Em momento de descontração religiosa, já finalizando a
audiência geral das quartas-feiras, no Vaticano, o papa quis ser engraçadinho,
ao fazer piada logo diante de animado grupo de brasileiros.
Ao transitar pelo pátio de San Damaso, o pontífice foi
abordado por um padre de Campina Grande (PB), que pediu orações para a
população do Brasil, por meio do seguinte apelo: “Santo Padre, reze por nós,
brasileiros?”.
Imediatamente, o papa respondeu, sorrindo, certamente em
tom de brincadeira, verbis: “Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca
oração”, conforme mostra a parte do vídeo da agência italiana Ansa.
Esse vídeo foi divulgado nas redes sociais de
correspondentes de rádio e televisão dos países latino-americanos.
Infelizmente, convém notar que o vídeo somente publicou parte da reportagem,
dessa transcrita acima, porque não houve a continuidade da gravação da conversa,
que não aparece nele, em clima mais ameno, sério e familiar, quando, logo em seguida,
o papa teria concluído a conversa, ao dizer que “rezava sempre pelo Brasil e
que tinha um carinho muito grande pelos brasileiros.”.
Depois disso, o papa continuou cumprimentando as pessoas, com a alegria
habitual dele perante os fiéis.
Na verdade, pode-se se intuir que se trata realmente de brincadeira em
momento fortuito, mas é certo que a grandeza da autoridade do chefe da Igreja
Católica jamais se permitiria uma desconcentração com o sentido tão gravoso
como o de condenar os brasileiros a não terem salvação, sob a pecha de preferirem
cachaça à oração, porque isso não poderia sequer praticável nem mesmo por leigos
em religião, que respeitam o livre arbítrio e os sentimentos das pessoas.
Considerando a rivalidade existente entre brasileiros e argentinos e
vice-versa, mesmo em tom de brincadeira, que contou com a tentativa de conserto
em seguida, isso pode até ter fundo para forma de recado aos fiéis tupiniquins,
que aparentam diminuição da fé católica, possivelmente diante também de
atitudes nada construtiva como essa do papa.
O santo papa teria sido muito mais elegante se apenas tivesse respondido
o seu gesto de carinho aos brasileiros com a conclusão do seu discurso, tão
somente no sentido de dizer que “rezava sempre pelo Brasil”, dispensando
o inconveniente gracejo nada compatível com a representatividade eclesiástica
pontifícia, em especial neste momento de crise causada pela pandemia do coronavírus.
A impressão que fica é a de que o papa perdeu excelente oportunidade
para marcar a sua autoridade de comandante da Igreja Católica, apenas por meio
da afirmação que realmente interessava ao religioso campinense e demais
brasileiros realmente desejosos de rezas papais, tendo por finalidade o
recebimento da proteção contra os males que tanto afligem o povo, eis que ele
tanto precisa da ajuda celestial, diante do desprezo com que vem sendo dispensado
pelas autoridades terrestres brasileiras, conforme mostram os fatos de
insensibilidade, incompetência e irresponsabilidade no enfrentamento do combate
à tragédia humanitária do século.
É preciso ficar muito claro que o papa, mesmo em tom de
brincadeira, não tem autoridade para declarar quem pode se salvar, quanto mais
em relação aos brasileiros, porque o Brasil é país, graças a Deus, de povo
que trabalha, tem alegria e muita fé nas suas crenças, como forma da manutenção
dos seus princípios religiosos, que são a força espiritual que alimenta e
sustenta o seu amor às causas divinas.
Infelizmente, o mundo lá fora enxerga o Brasil bem assim como fez o
santo papa, como tendo o povo com a mentalidade bastante desconectada do juízo
normal, que adora malfeito e tirar vantagem de tudo, em especial no que se
refere ao mundo político, onde, via de regra, há plêiade de homens públicos infames
cuidando exclusivamente de seus interesses, em detrimento das causas da
população.
Se há pretensão de se mudar essa horrível mentalidade preconcebida de
país de preguiçosos e de pessoas sem noção, que servem de motivo para piada
mundial, como essa infeliz do papa, é preciso gigantesca campanha para se
mostrar, com a maior seriedade possível, que aqui se trabalha e se cultua práticas
voltadas para o bem comum, de modo a se tentar a obtenção do respeito das
outras nações, inclusive do papa, infelizmente.
A verdade é que a piada papal foi extremamente inconveniente,
porque feita em momento de concentração popular em busca da ajuda divina para
questões relacionadas com a crise da pandemia, que exige, antes de tudo,
seriedade e respeito à dignidade dos cristãos brasileiros, com a sua saúde tão
afetada pelos maus-tratos no combate à doença, à vista da enorme quantidade de
mortes.
Não obstante, com todo respeito ao pontífice, os brasileiros agradecem
as suas orações aos céus, no sentido de nos ajudar neste momento de dificuldade,
de alguma forma, com a sua sabedoria religiosa, dizendo que o momento não é de piadas,
mas sim de seriedade e respeito, sendo que este precisa ser mútuo.
Sem a menor dúvida, o Brasil é o país que concentra o maior rebanho católico
do mundo, cujo povo, não somente os cristãos seguidores da Igreja Católica, foi
atingido indistintamente pela indevida piada papal, não merece desrespeito de maneira
alguma, quanto mais em momento crucial como este onde grassa a pandemia do
coronavírus, de forma avassaladora contra os brasileiros.
Enfim, espera-se que os brasileiros levem em conta a verdade sobre a
piada do papa, já que ele não se dignou a pedir desculpas ao povo, no sentido
de procurar beber bem menos e rezar muito mais, na esperança da obtenção da salvação.
Brasília, em 29 de maio de 2021
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