A
Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, em funcionamento no Senado Federal,
vem colocando, em cada dia, mais lenha na fogueira acesa desde o seu início na
disputa entre o presidente da República e membros dela, em especial quanto ao
atraso da vacinação no Brasil.
Nesse
fronte, encontram-se políticos da oposição no ataque, com artilharia pesada
contra o governo, enquanto aliados do presidente tentam defendê-lo, oferecendo
contra-argumentos no sentido de que o Palácio do Planalto fez o que pôde para
obter as vacinas contra a doença que já matou mais de 425 mil brasileiros.
Nesse
ponto, o depoimento à CPI do gerente-geral da Pfizer na América Latina reforçou,
junto com outras informações já coligidas, fortes indícios de que o presidente do
país realmente pode ter negligenciado no efetivo combate à pandemia do
coronavírus.
O
representante da Pfizer afirmou que a empresa fez, em 2020, ao Brasil ao menos
cinco ofertas de doses de vacinas contra o coronavírus e que o governo federal
ignorou proposta para a compra de 70 milhões de unidades do imunizante, que não
mereceram sequer resposta quanto ao interesse de negociação, diante da falta de
resposta para o assunto.
O
representante da Pfizer disse que, se o contrato tivesse sido assinado pelo
governo, em agosto do ano passado, o Brasil teria disponíveis 18,5 milhões de
doses da vacina até o segundo trimestre deste ano, já começando a entrega do
primeiro lote a partir de dezembro último, mas o Ministério da Saúde só firmou
acordo com o laboratório em março deste ano, tendo adquirido 100 milhões de
doses, dos quais 14 milhões devem ser entregues até junho.
O
representante da Pfizer disse que "A proposta de 26 de agosto tinha
validade de 15 dias. Passados 15 dias, o governo não rejeitou e nem aceitou a
oferta.".
Caso
tivesse havido a negociação com a Pfizer, no ano passado, o Brasil poderia ter
recebido, pelos cálculos, acima de 18 milhões de doses, até o presente momento.
O
gerente-geral da Pfizer esclareceu que as condições impostas para a venda de
vacinas ao governo brasileiro não eram "leoninas", como havia
afirmado o ex-ministro da Saúde, como justificativa para a demora na compra de
doses, porque as condições contratuais eram, “em linhas gerais, as mesmas
oferecidas para outros países, com pequenas variações por causa das
peculiaridades de cada localidade.”.
As
condições impostas pela empresa, que exigia imunidade por eventuais efeitos
colaterais da vacina e queria garantias de pagamentos no exterior, entre outros
pontos, foram apontadas pelo governo brasileiro como obstáculo para a aquisição
da imunização, as quais não impediram que o Brasil fechasse contrato com aquela
empresa, nas mesmas condições que considerava impeditivas para a aquisição da vacina.
Somente
nesse caso específico da Pfizer, fica bem comprovada a negligência do governo quanto
às negociações referentes à compra de vacinas, mesmo diante das insistentes
propostas feitas pela empresa, que demonstrava reiterado interesse em vender
seu produto, mas, em se tratando de imunização, algo essencial contra a
Covid-19, o interesse maior deveria ter sido do governo em reservar a maior quantidade
possível de doses, para correr contra o tempo, na busca de vacinas para a proteção
dos brasileiros.
Nessa
questão da vacinação, não valem as comparações do Brasil com outros países para
tentar justificar que há progresso enorme em relação a determinada nação, para
se dizer que há países em situação pior, sim, mesmo porque o país precisa olhar
para os bons exemplos dos países que tiveram o cuidado de se antecipar na
compra de vacinas e ainda correram para o começo da imunização ainda no ano
passado, enquanto o país tupiniquim somente iniciou a imunização um mês depois,
interregno esse que poderia ter evitado muitas mortes, à vista das drásticas
estatísticas de mais de 425 mil mortes causadas pela Covid-19, muitas das quais
atribuíveis à conta da negligência, que não se tem como provar em contrário,
para se imiscuir de responsabilidades e culpabilidades.
A
verdade é que os atrasos na imunização são visíveis a olho nu e o Brasil não
serve, de maneira alguma, de bom exemplo com relação aos devidos cuidados
quanto ao seu dever de cuidar e proteger a vida dos brasileiros, precisamente
porque há sim meses atrasados na imunização, diante da incompetência gerencial
referente à aquisição de vacinas, que estão sendo distribuídas à conta gotas
aos Estados, que até chegaram a interromper a campanha, justamente por falta de
doses.
O
trabalho da CPI da Covid é da maior importância para o país, porque ele poderá
mostrar os erros e os acertos do governo, no seu desempenho à frente do combate
à pandemia do coronavírus.
Nesse
caso da imunização dos brasileiros, é de suma importância que os responsáveis
pelo atraso na vacinação sejam apontados, para possibilitar que eles apresentem
as devidas justificativas para tamanho desastre, com repercussões extremamente
negativas, em termos humanitários, como forma de respeito às famílias que
perderam seus entes preciosos para a doença e choram diante de possíveis
incompetência gerencial, pelo descaso nas negociações referentes à compra de
vacinas, que exigiam prioridade por parte do governo.
Brasília,
em 14 de maio de 2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário