O presidente da República manteve o tom de dureza crítica
às medidas de isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus
e voltou a convocar a população a descumpri-las.
Em evento de inauguração de ponte sobre o Rio
Madeira, divisa entre os estados de Rondônia e Acre, o presidente retomou o
discurso de que “seu exército” não atuaria para manter a população em
casa e que “todos nós preferimos morrer lutando do que (sic) perecer
em casa”.
O presidente ameaçou, novamente, baixar decreto
presidencial contramedidas de restrição adotadas por prefeitos e governadores,
fazendo referência a “uma cópia dos incisos do artigo 5º da Constituição”.
Na sentença do presidente, o documento já está
pronto e todos deverão cumpri-lo, para assegurar “O nosso direito de ir e vir
é sagrado. A nossa liberdade de crença também, e também o trabalho. Não se
justifica daqui pra frente, depois de tudo que nós passamos, fechar qualquer
ponto do Brasil”.
Em
segunda, o presidente classificou apoiadores presentes no evento como pessoas
que “farão tudo, até dar até a própria vida, para garantir a sua liberdade”.
O Presidente também fez aceno a governadores que
queiram mudar de opinião com relação às medidas de isolamento social, dizendo
que “Creio até que muitos tomaram medidas por desconhecer o que estava
acontecendo, mas sempre é hora de mudarmos”.
O presidente disse que é necessário “reconhecer
o erro e tomar um novo rumo”.
O presidente afirmou que as críticas que ele recebe
“fazem parte, (mas) ignoro”.
O chefe do Executivo declarou não ser “politicamente
incorreto”, mas sim um “brasileiro correto, como a grande maioria de
vocês ou quase todos vocês”, aproveitando para voltar a inflamar os
apoiadores que participavam do evento, ao dizer que “O que vocês querem é
muito pouco, querem respeito, querem ordem e querem justiça, e o meu dever como
chefe supremo das forças armadas, como chefe da execução, é dar, é garantir
esse direito a vocês”.
Fica bastante difícil se compreender que, em pleno
século 21, com o avanço da modernidade, com o aperfeiçoamento da ciência e da
tecnologia, o presidente de uma nação tão importante como o Brasil se empolga
tanto diante de questão de somenos importância como a que se refere ao
isolamento social.
Certamente que em uma nação presidida por alguém
com o mínimo se sensatez, esse assunto seria resolvido facilmente por meio do
diálogo entre as partes envolvidas, por meio de interlocução de alto nível, com
vistas exclusivamente ao entendimento entre as autoridades federal, estaduais e
municipais, tendo por centralidade o consenso para questão que interessa
exclusivamente aos brasileiros e não à vontade de um ou outro governante.
Ou seja, quando há boa vontade e interesse político,
tudo se resolve tendo por base os argumentos pertinentes aos fatos, onde o
presidente expõe as suas colocações e os demais governantes põem na mesa as
suas motivações e, a partir de então, passa a funcionar a intermediação que tem
por premissa a busca do entendimento que melhor convirja para a satisfação do
interesse público, sem essa de se tentar saber finalmente quem tem razão,
porque na administração dos interesses da população somente esta precisa sair
do encontra com os louros da vitória.
A posição mais estapafúrdia do presidente do país
em falar na adição de decreto perante a Constituição, porque isso é sentimento mais
retrógrado e pueril que autoridade desse nível poderia suscitar.
Bastaria, para resolver as questões de Estado, tão
somente ter um pouquinho de bom senso e racionalidade, no sentido de que os sagrados
ditames da Carta Magna têm tranquila aplicação em estado de normalidade, em
nenhuma crise como a mais grave delas, a exemplo do que acontece com pandemia do
coronavírus, que se compara ao verdadeiro estado de guerra.
Em sã consciência,
inexiste qualquer dispositivo na Lei Maior se referindo ou estabelecendo que
seus dispositivos precisam ser rigorosamente respeitados mesmo nos casos de
pandemia, como assim exatamente vem esbravejando a insensibilidade palaciana,
quando o princípio da tolerância aconselha ponderação em situação de
excepcionalidade, como o que atravessa o país, com a pandemia, o que é bastante
diferente, além de que as medidas de isolamento, em princípio, se destinam ao
bem da população, à sua proteção, fato este que repudia o sentimento de
insensibilidade por parte de quem ignora a gravidade do momento.
O mandatário do país e seus seguidores precisam se
conscientizar, com urgência, de que a decretação do isolamento social deve ter
sido imposto como medida preventiva, diante do agravamento da crise causada pela
Covid-19, com maior incidência, a se evitar aglomerações e menor grau de contaminação,
à vista do abarrotamento dos hospitais, que são administrados governantes nas
localidades abrangidas pelas medidas restritivas, tudo isso sem a ingerência do
Palácio do Planalto, de onde saem as duras críticas e que deveria ter a
compreensão no sentido de prestigiar o diálogo com as autoridades que decidiram
agir no âmbito da sua jurisdição, para se evitar que o desastre seja ainda mais
prejudicial à população.
Nesse caso, fica bem claro que o presidente não
está preocupado em nada senão com as questões relacionadas com a economia, alegando
e elegendo liberdades individuais, mas com o sentido voltado para a economia,
que, induvidosamente, é de suma importância, mas ele precisa saber que as vidas
humanas têm primazia sobre todas as políticas de incumbência do Estado, tendo,
por isso, prioridade sobre todas as outras ações de governo.
Não há a menor dúvida, senhor presidente, de que o
povo quer muito respeito, que tem, acima de tudo, como primado o bom senso, a
racionalidade, a tolerância e a responsabilidade, no sentido de se governar sob
a observância dos princípios civilizatórios, que tanto vêm sendo distanciados
na condução do combate à pandemia, em que a presença do mandatário tem
acontecido de maneira adversa à cartilha da aderência às normas e às orientações
necessárias à eficácia do enfraquecimento da doença.
Uma forma de respeito por parte do presidente do
país seria essencialmente a sua sensibilidade à dureza e à seriedade no combate
à pandemia, a começar pela implantação de órgão de alto nível, como ente
centralizador dos assuntos inerentes às questões relacionadas com a Covid-19,
que se dispusesse a normatizar as medidas de controle da doença, além de ter condições
de liderar e coordenar os indispensáveis diálogos entre os órgãos e as autoridades
da federação, de modo a serem conduzidas as medidas pertinentes com as
necessárias eficiência e eficácia, com vistas à efetividade do combate à
tragédia que destroçou a saúde e a vida dos brasileiros, mas que, infelizmente,
vem merecendo notória ignorância por parte de quem tem a incumbência constitucional
para cuidar da saúde pública brasileira.
Urge que o mandatário brasileiro se conscientize de
que as suas críticas soltas ao vento não contribuem para absolutamente nada,
salvo para mostrar a vontade mórbida de instigação do povo contra as
autoridades que ainda têm sensibilidade para cuidar, na origem, dos muitos males
ainda existentes, na tentativa de evitar
aglomerações, que são foco primário de disseminação da doença causada pela pandemia
O presidente da República poderia prestar enorme
contribuição aos brasileiros, em termos de preservação da saúde e da vida
deles, se, ao invés de perder tempo com críticas injustificáveis e inócuas,
voltasse as suas ações para os devidos cuidados com medidas que efetivamente possam
contribuir para, pelo menos, minorar a gravidade da crise da saúde pública,
devotando maiores cuidados à essencialidade das medidas que dizem com o combate
à pandemia, na forma de algumas indicadas neste texto.
Por fim, é preciso que diga, a bem da verdade, que
a desafinação do presidente do país, com relação às questões essenciais de
interesse da população, tem bastante contribuição negativa de brasileiros que concordam
plenamente com ideias desfocadas da realidade, porque elas poderiam ser imediata
e normalmente repudiadas, mostrando que ele vem precisando de melhor assessoramento
político-administrativo, para precisa orientação, até mesmo como forma de freios
e contrapesos, de modo que a execução das políticas de interesse da população
seja coerente com os princípios da competência, eficiência e responsabilidade
demandados pela cartilha regedora da boa e regular gestão pública.
Ante o exposto, o presidente da República, que se
diz ser “brasileiro correto”, poderia implantar no seu governo unidade
centralizadora nacional para cuidar das questões pertinentes à pandemia, tendo
a elegância, a diplomacia, a competência, a sensibilidade e a responsabilidade
de somente tratar desse assunto por meio de diálogo sério e construtivo, apenas
no sentido de se buscar as melhores soluções para os problemas, com vistas à
satisfação dos interesses da população, deixando de lado, pelo menos por enquanto,
as desavenças políticas, porque elas somente dizem respeito às insensibilidades
que têm o condão de levar à incompetência e à irresponsabilidade gerenciais, em
detrimento das causas dos brasileiros.
Brasília,
em 8 de maio de 2021
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