sábado, 29 de maio de 2021

Esperança na salvação?

 

Em momento de descontração religiosa, já finalizando a audiência geral das quartas-feiras, no Vaticano, o papa quis ser engraçadinho, ao fazer piada logo diante de animado grupo de brasileiros.

Ao transitar pelo pátio de San Damaso, o pontífice foi abordado por um padre de Campina Grande (PB), que pediu orações para a população do Brasil, por meio do seguinte apelo: “Santo Padre, reze por nós, brasileiros?”.

Imediatamente, o papa respondeu, sorrindo, certamente em tom de brincadeira, verbis: “Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração”, conforme mostra a parte do vídeo da agência italiana Ansa.

Esse vídeo foi divulgado nas redes sociais de correspondentes de rádio e televisão dos países latino-americanos.

Infelizmente, convém notar que o vídeo somente publicou parte da reportagem, dessa transcrita acima, porque não houve a continuidade da gravação da conversa, que não aparece nele, em clima mais ameno, sério e familiar, quando, logo em seguida, o papa teria concluído a conversa, ao dizer que “rezava sempre pelo Brasil e que tinha um carinho muito grande pelos brasileiros.”.

Depois disso, o papa continuou cumprimentando as pessoas, com a alegria habitual dele perante os fiéis.

Na verdade, pode-se se intuir que se trata realmente de brincadeira em momento fortuito, mas é certo que a grandeza da autoridade do chefe da Igreja Católica jamais se permitiria uma desconcentração com o sentido tão gravoso como o de condenar os brasileiros a não terem salvação, sob a pecha de preferirem cachaça à oração, porque isso não poderia sequer praticável nem mesmo por leigos em religião, que respeitam o livre arbítrio e os sentimentos das pessoas.

Considerando a rivalidade existente entre brasileiros e argentinos e vice-versa, mesmo em tom de brincadeira, que contou com a tentativa de conserto em seguida, isso pode até ter fundo para forma de recado aos fiéis tupiniquins, que aparentam diminuição da fé católica, possivelmente diante também de atitudes nada construtiva como essa do papa.

O santo papa teria sido muito mais elegante se apenas tivesse respondido o seu gesto de carinho aos brasileiros com a conclusão do seu discurso, tão somente no sentido de dizer que “rezava sempre pelo Brasil”, dispensando o inconveniente gracejo nada compatível com a representatividade eclesiástica pontifícia, em especial neste momento de crise causada pela pandemia do coronavírus.    

A impressão que fica é a de que o papa perdeu excelente oportunidade para marcar a sua autoridade de comandante da Igreja Católica, apenas por meio da afirmação que realmente interessava ao religioso campinense e demais brasileiros realmente desejosos de rezas papais, tendo por finalidade o recebimento da proteção contra os males que tanto afligem o povo, eis que ele tanto precisa da ajuda celestial, diante do desprezo com que vem sendo dispensado pelas autoridades terrestres brasileiras, conforme mostram os fatos de insensibilidade, incompetência e irresponsabilidade no enfrentamento do combate à tragédia humanitária do século.

É preciso ficar muito claro que o papa, mesmo em tom de brincadeira, não tem autoridade para declarar quem pode se salvar, quanto mais em relação aos brasileiros, porque o Brasil é país, graças a  Deus, de povo que trabalha, tem alegria e muita fé nas suas crenças, como forma da manutenção dos seus princípios religiosos, que são a força espiritual que alimenta e sustenta o seu amor às causas divinas.

Infelizmente, o mundo lá fora enxerga o Brasil bem assim como fez o santo papa, como tendo o povo com a mentalidade bastante desconectada do juízo normal, que adora malfeito e tirar vantagem de tudo, em especial no que se refere ao mundo político, onde, via de regra, há plêiade de homens públicos infames cuidando exclusivamente de seus interesses, em detrimento das causas da população.

Se há pretensão de se mudar essa horrível mentalidade preconcebida de país de preguiçosos e de pessoas sem noção, que servem de motivo para piada mundial, como essa infeliz do papa, é preciso gigantesca campanha para se mostrar, com a maior seriedade possível, que aqui se trabalha e se cultua práticas voltadas para o bem comum, de modo a se tentar a obtenção do respeito das outras nações, inclusive do papa, infelizmente.

A verdade é que a piada papal foi extremamente inconveniente, porque feita em momento de concentração popular em busca da ajuda divina para questões relacionadas com a crise da pandemia, que exige, antes de tudo, seriedade e respeito à dignidade dos cristãos brasileiros, com a sua saúde tão afetada pelos maus-tratos no combate à doença, à vista da enorme quantidade de mortes.

Não obstante, com todo respeito ao pontífice, os brasileiros agradecem as suas orações aos céus, no sentido de nos ajudar neste momento de dificuldade, de alguma forma, com a sua sabedoria religiosa, dizendo que o momento não é de piadas, mas sim de seriedade e respeito, sendo que este precisa ser mútuo.

Sem a menor dúvida, o Brasil é o país que concentra o maior rebanho católico do mundo, cujo povo, não somente os cristãos seguidores da Igreja Católica, foi atingido indistintamente pela indevida piada papal, não merece desrespeito de maneira alguma, quanto mais em momento crucial como este onde grassa a pandemia do coronavírus, de forma avassaladora contra os brasileiros.

Enfim, espera-se que os brasileiros levem em conta a verdade sobre a piada do papa, já que ele não se dignou a pedir desculpas ao povo, no sentido de procurar beber bem menos e rezar muito mais, na esperança da obtenção da salvação.  

Brasília, em 29 de maio de 2021

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