sexta-feira, 25 de junho de 2021

A insensatez

       Em visita ao Rio Grande do Norte, nesta última quinta-feira, o presidente da República abaixou, evidentemente com suas mãos, a máscara de proteção contra a Covid-19 de uma criança de aproximadamente cinco anos, que foi colocada em seu colo, para tirar uma foto, em plena aglomeração que integrava, sem a obrigatoriedade do uso de máscara.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que o chefe do executivo pega o garoto para tirar a foto em meio, como referido, à aglomeração de apoiadores.

Pouco antes desse ato, o presidente já havia se envolvido em outra polêmica de igual teor, a respeito do uso de máscaras, quando, durante a sua visita à cidade de Jucurutu/RN, ele pediu para que uma criança, de 10 anos, tirasse a máscara.

Não há a menor dúvida de que, só a atitude de o próprio presidente do país ser contumaz desrespeitador das orientações preventivas sobre o uso da máscara, com maior necessidade em aglomerações que ele é obrigado a participar, já representa enorme e censurável atrevimento à dignidade humana, quanto mais ainda de ele abaixar a máscara de criança indefesa, fato este que constitui o extremo da insensatez, que merece veemente repúdio da sociedade.

Essa forma de comportamento do presidente, em posição e reafirmação de completa rebeldia às normas preventivas contra a Covid-19, tem o condão de confirmar o quanto a sua índole é bem reduzida, quanto ao sentido da compreensão sobre os princípios cívicos da sensibilidade e da responsabilidade, mas especificamente no que diz ao respeito à integridade da vida do ser humano, porque o uso de máscara faz parte da cesta básica recomendada para a proteção à saúde e todos precisam compreender a necessidade sobre a imperiosidade do cumprimento das orientações preventivas, precisamente em tempos especiais de pandemia do coronavírus.

O presidente, como autoridade máxima da nação, tem o dever primacial de dar o exemplo sobre a fiel observância das regras emanadas pelo próprio governo comandado por ele, mesmo que não esteja confortável com elas, mas o seu importante compromisso de estadista impõe condição especial de ser modelo em tudo, inclusive em se tratando de normas impostas à sociedade, que precisa se aferrar a elas, para o seu próprio bem.

Quando o presidente do país se mostra arredio ao cumprimento de regras que são obrigatórias para a sociedade, o sentimento que se tem não pode ser outro senão de desinteresse pela causa, em clara demonstração do verdadeiro tanto faz, dando a entender que ele não está nem aí para as consequências, que é exatamente isso que ele vem evidenciando, em reiteradas confirmações, quando seu sentimento é de plena indiferença ao abaixar a máscara de uma criança alheia ao perigo de ficar sem proteção contra o perverso vírus e o pior é que ele não assume nenhuma responsabilidade por seu ato impensado e recriminável, à luz dos princípios humanitários.

Na verdade, todo desmazelo que se atribui ao presidente pode ter também parcela importante de culpa de brasileiros, por acorrerem ao encontra dele, para apoiá-lo e aplaudi-lo, mesmo ao meio de aglomerações perigosas, com relação à falta de segurança e de proteção contra a Covid-19.

         Isso significa dizer que, se os brasileiros não comparecem nos locais onde o presidente visita, muitos dos erros praticados por ele, a exemplo desse de se descer a máscara de nariz de criança, seriam evitados, para o bem dos brasileiros, que não corriam o risco de contaminação.

A verdade nua e crua é que tanto o presidente do país como os seus ingênuos apoiadores, por fingirem continuamente a aceitação das estultices disseminadas Brasil afora por ele, conforme mostra o insensato episódio em comento, estão na contramão da realidade da vida, que precisa ser encarada com muita seriedade, sensibilidade e responsabilidade, com o firme compromisso de assegurar o bem-estar da sociedade e evitar riscos desnecessários aos brasileiros.

Enfim, cada povo tem o governo que merece e, no momento, o nobre cidadão que se encontra como presidente do Brasil foi eleito democraticamente pelo sufrágio universal, tendo o direito de fazer o que bem quiser, segundo o seu talante, e não será por meio de protesto ou repúdio que se conserta o pau que nasceu torto, na versão do dito popular.

Cabe aos brasileiros sensatos e cônscios acerca das suas responsabilidades cívica e patriótica se conscientizarem realmente sobre a escolha de seus representantes, de modo que o perfil deles possa preponderar, ao menos, com o perfeito sentimento  em sintonia com o essencial respeito aos princípios da sensibilidade, da razoabilidade, da competência e da responsabilidade, a par de que eles sejam capazes de priorizar os preciosos valores humanitários, que estão muito acima de outros interesses, por mais importantes que sejam.

          Brasília, em 25 de junho de 2021

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