terça-feira, 22 de junho de 2021

Irracionalidade?

Em momento de visível desequilíbrio emocional, em verdadeiro estado de fúria extremamente injustificável, o presidente da República cresceu em agressividade além da irracionalidade, quando agrediu, aos berros, uma jornalista da emissora televisiva que ele faz questão de digladiar diuturnamente com ela, por motivos aparentemente pessoais.

Em cena absolutamente desnecessária, o presidente do país, completamente descontrolado e ainda de forma bisonha e enfática, protagonizou, ontem, certamente, espetáculo mais vergonhoso e deplorável da República, quando ele, bastante enfurecido e investido da forma mais deprimente de tirania, mandou a repórter “calar a boca”, atitude que somente ocorre em regime ditatorial, diante de situação de absoluta normalidade.

O aludido e triste episódio revela cristalino desrespeito ao ser humano trabalhador, que apenas fazia pergunta em estrito cumprimento do seu dever normal do ganha pão nosso de cada dia, ficando pateteada ali, caindo por terra, a falácia de “Deus acima de tudo”, porque quem fala em nome Dele, seria absolutamente incapaz de tratar as pessoas com tamanha monstruosidade, mesmo porque os monstros, que são absolutamente irracionais, seriam incapazes de protagonizar momento com tamanha ridicularização ao seu semelhante, à vista da mediocridade do ato em si, como prova de péssimo modelo vindo de relevante homem público.

Ainda em demonstração de gravíssimo comportamento de homem público, o presidente do país aproveitou o ensejo para destilar seu veneno contra emissora televisiva da sua antipatia, ao ofendê-la por meio de palavrões como de “merdas” e de “canalhas”, deixando claro que é da sua escolha usar máscara, tendo dito que “vou aonde quiser e como quiser”, em demonstração de incômodo com as perguntas da repórter, que não merecia nenhuma agressividade, no plano da civilidade.

Diante da atitude nitidamente descontrolada do presidente do país, a Associação Brasileira de Imprensa emitiu nota de repúdio à atitude dele, tendo escrito, verbis: " Descontrolado, perturbado, louco, exaltado, irritadiço, irascível, amalucado, alucinado, desvairado, enlouquecido, tresloucado. Qualquer uma destas expressões poderia ser usada para classificar o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, insultando jornalistas da TV Globo e da CNN.".

A ABI disse também “Que o presidente nunca apreciou uma imprensa livre e crítica, é mais do que sabido. Mas, a cada dia, ele vai subindo o tom perigosamente. Pouco falta para que agrida fisicamente algum jornalista.”.

Em conclusão, a entidade representante dos jornalistas disse que, “Diante desse quadro, com a autoridade de seus 113 anos de luta pela democracia, a ABI reitera sua posição a favor do impeachment do presidente. E reafirma que, decididamente, ele não tem condições de governar o Brasil.”.

À toda evidência, o início de semana não poderia ter sido tão enuviado com essa página ensombrada de pura manifestação de desamor, vinda logo de quem foi eleito por brasileiros para a realização de saudáveis mudanças para a nação, precisamente em sintonia com as metas disseminadas no seu programa de governo, de onde se vislumbrava, entre muitíssimas bondades novas, o amplitude de respeito aos princípios humanos.

As manifestações do presidente brasileiro expressam grosserias que não condizem com esse benfazejo sentimento de mudanças, que objetivava, entre muitas coisas boas, também a pacificação e a união dos brasileiros para, com o entrelaçamento das mãos, fomentar a construção do desenvolvimento do país.

Não obstante, a maneira extremamente agressiva de tratamento eleita por ele mostra o seu inconformismo com o status quo, onde a mera presença de repórter de televisão da sua inimizade consegue desestabilizá-lo emocionalmente, por completo, a ponto de causar nele sentimentos de autêntica irracionalidade, quando, exatamente o contrário, se exige do estadista os melhores ensinamentos de tolerância, compreensão e capacidade para a consolidação da harmonia entre os brasileiros.

Impende ficar muito claro que o sentimento de ojeriza existencial do íntimo do presidente do país contra emissoras de televisão ou a imprensa, conforme o caso, é algo que precisa ser caracterizado como de natureza pessoal, em decorrência de alguma divergência demandada por estrito interesse particular, o que significa a compreensão racional e natural que essa visível forma de desentendimento jamais deveria influenciar o estadista contra os meios de comunicação, potencializado em nome do Estado, que é exatamente o que ele vem fazendo de maneira errada, fato este que evidencia brutal inconformismo com o ordenamento jurídico pátrio.

Ou seja, e preciso distinguir claramente os assuntos pessoais e os de Estado, os quais devem ser tratados em esferas e vias específicas, sem necessidade alguma, à luz do bom senso e da racionalidade, de a sua exposição vir a público, em especial porque essa briga ferrenha entre o presidente e parte da imprensa somente diz respeito ao interesse exclusivo dele, não convindo que eles sejam do conhecimento dos brasileiros.

Enfim, a nítida impressão que se tem é a de que o presidente do país confunde o interesse público com o privado, quando deveria ter exclusiva consciência de que os assuntos pessoais devem ser tratados independentemente do lado do Estado, como forma de preservação do interesse e da coisa públicos, como fazem normalmente os países evoluídos, em termos políticos e democráticos.

Causa perplexidade que o presidente brasileira não manifeste a menor preocupação diante dos inúmeros pedidos do seu afastamento, sempre que protagoniza ato dissonante da normalidade democrática e republicana, como esse último.

Na realidade, o apelo da sociedade por seu impeachment sinaliza precisamente sobre a conveniência de ele procurar se policiar, no sentido de seguir a cartilha do politicamente correto, mas, com fidelidade aos seus princípios, cada vez mais ele faz questão de mostrar quem manda no Brasil, só que à sua maneira desastrada e impulsiva, ao estilo da condenável tirania, na forma da que foi protagonizada por ele ontem.   

Os brasileiros anseiam por que o presidente da República possa, o mais rapidamente possível, refletir sobre a sua atitude nada republicana e democrática, na forma reprovável como ele se expôs diante de repórteres, de modo que, doravante, o seu relacionamento com a sociedade, inclusive com os profissionais de comunicação, precisa ser reciclado e aperfeiçoado ao nível da racionalidade e da compreensão normalmente exigidas dos estadistas cônscios da necessária obrigação de respeitar os salutares princípios humanitários e de cidadania.

          Brasília, em 22 de junho de 2021 

Nenhum comentário:

Postar um comentário