É
evidente que não é elegante, agora, depois que houve a sua exoneração do cargo,
precisamente por estranha e persistente divergência com o presidente da
República, que o ex-ministro passe a ser considerado descartável ou considerado
pessoa incompetente.
Não
é dessa forma que o trabalho dele deva ser avaliado, mas sim tendo em conta o
que ele realmente fez e merece sim os devidos aplausos, por ter sido integro e
fiel às orientações emanadas pela Organização Mundial de Saúde, quanto à
imperiosa necessidade do isolamento da sociedade, na forma de quarentena com
capacidade de se evitar conglomerações e disseminação do coronavírus,
evidentemente como também para se possibilitar que o governo tivesse mais tempo
e condições para preparar as estruturas hospitalares, com vistas ao atendimento
da demanda de doentes, que, a exemplo do que ocorria em outros países, a
população brasileira certamente teria sido naufragada com as precárias
instalações para o atendimento de tantos doentes em quantidade insuportável.
Então,
o que o ex-ministro fez, de forma prudencial e extremamente necessária, foi
cuidar de conscientizar, com a devida precisão de mestre, os brasileiros que,
ou vai todo mundo se trancafiar nas suas casas, para se protegerem do vírus e
de, consequência, de verdadeira tragédia, com o natural colapso da rede pública
de hospitais, ou a perda de muitas vidas seria inevitável e catastrófica, a
despeito da opinião divergente do presidente da República, que sempre defendeu
o isolamento que protegesse apenas os idosos e possuidores de comorbidades.
Na
verdade, esse foi, sem dúvida o grande feito do ex-ministro, que, diga-se de
passagem, qualquer titular que estivesse no lugar dele teria feito, por certo, em
defesa da implantação de medida com as mesmíssimas finalidade e extensão
adotadas, mesmo porque, nas circunstâncias, era essa a única alternativa que o
bom senso e a racionalidade exigiam que se fizesse, para salvaguardar muitas e
importantes vidas humanas, à vista dos estragos que o poderoso coronavírus já
tinham causados nos países asiáticos e europeus.
Afora
isso, salvo melhor juízo, não se pode atribuir ao "herói" ex-ministro
nenhuma proeza digna de elogios por trabalhos extraordinários e que mereçam o
reconhecimento da população por algo notável nem excepcional, a ponto de ele
ser elevado ao patamar de revolucionário da saúde pública brasileira, exatamente
por falta de elementos fáticos que comprovem que ele apenas conseguiu realizar senão
a função de servidor zeloso e fiel à missão de cuidar da saúde dos brasileiros,
em obediência à cartilha que teria sido seguida por qualquer outro ministro,
porque, caso contrário, até mesmo aqueles que o aplaudem, possivelmente de
forma exagerada, estariam jogando pedras nele.
De
sã consciência, é preciso se reconhecer que o ex-ministro fez excelente
trabalho, sem nada espetacular, mas estritamente no que diz respeito às medidas
pertinentes ao combate ao coronavírus, conquanto é sabido que as medidas por
ele adotadas, pelo menos ao que se tem conhecimento, satisfez plenamente às
exigências dos organismos e entidades internacionais que cuidam da saúde do
planeta, o que nem poderia ser diferente, porque ele não teria autoridade para
contrariá-los, a despeito da necessidade justamente de se seguir cegamente
àquelas instituições, sob pena de ele puder vir a ser responsabilizado por
desvio de função e finalidade acerca dos propósitos da saúde pública.
A
propósito, neste momento propício para avaliação sobre o desempenho do
ex-ministro da Saúde, convém que seja registrado também, por questão de
justiça, o desempenho da saúde pública brasileira, no atual governo, a despeito
dos enormes elogios ao trabalho dele.
Pois
bem, ao que se tem conhecimento, de acordo com a opinião pública, nada,
absolutamente nada aconteceu de melhora ou novidade nos atendimentos dos
hospitais públicos, porque as intermináveis precariedades são responsáveis por
muito sofrimento da população mais carente de assistência.
As
notícias que se têm são de que as unidades de saúde continuam assoberbados de
doentes, que são colocados em macas improvisadas em corredores e entulhados em
qualquer lugar, à espera de atendimento, cirurgia, enfermarias e outras
providências que, em muitos casos, nem é possível se esperar tanto, à vista do
que foi relatado recentemente ao presidente da República por um médico,
angustiado, da cidade de Boa Viagem, Ceará.
Como
balanço do trabalho do ex-ministro da Saúde, esse estado de calamidade pública
precisa ser contabilizado na sua conta como triste legado da sua passagem por
um dos principais órgãos da República, que, no alto da sua alegada competência,
por muitos brasileiros que se conformam com absolutamente nada ou muito pouca
coisa, poderia muito bem ter feito algo para mudar o serviço público que somente
contribui para a tristeza de muitos brasileiros que têm direito a tratamento
digno de suas doenças, mas a verdade é que entra e sai governo e não há a
mínima preocupação nem priorização para a prestação de serviços que deveriam
valorizar a vida do ser humano, fato terrível que nunca será alterado, certamente
porque a própria população se conforma com esse estado de coisa, completamente inadmissível,
na atualidade, à vista do extraordinário avanço da humanidade.
Enfim,
louve-se o trabalho de ex-ministro que, com muita bravura, conseguiu cumprir o
seu dever funcional, fazendo exatamente o que era preciso, sem que isso possa
ser reconhecido como trabalho excepcional, porque ele apenas constava da rotina
de servidor público zeloso e responsável.
Brasília,
em 19 de abril de 2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário