segunda-feira, 24 de maio de 2021

Lockdown?

 

Doravante, o presidente da República passa a ter relevante atribuição, a de atacar e contra-atacar o ex-presidente petista, como ele fez agora, em pronunciamento que não poupou críticas ao adversário político, tendo-o chamado de “bandido que não tem um dedo”.

O presidente do país se mostrou irritado com declarações do petista, que vem defendendo o aumento do auxílio emergencial, para o valor de R$ 600,00.

O atual presidente disparou a seguinte mensagem: “Um bandido que não tem um dedo falou há pouco que ia dar um auxílio emergencial de R$ 600 para todo mundo. Por que não fez lá atrás com o Bolsa Família? Hoje, a média do Bolsa Família é de R$ 190”.

O presidente esclareceu que “Estamos trabalhando para que, após o quarto mês desta terceira etapa do auxílio, suba o valor do Bolsa Família, porque sabemos que nesse tempo de pandemia houve inflação, aumentou o preço da alimentação e muitas outras coisas no Brasil”.

O presidente garantiu ter “feito o possível” em relação ao auxílio emergencial, cujo valor médio é de R$ 250, mas pode variar de R$ 150 a R$ 375, a depender da composição familiar.

O mandatário brasileiro aproveito o ensejo para também criticar todo o PT e à esquerda brasileira, incluindo a ex-presidente petista, a quem se referiu como “aquela senhora”, conforme a seguinte mensagem:  Ofertamos ao povo brasileiro mais do que os primeiros oito anos do PT, somados com a meia dúzia de anos daquela senhora. Isso não é virtude, temos a obrigação de atender quem necessita”.

Na linha das costumeiras críticas, terminou sobrando para o lockdown, quando ele, aproveitando o discurso sobre a crise financeira, declarou que “Nunca deixei de estar do lado de vocês, especialmente desde março do ano passado, quando apareceu esse vírus e aqueles entendidos, engravatados, aconselhavam a ficar em casa todo mundo: ‘A economia a gente vê depois’. Não é assim, grande parte dos brasileiros vive da informalidade, não tem carteira assinada e foi esquecida por esses que mandaram fechar o comércio e destruíram milhões de empregos.”.

O presidente do país fez questão, mais uma vez, de contrariar estudos e pesquisas promovidos por entidades especializadas sobre a pandemia do coronarívus, tendo afirmado que “não há comprovação científica” de que o lockdown auxilie no combate à Covid-19.

Em conclusão, o presidente do país ressaltou que “Temos problema com desemprego, sim, e querem botar na minha conta também. Mas a conta é de quem fechou tudo sem qualquer responsabilidade, sem qualquer comprovação científica, apenas para posar de que estava preocupado com a vida de vocês. Obviamente, nós defendemos o distanciamento e higiene, mas o emprego é tão ou mais importante”.

Nessa história em que o petista sugere a elevação do auxílio emergencial para valor que ele entende que seja ideal, diante das dificuldades enfrentadas pelos brasileiros, não parece que possa ser motivador da indignação do mandatário, porque isso se insere nas atividades de quem já demonstrou que irá concorrer à Presidência da República, ou seja, trata-se de comportamento normal por parte de quem tem pretensões políticas.

Assim, sob esse contexto, parece extremamente fora de propósito, porque não é de bom tom, em termos do relacionamento dele com as pessoas, o presidente do país ficar agredindo as pessoas que ele antipatize, por meio de palavras como “bandido” e outras de conotação pejorativa, porque isso só evidencia o baixíssimo nível do tratamento próprio de quem exerce o mais relevante cargo da República, de quem se exige elevadíssimo comportamento, em termos de cidadania e civilidade, compatível com o verdadeiro estadista, evidentemente a merecer a reciprocidade do tratamento igualmente respeitoso, conforme ensinam os princípios e as boas regras de educação.

Por óbvio, o presidente que se acha no direito de chamar seu semelhante de bandido e outros apelidos próprios da conotação intencional de denegrir a imagem da pessoa, corre sério risco de ser também tratado por desumana descortesia, o que não pega bem para autoridade que representa a República, que, em princípio, merece ser respeitada como instituição que é o símbolo sagrado do Brasil.

Por seu turno, parece horroroso que alguém ouse afirmar ser contrário ao lockdown, como medida preventiva do contágio da Covid-19, quando está mais do que comprovado que as aglomerações são a fonte primária dos focos da contaminação entre as pessoas.

Afirmação desse teor se torna ainda mais desastrada e insensata quando pronunciada pela principal autoridade do país, que tem a precípua incumbência de combater, com eficiência e efetividade, a disseminação do vírus.

Na verdade, essa maneira impensada de comportamento somente demonstra o sentimento de insensibilidade perante situação que exige o máximo de concentração sobre a responsabilidade constitucional imposta ao mandatário do país, a quem se espera atitudes exemplares em todos os sentidos, levando-se em conta a sublime gravidade da pandemia que exigia, desde o seu começo, o máximo de esforços com vistas às melhores maneiras do emprego das medidas necessárias.

Nesse caso específico, há sim comprovação e estudos científicos mostrando que as aglomerações são as causas principais do contágio da doença, que também pode incidir com o contato pessoal, a depender dos cuidados ou da falta deles, o que vale dizer que, para quem tem sensibilidade, nem precisa defender o isolamento social, pelo simples fato de se entender que o risco se torna potencial por meio das aglomerações.  

Ao mesmo tempo que condena o lockdown, o presidente do país diz que “Obviamente, nós defendemos o distanciamento e higiene, mas o emprego é tão ou mais importante”, o que demonstra, com isso, sua incoerência sobre tão grave questão, embora prevaleça mesmo nele a ojeriza às medidas preventivas contra a Covid-19, porque ele não as pratica no quotidiano, conforme mostram os fatos.

Enfim, cada vez que o presidente do país critica as medidas de isolamento somente acentua a certeza do tanto de negligência havida nesse caso, em particular, notadamente porque, na qualidade de detentora da incumbência das políticas nacionais de saúde pública, na forma da Constituição Federal, a união teria a obrigação de cuidar especificamente sobre a normatização referente ao isolamento social, tendo o cuidado de estudar amplamente a questão, com a participação dos órgãos da federação, de modo a ter possibilitado o estabelecimento de normas próprias, por consenso, com a participação dos governos federal, estadual e municipal, por envolver interesses comuns de proteção da população.

Não há a menor dúvida de que a economia defendida pelo presidente do país é de suma importância, mas bem menos do que a vida humana, mas o governo nada fez para cuidar de também proteger as atividades econômicas, que poderiam ter sido salvas por meio da referida normatização, quando se permitiria, nos casos devidamente regulamentados, a compatibilização do controle da pandemia com essas atividades.

A verdade é que a falta de iniciativa, boa vontade e interesse para agir, em conjunto e união, contribuíram para a formação da omissão de incumbência administrativa, cuja generalização permitiu a formação e a consolidação desse estado caótico vivenciado tanto no controle da pandemia como nas atividades econômicas, representado por centenas de mortes e a economia decadente, cujo conjunto desse fracasso pode ser tranquilamente atribuído, em especial, à incompetência, à insensibilidade e à irresponsabilidade.  

É duro que se chegue à conclusão tão ruim, mas os fatos são pródigos em mostrarem a falta de sintonia entre as autoridades do país, que preferiram politizar os assuntos referente à pandemia do coronavírus, permitindo cada vez o distanciamento entre elas, em total detrimento dos interesses da população, de quem se buscará votos, logo em breve.

Há nesga de esperança de que os brasileiros tenham inteligência e dignidade para o reconhecimento, não sobre o que foi feito para o enfrentamento da pandemia do coronavírus, que não passou do estritamente necessário, mas sim do que realmente deixou de ser feito nesse sentido, uma vez que tantos estragos com as mortes e o caos econômico poderiam ter sido minimizados, caso não houvesse negligência administrativa, insensibilidade humanitária e irresponsabilidades.      

Brasília, em 24 de maio de 2021

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