quinta-feira, 20 de maio de 2021

Em defesa dos brasileiros

 

Em crônica que, basicamente, procurei ressaltar a importância das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, diante da imperiosa necessidade de esclarecimentos à sociedade por tantos desacertos e desencontros na execução das políticas pertinentes ao combate à grave crise da saúde pública, que já resultou na lastimável perda de mais de 400 mil brasileiros, sob suspeitas de negligência, descaso entre muitas insensibilidade e incompetência, o texto pertinente mereceu apoio e críticas, mostrando a riqueza das ideias sobre tema que, em princípio, deveria ser do interesse de todos, no sentido da sua transparência, em se tratando que a pandemia se acha presente diante de cada brasileiro.   

De modo geral, uma das ferrenhas críticas se dirigiu aos membros da CPI, tendo um ilustre, combativo e inteligente comentarista redigido a seguinte mensagem: “Querido Adalmir, vc sabe que metade desses senadores bandidos só se elegem comprando votos de gente ignorante, o povo consciente não vota num Renan desse que é o dono de Alagoas, veja que o filho é o governador do estado, vc acha que ele vai investigar o filho? essa CPI é desmoralizada e uma grande palhaçada onde um vagabundo com 11 processos quer condenar outro sem nenhum ela não tem legitimidade nenhuma meu amigo não estou criticando seu artigo na essência e sim a CPI em questão, que pelo menos chamassem pessoas ficha limpa.”.

É preciso respeitar a opinião de todos, em especial no que pertine à baixíssima moralidade de membros da CPI, que é fato notório, e ainda no que diz à má qualidade das atividades políticas, que estão muito longe do desejável quanto ao respeito aos princípios da moralidade e da dignidade, que são essenciais e de extrema necessidade, em termos da decência na administração pública.

Ocorre que, no caso em comento, se o senador vai ou não investigar os atos do filho dele, não pode ainda se afirmar qual será o resultado dessa história, diante da possível precipitada formação de juízo de valor sobre a questão de foro familiar, que não deveria existir no caso, porque isso não faz parte do contexto imaginável de isenção e seriedade que precisam imperar no seio da política.

          O importante é que se investigue tudo que esteja no objeto visado pela CPI, de modo que os fatos suscitados desde a existência da pandemia possam ser apurados, para o fim exclusivo de se trazer a verdade à baila, porque não tem como se conformar com esse deplorável estado de indiferença a milhares de mortes e nada seja feito fora da normalidade, como se isso fosse tolerável, que não é, de sã consciência, salvo para quem é realmente insensível à desgraça humanitária.

A meu juízo, não se pode condenar, desde logo, sem conhecimento de fatos concretos, os trabalhos da CPI, sem ainda ter em poder elementos suficientes para se fazer juízo de valor sobre o que poderá acontecer ou resultar das investigações pertinentes.

Agora, a bem da verdade, nada impede, falando-se no sentido estrito de norma disciplinadora sobre os trabalhos internos, como no caso de que somente pode integrar a comissão quem não estiver envolvido em suspeita de irregularidade, caso em que possivelmente nem existiria instalação dela, ou seja, era preciso que tivesse regra estabelecendo que senador suspeito da prática de ato ilícito não pode participar de CPI, porque se imagina que não tenha dispositivo estabelecendo que suspeito da prática de atos ilícitos ou réu na Justiça não possa integrar a comissão ou cousa que o valha.

Ou seja, é bastante vergonhoso que pessoa possuidora de um desses atributos possa participar de trabalho de extrema valia para o interesse da sociedade, em se tratando de assunto da maior importância, conquanto se espera que as investigações digam se houve acertos e/ou negligências na condução das políticas de combate à pandemia do coronavírus, diante de muitas e escabrosas suspeitas sobre omissões e incompetências, que precisam ser esclarecidas perante a sociedade, que merece respeito, em termos de transparência, quando se trata da gestão de recursos públicos e ainda mais quando a terrível epidemia já causou quantidades estrondosas de perdas de vidas humanas, a ponto de qualquer governo medíocre e desleixado ter o máximo de empenho para cuidar e zelar, em termos de prioridade das prioridades, para, pelo menos, mostrar que tem consciência sobre a retumbante gravidade desse mal que, infelizmente, não tem sido capaz de sensibilizar quem mais precisava, para que demandasse tratamento à altura da perversidade da doença.

Não obstante, não apenas com o emprego do que for necessário para o normal socorro dos pacientes, quando se trata de doença de enorme gravidade que seria necessária a declaração de estado revolucionário de guerra, para se cuidar com exclusividade e o emprego de todos os recursos possíveis e impossíveis, porque, nas circunstâncias, é o que somente o que exige essa verdadeira calamidade humanitária.

          Na minha modesta opinião, somente pelo fato de o principal órgão do governo, que tem a incumbência constitucional de cuidar da saúde pública, ter ficado quase um ano acéfalo, sendo dirigido por leigo e especialista em estratégia própria do Exército ou cousa que o valha, quando a guerra envolvendo a pandemia do coronavírus exigia a presença da experiência e dos conhecimentos técnico-especializados de profissional da área médica ou de sanitarismo.

Essa forma esdrúxula de compreensão sobre situação da maior gravidade para a saúde pública não condiz com os princípios modernos de administração pública, em que, ante a imperiosidade de tratamento especial e qualificado do momento, é o caso de se ensejar a qualificação muito apropriadamente como de triplo crime de lesa-saúde, lesa-humanidade e lesa-pátria, conquanto certamente muitas medidas importantes e necessárias, em forma de combate à pandemia do coronavírus, deixaram de ser adotadas, em momentos cruciais, justamente em razão da falta de conhecimentos médico-sanitários, para o enfrentamento da terrível doença, e isso é de suma importância no conjunto das avaliações dos graves acontecimentos.

É evidente que fica bastante difícil para se provar em contrário dessa assertiva, por falta de elementos suficientes e probantes, mas qualquer pessoa, com o mínimo de bom senso e racionalidade, compreende perfeitamente que se trata de extrema irresponsabilidade colocar amigo, leigo da área extremamente especializada, para dirigir o ministério que cuida da saúde pública dos brasileiros, sob a imperiosidade do enfrentamento de pandemia de gravíssima letalidade, para que ele apenas cumpra as suas ordens, permitindo que se execute apenas o necessário.

É bem possível que, nas circunstâncias, muitos brasileiros achem normal essa aberração gerencial, em especial aqueles que não tiveram nenhum parente vitimado pela Covid-19 e também ainda não tenham se tocado para a gravidade da pandemia do coronavírus, tendo apenas a consciência segundo o entendimento de que tudo foi muito bem executado com bastante competência e necessários cuidados, conforme manda o figurino, inclusive com relação à imunização, em que pese a campanha pertinente transcorrer a trancos e barrancos, precisamente por causa da escassez de doses de vacinas e outros contratempos ocorridos na campanha pertinente.

          Enfim, espera-se que as investigações, mesmo sob fortes críticas aos nada puros integrantes da CPI, possam contribuir para o despertar da consciência e da sensibilidade de alguém para a real gravidade da Covid-19, não com relação em quem somente pensa em si, mas no que se refere aos interesses dos brasileiros, que continuam sobre fogo pesado e cruzado do permanente perigo desse cavernoso vírus, que já deveria, há muito tempo, ser combatido com ferocidade e os maiores dos empenhos por parte de quem tem a incumbência constitucional de zelar e cuidar intensa e insistentemente da saúde e da vida dos brasileiros.

Brasília, em 20 de maio de 2021

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