Em momento de visível
desequilíbrio emocional, em verdadeiro estado de fúria extremamente injustificável,
o presidente da República cresceu em agressividade além da irracionalidade,
quando agrediu, aos berros, uma jornalista da emissora televisiva que ele faz
questão de digladiar diuturnamente com ela, por motivos aparentemente pessoais.
Em cena absolutamente desnecessária, o presidente do país, completamente
descontrolado e ainda de forma bisonha e enfática, protagonizou, ontem,
certamente, espetáculo mais vergonhoso e deplorável da República, quando ele, bastante
enfurecido e investido da forma mais deprimente de tirania, mandou a repórter “calar
a boca”, atitude que somente ocorre em regime ditatorial, diante de situação
de absoluta normalidade.
O aludido e triste episódio revela cristalino desrespeito ao ser humano trabalhador,
que apenas fazia pergunta em estrito cumprimento do seu dever normal do ganha pão
nosso de cada dia, ficando pateteada ali, caindo por terra, a falácia de “Deus
acima de tudo”, porque quem fala em nome Dele, seria absolutamente incapaz de
tratar as pessoas com tamanha monstruosidade, mesmo porque os monstros, que são
absolutamente irracionais, seriam incapazes de protagonizar momento com tamanha
ridicularização ao seu semelhante, à vista da mediocridade do ato em si, como
prova de péssimo modelo vindo de relevante homem público.
Ainda em demonstração de gravíssimo comportamento de homem público, o
presidente do país aproveitou o ensejo para destilar seu veneno contra emissora
televisiva da sua antipatia, ao ofendê-la por meio de palavrões como de “merdas”
e de “canalhas”, deixando claro que é da sua escolha usar máscara, tendo dito
que “vou aonde quiser e como quiser”, em demonstração de incômodo com as
perguntas da repórter, que não merecia nenhuma agressividade, no plano da
civilidade.
Diante da atitude nitidamente descontrolada do presidente do país, a
Associação Brasileira de Imprensa emitiu nota de repúdio à atitude dele, tendo escrito,
verbis: " Descontrolado, perturbado, louco, exaltado,
irritadiço, irascível, amalucado, alucinado, desvairado, enlouquecido,
tresloucado. Qualquer uma destas expressões poderia ser usada para classificar
o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, insultando
jornalistas da TV Globo e da CNN.".
A ABI disse também “Que o presidente nunca apreciou uma imprensa
livre e crítica, é mais do que sabido. Mas, a cada dia, ele vai subindo o tom
perigosamente. Pouco falta para que agrida fisicamente algum jornalista.”.
Em conclusão, a entidade representante dos jornalistas disse que, “Diante
desse quadro, com a autoridade de seus 113 anos de luta pela democracia, a ABI
reitera sua posição a favor do impeachment do presidente. E reafirma que,
decididamente, ele não tem condições de governar o Brasil.”.
À toda evidência, o início de semana não poderia ter sido tão enuviado
com essa página ensombrada de pura manifestação de desamor, vinda logo de quem
foi eleito por brasileiros para a realização de saudáveis mudanças para a nação,
precisamente em sintonia com as metas disseminadas no seu programa de governo, de
onde se vislumbrava, entre muitíssimas bondades novas, o amplitude de respeito
aos princípios humanos.
As manifestações do presidente brasileiro expressam grosserias que não
condizem com esse benfazejo sentimento de mudanças, que objetivava, entre
muitas coisas boas, também a pacificação e a união dos brasileiros para, com o
entrelaçamento das mãos, fomentar a construção do desenvolvimento do país.
Não obstante, a maneira extremamente agressiva de tratamento eleita por
ele mostra o seu inconformismo com o status quo, onde a mera presença de
repórter de televisão da sua inimizade consegue desestabilizá-lo emocionalmente,
por completo, a ponto de causar nele sentimentos de autêntica irracionalidade,
quando, exatamente o contrário, se exige do estadista os melhores ensinamentos
de tolerância, compreensão e capacidade para a consolidação da harmonia entre
os brasileiros.
Impende ficar muito claro que o sentimento de ojeriza existencial do íntimo
do presidente do país contra emissoras de televisão ou a imprensa, conforme o
caso, é algo que precisa ser caracterizado como de natureza pessoal, em
decorrência de alguma divergência demandada por estrito interesse particular, o
que significa a compreensão racional e natural que essa visível forma de
desentendimento jamais deveria influenciar o estadista contra os meios de
comunicação, potencializado em nome do Estado, que é exatamente o que ele vem fazendo
de maneira errada, fato este que evidencia brutal inconformismo com o
ordenamento jurídico pátrio.
Ou seja, e preciso distinguir claramente os assuntos pessoais e os de
Estado, os quais devem ser tratados em esferas e vias específicas, sem
necessidade alguma, à luz do bom senso e da racionalidade, de a sua exposição vir
a público, em especial porque essa briga ferrenha entre o presidente e parte da
imprensa somente diz respeito ao interesse exclusivo dele, não convindo que
eles sejam do conhecimento dos brasileiros.
Enfim, a nítida impressão que se tem é a de que o presidente do país
confunde o interesse público com o privado, quando deveria ter exclusiva consciência
de que os assuntos pessoais devem ser tratados independentemente do lado do Estado,
como forma de preservação do interesse e da coisa públicos, como fazem
normalmente os países evoluídos, em termos políticos e democráticos.
Causa perplexidade que o presidente brasileira não manifeste a menor
preocupação diante dos inúmeros pedidos do seu afastamento, sempre que
protagoniza ato dissonante da normalidade democrática e republicana, como esse
último.
Na realidade, o apelo da sociedade por seu impeachment sinaliza
precisamente sobre a conveniência de ele procurar se policiar, no sentido de
seguir a cartilha do politicamente correto, mas, com fidelidade aos seus
princípios, cada vez mais ele faz questão de mostrar quem manda no Brasil, só
que à sua maneira desastrada e impulsiva, ao estilo da condenável tirania, na
forma da que foi protagonizada por ele ontem.
Os brasileiros anseiam por que o presidente da República possa, o mais
rapidamente possível, refletir sobre a sua atitude nada republicana e
democrática, na forma reprovável como ele se expôs diante de repórteres, de
modo que, doravante, o seu relacionamento com a sociedade, inclusive com os
profissionais de comunicação, precisa ser reciclado e aperfeiçoado ao nível da
racionalidade e da compreensão normalmente exigidas dos estadistas cônscios da necessária
obrigação de respeitar os salutares princípios humanitários e de cidadania.
Brasília, em 22 de junho de 2021
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