Diante da crônica da minha lavra, intitulada “A canseira do
coronavírus?”, versando sobre a crise que existia entre o presidente da
República e o então ministro da Saúde acerca da condução das políticas de
combate ao referido vírus, cujo assessor até já foi substituído, muitas pessoas
se manifestaram, ganhando destaque a mensagem com os seguintes dizeres: “Quem
em sã consciência demite o que há de melhor em um governo no combate a uma
pandemia? Só um louco!”.
Em
resposta à distinta autoria da dessa opinião, eu digo que, com todo respeito ao
seu elevadíssimo nível de avaliação sobre o trabalho do ex-ministro, sem
desmerecer a enorme competência dele, mas é certo que ninguém pode garantir,
exatamente por falta de elementos plausíveis, que outro médico no cargo exercido
por ele não poderia ter feito trabalho muito melhor.
Pode
até ser considerada loucura a exoneração de ministro em plena guerra, mas, nas
circunstâncias, loucura maior seria continuar na batalha com o seu principal
general discordando da sua orientação, mesmo que ruim ou como seja, mas trata-se
de ideias do comandante, que tem o dever de assumir, conforme o caso, a culpa
ou os louros pelo resultado das medidas adotadas no curso da batalha.
Quer
queira ou não, quem comanda o Brasil, no sistema político atual, conforme o previsto
na Constituição Federal, é o presidente da República, que até demonstra ter seus
momentos de questionamentos pela população, que são notórios, em algumas situações,
mas, convenhamos, ele não poderia ficar sendo confrontado publicamente, com
veemência, por ministro que demonstrou total competência no seu trabalho, tanto
que as ações de governo, quanto às políticas contra o coronavírus e que estão
prevalecendo, com plena vigência, foram implantadas por exclusiva orientação dele
e não do presidente.
Ou
seja, em que pese o presidente do país ser contrário parcialmente ou a tudo o
que foi feito pelo então ministro, no fundo, o que existe em execução é da obra
e graça dele, que jamais deveria ter pensado em discutir em público com o eu
então chefe.
Em
síntese, não caberia ao ministro mostrar publicamente que o presidente estava
errado e o pior, de forma enfática, porquanto, na avaliação da opinião pública,
o seu trabalho foi realmente excelente, sem também chegar ao ponto de considerá-lo
insuperável, porque talvez ele imaginasse que não pudesse aparecer outra pessoa
também com experiência e outros conhecimentos em condições de substituí-lo.
Tudo
isso é muito relativo e serve para mostrar que o trabalho feito pelo ex-ministro
contribuiu muito para que ele se sentisse figura de total notoriedade a ponto
de ser considerado insubstituível no governo, por talvez imaginar, como muitas
pessoas ainda pensam, evidentemente sem base científica, que seria verdadeira
loucura dispensá-lo ao meio ao fogo cruzado, na certeza de que não se
conseguiria algum maluco para aceitar entrar na guerra, no seu auge, onde as
dificuldades se potencializam e os recursos são cada vez mais escassos e
limitados, fatos estes que conspirariam exatamente para tornar inviável a
substituição do ministro e, com isso, ele poderia dizer o que bem quisesse
sobre a incompetência presidencial.
Nada
impedia que o ministro tivesse as piores impressões sobre as opiniões e os
conhecimentos do presidente sobre saúde pública, mas, se ele quisesse mesmo permanecer
no cargo, bastava as manter no seu silêncio, porque elas não tiveram nenhuma influência
do trabalho dele, conforme dito acima, sendo, à toda evidência, muito mais amargurante
para o chefe, que não conseguiu emplacar nenhuma ideia para ser executada no
combate ao coronavírus.
Aliás,
caso alguma medida fosse determinada pelo presidente e o então ministro a considerasse
absurda, estapafúrdia, também ele teria o direito senão de dizer que não a
implementaria e, sem nenhuma crítica, entregaria o cargo, porque é exatamente
assim que devem proceder as pessoas inteligentes e de caráter, mas jamais se
submeter ao ridículo de criticar, em público e de forma ruidosa, o presidente
da República, não importando se ele entende de alguma coisa ou não.
É
preciso se compreender que a função do presidente do pais - como de resto, dos
demais ocupantes de cargos púbicos eletivos - foi delegada pelo povo, com
poderes para ele comandar todos os brasileiros, que gostem ou não, mesmo porque
se não fosse ele seria outro homem público, de qualquer ideologia, que estaria investido
dos mesmos poderes de mandatário do país e todos os cidadãos teriam a obrigação
de aceitar a situação na forma exatamente como ela se oferece.
Quanto
a esse imbróglio, ainda no
governo, o então ministro da Saúde admitiu a auxiliares ter exagerado na dose, conforme
notícia publicada na imprensa, nestes termos: “reconheço ter cometido um
erro estratégico ao elevar o tom do embate com o presidente Jair Bolsonaro
sobre a conduta do governo federal no enfrentamento ao novo coronavirus”, tendo
prometido, na ocasião, submergir nos próximos dias, para sair do foco da crise.
Ou seja, o
então ministro reconheceu que o seu arroubo de avaliação sobre as opiniões consideradas
furadas do presidente brasileiro foram muito além do limite de tolerância,
tendo superado até mesmo os seus planos estratégicos, conforme ele citou acima,
que devem ter sido preparados com fins políticos, o que evidencia cristalino
desvio de finalidade no exercício de relevante cargo público.
Possivelmente,
os planos do ex-ministro de desmoralização da autoridade do presidente com alguma
deficiência de preparo foram interrompidos, tendo fracassado também o seu
projeto político, porque ele pode ter sido muito ingênuo de ter se aprofundado
de forma exagerada no confronto contra pessoa à qual ele devia compromisso de
lealdade hierárquica e fidelidade à subordinação funcional, como forma da
manutenção da integridade republicana.
A
propósito da atribuição de ato de loucura presidencial, não é somente de agora que
o mandatário vem sendo tachado de sem juízo, porquanto, na formação do seu ministério,
ele teve a ingenuidade de nomear, pasmem, apenas pessoas qualificadas,
preparadas, com mérito técnico-profissional reconhecido pela opinião pública e
imprensa especializada, para seus assessores diretos, a exemplo do então
ministro da Saúde.
Essa
indiscutível loucura teve o condão de contrariar, diametralmente, o pensamento
dos governos anteriores, que, inteligentemente, na opinião de muitos entendidos
brasileiros, promoviam o loteamento e a distribuição de cargos de ministérios e
empresas estatais entre partidos políticos, com a fomentação do seboso e abominável
sistema do “toma lá, dá cá”, onde cada agremiação pertencente à chamada coalizão
de governabilidade se apoderava dos orçamentos desses órgãos e entidades e
tinha o direito às nomeações de seus apadrinhados e à distribuição dos recursos
segundo às suas conveniências políticas, em detrimento dos interesses nacionais.
Na
verdade, quer queira ou não, a exoneração do ministro da Saúde precisa ser entendida,
independentemente da competência ou de outros atributos dele, como importante lição
não de loucura do presidente da República, mas sim de ensinamento pedagógico de
que, na vida pública ou privada, é preciso haver a conscientização de que a
ordem, a disciplina e o respeito às instituições e às autoridades constituídas
são a base do desenvolvimento e do progresso.
Enfim,
o então ministro da Saúde foi exonerado em razão da sua indiscutível indisciplina
contra o presidente da República, em que pese a sua reconhecida capacidade
profissional, de extrema importância, mas ela, por si só, não apenas no Brasil nem
em outro país civilizado e evoluído do mundo, pode prevalecer incólume sem o
devido acatamento aos demais princípios civilizatórios e de cidadania, que
precisam ser cultuados de forma unissonante, como maneira harmoniosa do
funcionamento da administração de qualquer instituição ou do país.
Brasília,
em 17 de abril de 2020
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