O presidente da República convocou reunião com
médicos que estão na linha do combate ao novo coronavírus, mas deixou de convidar
logo o ministro da Saúde, que soube do evento por colegas que foram chamados.
O ministro imagina que o aludido encontro serviria
para tratar sobre o cloroquina, que ainda não há confirmação acerca dos efeitos
do medicamento no combate ao coronavírus, em que pese o seu uso ser defendido
abertamente pelo presidente e seus familiares.
O ministro da saúde acredita que a reunião seja uma
ideia da área de “marketing” do Palácio do Planalto para “bater uma
foto” com os principais médicos do país, o que não passaria da confirmação
sobre “nova polêmica” do governo.
Segundo
a imprensa escrita, a cúpula do hospital Sírio-Libanês proibiu que seus médicos
participassem do encontro com o presidente do país, talvez diante da ausência
do ministro, que poderia dar respaldo ao evento.
Sabe-se
que, durante o encontro, o presidente brasileiro defendeu, mais uma vez, o uso
de hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, embora, à toda evidência, os
testes sobre o medicamento são insuficientes e ainda não foram concluídos, em
nenhum lugar do mundo, nem mesmo nos países evoluídos, o que bem demonstra o
açodamento e a precipitação do mandatário tupiniquim, que quer se antecipar, na
marra, sem a devida segurança, com relação ao tratamento que precisa de comprovação
sobre a sua eficácia, na forma dos protocolos de análises médico-científicas.
Enfim,
não há a menor dúvida de que o relacionamento entre o presidente do país e o ministro
da Saúde é o pior possível, a ponto de haver explícitas críticas do mandatário
sobre o comportamento de seu principal assessor para a saúde, com afirmações nada
elegantes a respeito do desempenho dele, como a de que “faltava humildade no
ministro”, embora ele tenha declarado que não pretende demiti-lo em meio à grave
crise, mas garantiu que ninguém é "indemissível", tendo dito
que o seu assessor precisa "ouvir um pouco mais o presidente da
República".
O
presidente fez a seguinte declaração sobre o ministro da Saúde, em entrevista à
Rádio Jovem Pan, ipsis litteris: “Olha, o Mandetta já sabe que a
gente está se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra.
Em algum momento, ele extrapolou. Respeitei todos os ministros, ele também. A
gente espera que ele dê conta do recado. Tenho falado com ele. Ele está numa
situação meio... Se ele se sair bem, sem problema. Nenhum ministro meu é
indemissível. Ele (ministro) tem responsabilidade, sim. Ele cuida da Saúde, o
Paulo Guedes cuida da Economia, e eu entro aqui no meio para cuidar das duas
áreas.”.
Fica
bastante difícil para o presidente da República explicar para a opinião pública
a convocação de reunião de alto nível, para tratar de questão importantíssima relacionada
com a crise causada pelo poderoso coronavírus, sem a importante e fundamental
presença do principal coordenador e articulador das políticas governamentais
pertinentes.
Isso
demonstra absoluta falta de racionalidade, bom senso, sensibilidade e responsabilidade por parte do comandante da
nação, que não pode abdicar da imprescindível presença de quem vem cuidando
diretamente, com eficiência ou não, a depender da visão dele, das questões
relacionadas com a crise do coronavírus.
Não
há a menor dúvida de que isso só demonstra falta de confiança no trabalho
desenvolvido pelo ministro da Saúde, que, em princípio, demonstra absoluta aptidão
e competência à frente de atividades extremamente complexas que exigem o máximo
de cuidados e zelo, porque está em jogo milhares vidas humanas, que foram entregues
às mãos de ministro que não pode falhar o mínimo que seja, sob pena de a nação
inteira padecer por qualquer deslize por parte dele.
O
presidente da República tem todo direito de se reunir até com a mãe Joana, mas,
em momento algum, ele pode prescindir da participação ativa e importante do
ministro da Saúde, para tratar de assuntos referentes à área da competência
dele, porque é, à toda evidência, a pessoa que compete tratar e decidir sobre
as principais questões pertinentes à saúde pública, que dizem com a saúde dos
brasileiros, além de que o dono do poder não entende absolutamente nada sobre
as questões estratégicas de saúde e bem menos dos meandros envolvendo o
coronavírus.
O
presidente do país precisa ter a honestidade e a dignidade de substituir quem,
sob a sua visão, não tenha mais confiança no assessoramento da principal política
de saúde pública, embora o atual ministro parece ser a pessoa que vem se
dedicando em trabalho árduo, difícil, penoso e acima de tudo criterioso relacionado
com a saúde dos brasileiros, porque tudo deve ser feito, sobretudo, visando à
preservação de muitas vidas humanas, diante das ferozes ameaças do Covi-19, que
tem o poder de matar quem aparecer à sua frente, a depender do grau de
imunidade.
O
presidente da nação precisa ter consciência e racionalidade para entender que a
perda de confiança de qualquer de seus assessores só lhe resta a alternativa de
dispensá-lo, porque o desprezo dele, demonstrado no caso em comento, evidencia cristalina
falta de sintonia e coordenação entre o mandatário do país e o ministro da
Saúde, além de mostrar que este é absolutamente dispensável, à vista da falta
de justificativa plausível para o ocorrido, a suspeitar-se da execução paralela
das políticas de saúde pública no âmbito do governo, que precisa funcionar
ajustado e alinhado como um conjunto harmônico, em todos os sentidos, diante de
situação comparável à guerra, onde o inimigo pode se tornar vitorioso apenas por
pequeno detalhe: falta de competência de gerenciamento.
É
preciso que o presidente do país tenha o mínimo de consciência e responsabilidade
sobre a gerência da coisa pública, além de dignidade, competência e
inteligência, no sentido de vislumbrar os fatos não somente sobre o seu exclusivo
ângulo de visão, porque este pode carecer de mais experiência em área
específica, como forma de se contribuir para a grandeza de seu governo, tendo a
sensibilidade de prestigiar seus principais colaboradores, que são responsáveis
diretamente pelas políticas essenciais à prestação dos serviços necessários à
satisfação do interesse público.
Brasília,
em 3 de abril de 2020
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