sexta-feira, 7 de maio de 2021

Decisão de risco?

            O vice-presidente da República disse que a nomeação de general para o cargo de ministro da Saúde foi "uma decisão de risco" do presidente da República.

O ex-ministro da Saúde deveria ter sido ouvido pala CPI da Covid, mas o seu depoimento foi adiado sob a alegação de ele ter tido contato com dois militares diagnosticados com a doença do coronavírus, tendo alegado que precisaria ficar em quarentena.

O vice-presidente disse que "Acho que, independente (sic)de ser general da ativa ou da reserva, a colocação do Pazuello como ministro da Saúde foi uma decisão de risco, independente disso aí. Óbvio que agora, com essa questão da CPI, o Pazuello não pode se furtar a comparecer e prestar lá o seu depoimento", agora marcado para o próximo dia 19.

Essa autoridade defendeu também que o ex-ministro não vá à CPI depor em trajes militares, já que ele foi convocado pela comissão na condição de ex-ministro da Saúde.

Ele disse que "É óbvio que ele vai ser pressionado, então, ele tem que manter a calma. Existe um velho ditado militar que sempre diz o seguinte: cabeça fria no corpo quente. Então, é dessa forma que ele tem que se comportar. Não tem que ir fardado, porque ele não estava em uma função militar. Apesar dele (sic) ser um general da ativa, ele estava em uma função civil, tem que comparecer em trajes civis que era a função que ele estava exercendo. E suportar a pressão".

O ex-ministro chegou ao Ministério da Saúde em abril de 2020, como secretário-executivo, não tendo nenhuma experiência na área, vindo, em seguida, quase que imediatamente, a assumir o comando da pasta interinamente e depois ele efetivado no cargo.

A gestão do general foi marcada pela militarização do Ministério da Saúde, mediante a nomeação de militares para postos estratégicos e pelo discurso alinhado ao do presidente da República, o que incluiu a defesa do chamado tratamento precoce da Covid, com uso de medicamentos que não têm eficácia comprovada cientificamente para a doença.

A gestão do general também ficou marcada pela extrema lentidão nas negociações para a compra de vacinas, que somente começaram a aparecer depois de fortes pressões vindas principalmente do Congresso Nacional.

Na passagem do general à frente Ministério da Saúde, o país registrou o colapso no sistema de saúde, com falta de oxigênio e medicamentos para intubação de pacientes graves de Covid, provocado pela segunda onda da pandemia e o surgimento de nova cepa do vírus, fato que o atormenta diante das investigações da CPI, porque qualquer deslize por parte dele pode concorrer para sujar a imagem do presidente do país, em razão do entrosamento que havia entre ambos, quando ele afirmava, com tranquilidade, que dependia do chefe para adotar determinada medida.  

Na passagem do general pela pasta da Saúde, ainda tem a conduta suspeita dele na crise da saúde no Amazonas, que virou inquérito no Supremo Tribunal Federal.

A nomeação do general especialista em logística do Exército para a Saúde foi sim decisão de alto risco, mas ela significou muito mais em termos de administração da gravíssimo crise alimentada pela pandemia do coronavírus, que o bom senso, a racionalidade e a sensatez recomendariam que a única condição exigida para comandar ministério com a incumbência do gerenciamento da saúde pública seria a colocação de especialista em Medicina ou sanitarismo, áreas que teriam reais afinidades com a questão enfrentada pelo governo, que pensou muito mais na comodidade dele do que no interesse da população, porque, do contrário, jamais seria possível o órgão estritamente especializado em saúde ser administrado por um leigo e ainda adjutorado por outras pessoas da sua corporação, também sem conhecimento da área.

A decisão do presidente do país, por ter decido deixar o Ministério da Saúde acéfalo, por quase um ano, somente confirma a sua completa insensibilidade para causa da maior importância para questão de extrema especificidade à precariedade da saúde, o que somente evidencia a indiferença dele para com a crise bastante severa, que exigia o máximo de cuidados com o emprego do que de melhor pudesse ser colocado a serviço do combate à pandemia, inclusive no que se refere ao pessoal, que ficou a desejar por tanto tempo, cujas incompetência, insensibilidade e irresponsabilidade precisam sim ser assumidas perante os brasileiros, que foram privados dos melhores cuidados nesse particular.

A maior prova desse desacerto fica evidente agora, quando o general vem correndo do dever de depor perante a CPI, por ele ter absoluta certeza de que será detonado pelo  bombardeio a ser dirigido sobre a cabeça dele, em cobrança por tudo que foi feito ou deixado de ser feito na gestão dele, que já tem um rosário de perguntas preparado para o general responder, todas com o peso do mais volumoso petardo que ele precisa dar o melhor trato possível nas informações pertinentes, sob pena de complicar seriamente a vida do ex-chefe.

No regime sob a égide do Estado Democrático de Direito, os representantes do povo precisam responder por seus atos, tanto pelo resultado das ações produtivas em benefício da sociedade como pelos desacertos, mesmo aqueles são empregados sob a forma de risco, porque estes também fazem parte da gestão no seu conjunto.

Em absoluto, não se pretende afirmar que o general tenha sido responsável pela prática de crimes, mas não se pode negar que o seu trabalho não foi o melhor possível, precisamente porque ele foi defenestrado do governo por pressão de aliados do presidente, mais precisamente por integrantes do Centrão, que estavam insatisfeitos com a presença dele em órgão que nada fazia para combater a pandemia do coronavírus, doença que já causou mais de 400 mil mortes.  

No caso específico da nomeação do general para a pasta especialista em saúde pública, quando ele não entendia patavina da área, foi, em princípio, sem a menor dúvida possível, o mais ofensivo crime perpetrado contra os brasileiros, à vista da evidência da insensibilidade sobre a gravidade da crise causada à saúde pública pela pandemia do coronavírus, por ser normal a presença de especialista para cuidar, com a devida competência de conhecimentos, as questões demandadas, na esperança de que elas poderiam ser estudadas, tratadas e solucionadas com a melhor habilidade exigida para o momento de extrema gravidade, conforme mostram os fatos.

          Brasília, em 7 de maio de 2021

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