sexta-feira, 14 de maio de 2021

De quem é a culpa?

 

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, em funcionamento no Senado Federal, vem colocando, em cada dia, mais lenha na fogueira acesa desde o seu início na disputa entre o presidente da República e membros dela, em especial quanto ao atraso da vacinação no Brasil.

Nesse fronte, encontram-se políticos da oposição no ataque, com artilharia pesada contra o governo, enquanto aliados do presidente tentam defendê-lo, oferecendo contra-argumentos no sentido de que o Palácio do Planalto fez o que pôde para obter as vacinas contra a doença que já matou mais de 425 mil brasileiros.

Nesse ponto, o depoimento à CPI do gerente-geral da Pfizer na América Latina reforçou, junto com outras informações já coligidas, fortes indícios de que o presidente do país realmente pode ter negligenciado no efetivo combate à pandemia do coronavírus.

O representante da Pfizer afirmou que a empresa fez, em 2020, ao Brasil ao menos cinco ofertas de doses de vacinas contra o coronavírus e que o governo federal ignorou proposta para a compra de 70 milhões de unidades do imunizante, que não mereceram sequer resposta quanto ao interesse de negociação, diante da falta de resposta para o assunto.

O representante da Pfizer disse que, se o contrato tivesse sido assinado pelo governo, em agosto do ano passado, o Brasil teria disponíveis 18,5 milhões de doses da vacina até o segundo trimestre deste ano, já começando a entrega do primeiro lote a partir de dezembro último, mas o Ministério da Saúde só firmou acordo com o laboratório em março deste ano, tendo adquirido 100 milhões de doses, dos quais 14 milhões devem ser entregues até junho.

O representante da Pfizer disse que "A proposta de 26 de agosto tinha validade de 15 dias. Passados 15 dias, o governo não rejeitou e nem aceitou a oferta.".

Caso tivesse havido a negociação com a Pfizer, no ano passado, o Brasil poderia ter recebido, pelos cálculos, acima de 18 milhões de doses, até o presente momento.

O gerente-geral da Pfizer esclareceu que as condições impostas para a venda de vacinas ao governo brasileiro não eram "leoninas", como havia afirmado o ex-ministro da Saúde, como justificativa para a demora na compra de doses, porque as condições contratuais eram, “em linhas gerais, as mesmas oferecidas para outros países, com pequenas variações por causa das peculiaridades de cada localidade.”.

As condições impostas pela empresa, que exigia imunidade por eventuais efeitos colaterais da vacina e queria garantias de pagamentos no exterior, entre outros pontos, foram apontadas pelo governo brasileiro como obstáculo para a aquisição da imunização, as quais não impediram que o Brasil fechasse contrato com aquela empresa, nas mesmas condições que considerava impeditivas para a aquisição da vacina.

Somente nesse caso específico da Pfizer, fica bem comprovada a negligência do governo quanto às negociações referentes à compra de vacinas, mesmo diante das insistentes propostas feitas pela empresa, que demonstrava reiterado interesse em vender seu produto, mas, em se tratando de imunização, algo essencial contra a Covid-19, o interesse maior deveria ter sido do governo em reservar a maior quantidade possível de doses, para correr contra o tempo, na busca de vacinas para a proteção dos brasileiros.

Nessa questão da vacinação, não valem as comparações do Brasil com outros países para tentar justificar que há progresso enorme em relação a determinada nação, para se dizer que há países em situação pior, sim, mesmo porque o país precisa olhar para os bons exemplos dos países que tiveram o cuidado de se antecipar na compra de vacinas e ainda correram para o começo da imunização ainda no ano passado, enquanto o país tupiniquim somente iniciou a imunização um mês depois, interregno esse que poderia ter evitado muitas mortes, à vista das drásticas estatísticas de mais de 425 mil mortes causadas pela Covid-19, muitas das quais atribuíveis à conta da negligência, que não se tem como provar em contrário, para se imiscuir de responsabilidades e culpabilidades.

A verdade é que os atrasos na imunização são visíveis a olho nu e o Brasil não serve, de maneira alguma, de bom exemplo com relação aos devidos cuidados quanto ao seu dever de cuidar e proteger a vida dos brasileiros, precisamente porque há sim meses atrasados na imunização, diante da incompetência gerencial referente à aquisição de vacinas, que estão sendo distribuídas à conta gotas aos Estados, que até chegaram a interromper a campanha, justamente por falta de doses.

O trabalho da CPI da Covid é da maior importância para o país, porque ele poderá mostrar os erros e os acertos do governo, no seu desempenho à frente do combate à pandemia do coronavírus.

Nesse caso da imunização dos brasileiros, é de suma importância que os responsáveis pelo atraso na vacinação sejam apontados, para possibilitar que eles apresentem as devidas justificativas para tamanho desastre, com repercussões extremamente negativas, em termos humanitários, como forma de respeito às famílias que perderam seus entes preciosos para a doença e choram diante de possíveis incompetência gerencial, pelo descaso nas negociações referentes à compra de vacinas, que exigiam prioridade por parte do governo.

Brasília, em 14 de maio de 2021

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