde as provas aproximariam o
caso de um filho dele, que trabalha no chamado gabinete do ódio, que utiliza ferramentas
para disparar mensagens em massa contra alvos pré-selecionados que criticam as
ações do Executivo.
Ainda
há outra preocupação do presidente que diz respeito ao inquérito determinado,
pelo Supremo Tribunal Federal, sobre as manifestações que pediram o AI-5 e o
fechamento do Congresso Nacional e do Supremo, também sob a incumbência da
Polícia Federal e que os alvos são direcionados precisamente para filhos do
presidente, tudo sendo realizado pela Polícia Federal.
Não
se pode negar que, na forma da lei, cabe ao presidente da República a indicação
e a nomeação dos principais cargos do Executivo, ressalvados os casos em que o
titular tenha concedido carta branca ao ministro, que é o caso em discussão, em
que esse compromisso precisa ser rigorosamente respeitado, à exceção de alguma
irregularidade que o próprio presidente deva agir imediatamente, para se evitar
mal maior, fato este que não ocorreu no Ministério da Justiça, onde ele apenas
decidiu exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, para, em seu lugar,
colocar alguém que possa se afinar com a sua maneira nada republicana de gestão
pública, conforme mostram os fatos.
O
pronunciamento do presidente do país, em resposta às acusações do ex-ministro,
pareceu muito mais uma peça bufa, em que ele tenta, a todo instante menosprezar
e denegrir a imagem deste, tendo aproveitado para tecer rosário de pecados
dele, sem que unzinho se apresentasse como grave e comprometedor, fazendo acusações
sobre omissões por parte da sua pasta, quando o assunto sobre recursos a tribunais
é da competência da Advocacia Geral da União e de outros órgãos do governo.
Ou
seja, foi muito espalhafatosa e medíocre a fala do presidente sobre episódio
lamentável da República, no dia fúnebre para vida dos brasileiros, quando o que
restou foi mesmo um mandatário que se apresentou completamente despido de argumentos
plausíveis para esclarecer acusações gravíssimas e apenas teve a indelicadeza de
tentar minimizar a grandeza de personalidade considerada por ele como
patrimônio nacional, que não tendo feito nada de errado, foi obrigado a pedir a
sua exoneração de governo falido, precisamente por não concordar com ato contrário
à legitimidade.
Em
simples exame de consciência, sem muito esforço, a saída do ex-ministro do
governo, onde o ainda presidente eleito o colocou nas alturas, por acreditar
que ele, como símbolo maior de moralização, seria a prova definitiva de sucesso
de seu governo, nessa área de combate à corrupção, representa não o começo do
fim de uma gestão, mas o próprio fim dela, principalmente pela perda de
credibilidade por parte de muitos brasileiros honestos.
Em
síntese, é bastante lamentável que o presidente que foi eleito prometendo mudanças
de mentalidades, com destaque para a moralização da administração pública e das
práticas políticas, a exoneração do ministro que é exatamente símbolo desse
espírito de purificação põe por terra o restinho de credibilidade do que se esperava
do governo.
O
simples fato de intervir na Polícia Federal, com a arbitrária substituição do
seu diretor-geral, que vinha realizando excelente trabalho e que foi promovida
passando por cima do ministro, só demonstra segundo intenções maquiavélicas,
objetivando a obtenção de outros resultados nada republicanos, que jamais
seriam possíveis nas condições anteriores, porque os então titulares afastados não
se prestavam para se desviar do estrito cumprimento de suas funções
institucionais e legais.
Nem
precisa o presidente vir a público para dizer que nada do que foi dito pelo ex-ministro
não tem a menor credibilidade e muito menos plausibilidade, porque ele não tem como
provar, mas o corolário do que afirmou o ex-ministro é apenas a exoneração do
diretor-geral, sem a concordância dele, tendo por finalidade a sua substituição
possivelmente por pessoa subserviente ao presidente e isso tem cheiro pútrido e
fica péssimo demais para o governo, que não consegue uma nesga sequer de argumento
para tentar justificar a fragilidade de seu ato absolutamente desnecessário e
contrário à legitimidade.
Com o coração
contristado com o afastamento do herói nacional do governo, os brasileiros de
bem têm o dever cívico e patriótico de dizer muito obrigado senhor doutor
Sérgio Moro, por sua bravura e dignidade de ter, até o presente momento, trabalhado
em prol da moralização do Brasil, tendo inclusive se sacrificado com a perda do
importante cargo de juiz federal em nome dos brasileiros, que certamente estarão
sempre ao seu lado quando deles precisar, porque o seu prestimoso e
importantíssimo trabalho, principalmente à frente da Operação Lava-Jato, jamais
será esquecido.
Brasília,
em 24 de abril de 2020
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