sábado, 1 de maio de 2021

A marca da insensibilidade?

 

Em crônica onde comentei a precariedade sobre a campanha de imunização dos brasileiros, principalmente diante da demora para o seu início e a escassez das dozes, fato que somente confirmava a insensibilidade do governo quanto ao verdadeiro sentido de combate à pandemia do coronavírus, um cidadão contra-argumentou tendo por base situação verificada em outros países, dando a entender que Brasil estaria em situação confortável, quando é exatamente o contrário, conforme mostram os fatos.

          Sem a menor dúvida, impressionou a sabedoria demonstrada pelo conhecimento desse cidadão, por mostrar que ele se preocupa em acompanhar os fatos do mundo, tendo condições de comparar o desempenho de outros países com o que acontece no Brasil, com relação à imunização, na tentativa de defender o indefensável, à vista de tudo de insensibilidade que vem se revestindo em relação ao combate à pandemia do coronavírus.

Teria sido bastante importante se o governo brasileiro tivesse adotado as melhores medidas contra a Covid-19, em conjunto com os governadores, prefeitos, entidades representativas de classes sociais e a sociedade interessada, com a exclusiva finalidade de cuidar da saúde dos brasileiros, com embargo da politicagem sebosa e recriminável que até agora vem prevalecendo, em detrimento da seriedade, da competência e da responsabilidade pelo cuidado que devido com o que se refere ao interesse público, notadamente no que diz respeito à saúde e à vida dos brasileiros, foram tratadas com desprezo, à vista dos fatos, que falam vivamente.

Os governos sensíveis aos princípios humanitários compraram vacinas suficientes para a imunização do seu povo, com bastante antecedência, mostrando preocupação com o verdadeiro sentido de priorização para a proteção da saúde, porque a vacina ainda é o único instrumento com real capacidade para a diminuição do contágio da Covid-19.

O Brasil demorou muito para iniciar a imunização e a campanha pertinente vem sendo executada aos trancos e barrancos, com a progressiva diminuição das doses, a exemplo da dificuldade de aquisição do produto e isso tem tudo a ver com a falta de interesse do governo, que apenas cuida da pandemia como sendo algo normal, quando a crise é gravíssima, a ponto de se  exigir tratamento de choque, por meio de todos recursos revolucionários, com apelo para o emprego de todos os instrumentos e mecanismos, inclusive imagináveis, por se tratar de circunstâncias excepcionais de pandemia da maior gravidade contra a saúde pública.

Na atualidade e nas condições de precariedade vivenciadas, se o Brasil é um país que já vacinou mais do que outros países, o que se diria se ele tivesse sido organizado e providenciado o devido planejamento sobre a compra da vacina, com bastante antecedência, como fizeram as nações que começaram a imunização ainda em dezembro, ou seja, um mês antes do Brasil?

Por fim, eu, muito pessoalmente, considero gravíssimo erro o principal órgão incumbido da execução das políticas de saúde pública ter ficado acéfalo, por quase um ano, tendo como titular especialista em logística, quando deveria ser alguém com profundos conhecimentos em Medicina ou sanitarismo, na pior tragédia da saúde brasileira, diante da inaceitável quantidade de mortes, agora já superando à deplorável marca dos 400 mil óbitos, fato este que tem sido incapaz de sensibilizar as consciências letárgicas de autoridades públicas e boa parcela da população, onde há pessoas festejando o brilhante desempenho do governo, algo que não pode acontecer nem nas republiquetas, onde seja possível que o sentimento humanitário seja valorizado.

Não obstante, o Brasil se encontrar mergulhado no verdadeiro caos, com a saúde pública em colapso e sem a menor perspectiva de melhoras, porque nada sinalizar nesse sentido, em termos de interesse por parte do governo, com o emprego de instrumental diferenciado do que se encontra em prática, apenas sendo colocado em prática o necessário para cuidar dos casos existentes, sem qualquer preocupação diante da tragédia, que é cristalina.

O governo defende a normal circulação das pessoas, mas não teve competência para normatizar procedimentos sobre as questões de isolamento social, como de resto o seu principal órgão da saúde pública foi omisso em todos os setores, inclusive na fiscalização dos recursos repassados para os estados, que se tornaram objeto de gananciosos desvios, tamanho a farra com o que seria para o combate sério à pandemia.

Isso é um pouco do quadro de precariedade referente ao combate à pandemia do coronavírus, por conter a verdade colocada em prática pelo governo, respeitando quem pensar diferentemente disso, diante dos sentimentos ínsitos dos princípios democráticos. 

Os resultados referentes ao combate à pandemia do coronavírus refletem o real sentimento dos brasileiros, diante da prova fiel da sua concordância com o descaso e a insensibilidade para com a calamidade humanitária, responsável por mais de 400 mil mortes e nada foi feito de extraordinário contra a doença do século, salvo as medidas paliativas e indispensáveis, que não passam do normal dever do Estado.

A esperança que resta para os brasileiros é o que depender das investigações a cargo da Comissão Parlamentar de Inquérito, em funcionamento no Senado Federal, de onde se espera a produção de medidas capazes de obrigar as autoridades governamentais a agirem precisamente à altura da gravidade da pandemia do coronavírus, de modo a se evitar a pacífica continuidade da monstruosidade dos estragos já causados às centenas de vidas humanas, precisamente em razão da insensibilidade, da incompetência e irresponsabilidade.

Vejam-se que não haveria a mínima necessidade de CPI, que compreende elevados custos, se as medidas adotadas pelas autoridades públicas tivessem ido e atendido além das exigências para o combate à situação de calamidade pública, à vista de tantas mortes, que poderiam ter sido bem menores, no caso de simples demonstração de preocupação com a vida dos brasileiros.  

A verdade é que cada povo tem o governo que merece, mas não há margem de dúvida de que os brasileiros não mereciam tamanho infortúnio ambientado na insensibilidade humanitária e na incompetência administrativa, cujos componentes são responsáveis pela catástrofe determinante no colapso da saúde pública e ausência de medidas efetivas e agressivas contra a Covid-19.

Brasília, em 1º de maio de 2021

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