terça-feira, 4 de maio de 2021

À espera de saneamento

 

Dias atrás, exatamente no dia 14 de abril, diante de muitos brasileiros, sendo que muitos dos quais ficam lamuriando às portas do Palácio da Alvorada, o presidente da República vociferou, em bom e alto som: “O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu devo tomar providência, eu estou aguardando o povo dar uma sinalização”.

Precisamente fazendo apelo veemente, o presidente do país, vestindo a camisa da seleção canarinha, muito rancoroso, decidiu sair às ruas, mais uma vez, para pedir que o povo concorde com o tão sonhado golpe democrático, permitindo que ele assine qualquer ato em consonância com a fúria antirrepublicana que transborda incontrolavelmente de seus pensamentos, como forma de demonstrar alguma medida golpista.

A verdade é que, conforme a resposta dada nas ruas, boa parte da população, que comunga com o mesmo pensamento antidemocrático do presidente, concorda com ditadura sob o comando do mandatário que não teve o mínimo de dignidade de informar ao país o que ele realmente pretende fazer depois do apoio por ele implorado e certamente recebido, na forma mais clara como foi dado pelo povo, no último domingo, que escancarou a sua vontade que o presidente use a sua caneta Bic, mesmo que seja medida de exceção, em ferimento aos princípios democrático e republicano, não importa.  

Causou perplexidade que, mesmo sem explicitar precisamente seus planos político-administrativos, o presidente contou com extraordinário apoio de brasileiros, tendo concedido carta-branca para ele, se quiser, promover inclusive a ruptura democrática, ao seu talante, diante do insensato e precipitado apoio para o que bem entender, inclusive para violar ditames constitucionais, em nome dessa perigosa confiança, sabendo-se que o tiro pode sair pela culatra, caso o presidente decida exatamente como ele vem pensando, que não deve ser nada sério e constitucional, diante da sua omissão, quando não teve a ombridade para mostrar que os seus propósitos são os mais perfeitos possíveis, em termos de legitimidade e satisfatoriedade às finalidades públicas.

Enfim, a pretendida autorização foi dada ao presidente do país, que agora fica com a incumbência de agir segundo os seus planos de corrigir o que ele acha que está errado, como sendo algo que prejudica os interesses dos brasileiros, na certeza de que, se nada for feito, o seu prestígio fica extremamente abalado, por afirmar que adotará medida saneadora, sem mencioná-la, se o povo assim autorizar.   

Fica a expectativa sem saber o que o presidente do país vai fazer, para mostrar, finalmente, a sua valentia, que compreende certamente medida excepcional, como, por exemplo, a colocação de tanques nas ruas, para combater os fantasmas que vêm agindo contrariamente aos interesses dos brasileiros,  ou simplesmente engolir a seco a resposta dada pelo povo, que foi bastante convincente, nas circunstâncias da vigência da pandemia do coronavírus, quando não se esperava o aflouxo de tanta gente nas ruas, na esperança de que apareça qualquer medida golpista ou não, em resposta aos anseios do povo, que imagina ser necessária alguma forma de dura lição corretiva, em especial, contra o Congresso Nacional ou o Supremo Tribunal Federal.

O certo mesmo é que, se a situação do país estava tão grave assim, como demonstrado com palavras no momento da imploração pelo apoio do povo, a ponto de se imaginar que o Brasil já tinha se precipitado em abismo abaixo, em plena queda livre, tinha-se a absoluta certeza de que o cuidadoso e zeloso presidente do país já tinha tudo pronto para a imediata detonação das medidas corretivas pertinentes, somente estudadas e planejadas pelo grande arquiteto do maquiavelismo político-administrativo, como forma de ainda conseguir salvar a nação dos inimigos.

Ao que tudo indica, toda essa pantomima não passa de exército de fantasmas que massacram permanentemente a mente de quem foi eleito para pensar grande e inteligentemente, com o propósito de realmente salvar os brasileiros dos verdadeiros perigos que os atormentam no dia a dia, porém com medidas realistas e efetivas, tão carentes como no combate à pandemia do coronavírus, que vem sendo enxergado como o mais pífio de todos os programas colocados em prática do mundo, a exemplo do absurdo das mortes já contabilizadas, que são fruto da incompetência, da insensibilidade e da irresponsabilidade perante a calamidade do século, conforme mostram os fatos.

Brasília, em 4 de maio de 2021

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